Carioca de 67 anos conhece o funk e vira a 'MC Véia'
Inicialmente, dona Leda, uma senhora de 67 anos, aparece com uma camiseta do Boston Celtics (time da NBA, a liga de basquete americana) e um boné colorido com a aba virada para o lado.
Depois, apresenta mais três peças de sua coleção: uma peruca rastafári, outra em estilo black power e óculos extravagantes semelhantes aos consagrados pelo personagem Zé Bonitinho.
Caracterizada dessa forma, Leda Maria Soares Ferreira incorpora a MC Véia, a funkeira da terceira idade.
Daniel Marenco/Folhapress | ||
Dona Leda, 67, viu de perto o funk carioca ao morar em uma comunidade em Cosmos, zona oeste do Rio |
"Mesmo que meu sucesso seja relâmpago e dure só um mês, já estou 100% realizada", diz dona Leda à Folha.
A fama citada por ela consiste em 93 mil visualizações do clipe da música "Eu favelei" registrados no site Youtube até a tarde da última sexta-feira (21).
Dona Leda é a autora da canção, interpretada de forma serena, com uma voz fina que contrasta com as frenéticas batidas do funk.
Entre suas referências musicais, dona Leda cita Angela Maria, estrela da Era do Rádio, junto com as funkeiras Valeska Popozuda e Anitta. O funk foi uma descoberta mais recente em sua vida.
"Quando me mudei para [o bairro de] Cosmos, alguns vizinhos tocavam funk na maior altura. Naquele início, eu não gostava, ficava apavorada", lembra ela, que cita o refrão de sua música para justificar a mudança de hábito. "De tanto ouvir o funk, confesso, me amarrei. Sem caô, eu favelei!"
Dona Leda mudou para Cosmos, território marcado por pobreza e violência na zona oeste do Rio, em 2000. Lá, descobriu o novo ritmo.
Antes, morou por muitos anos em Bangu, onde trabalhava como professora de crianças do maternal. Tem uma filha, Michele, 35, do único casamento, que acabou em separação ainda na década de 1980.
fotografia: Daniel Marenco | edição: André Felipe e Thiago de Jesus
Assista ao vídeo em tablets e celulares
FUNK DA CONCUBINA
Dois anos atrás, ela resolveu falar sobre suas experiências passadas através da música. Compôs então o "Funk da Concubina".
"Quando perdi meu marido, fui vítima de um ataque da concubina. Daí surgiu meu primeiro funk", disse ela.
MC Véia tem duas músicas de seu repertório postadas no Youtube. Ela diz ter outras 15 canções engatilhadas.
Conta com a consultoria da filha e de seu produtor musical para definir os rumos da nova carreira.
"No início, ela não queria usar as roupas do clipe de jeito nenhum. Depois, conseguimos convencê-la de que seria engraçado e, por isso, chamaria a atenção", disse Fabio Anderson, produtor do clipe de "Eu favelei".
Ele acredita que, em um mercado dominado por cantoras classificadas como "popozudas", o trunfo da senhora funkeira seria a falta de concorrência em sua faixa etária: "MC Véia, só tem uma", afirma.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Acompanhe toda a cobertura dos blocos, festas e desfiles do Carnaval 2018, desde os preparativos
Tire as dúvidas sobre formas de contaminação, principais sintomas e o processo de imunização
Folha usa ferramenta on-line para acompanhar 118 promessas feitas por Doria em campanha