Sabesp diz que não indica corte de abastecimento em prédios
Responsável pelo abastecimento em São Paulo, a Sabesp diz que acompanha o consumo de água e dá aos condomínios dicas de como economizar. O racionamento nos prédios, no entanto, não faz parte das indicações feitas a síndicos.
O professor Jeferson dos Santos Siqueira, 46, síndico na Vila Nova Cachoeirinha (zona norte), descobriu da forma mais dura o quão impopular era essa medida.
Após receber técnicos da Sabesp no edifício de 66 apartamentos, que não tem medição individual de água, Siqueira anunciou um racionamento em cartazes espalhados pelo condomínio.
A suspensão do fornecimento de água seria feita cinco dias por semana, mas a ideia não foi adiante.
"Fui ameaçado por condôminos. Recebi dentro da minha casa moradores que disseram que, se eu cortasse a água, o caso ia parar na delegacia", conta ele.
"Para minimizar a intimidação e não bater de frente com esse tipo de gente, deixei para lá. Agora, se acabar a água, acabou", afirma o síndico, lavando as mãos.
HIDRÔMETROS
Como cerca de 26% da água na cidade de São Paulo é consumida pelos condomínios e apenas 1% deles tem hidrômetro individual, a Sabesp diz estimular a instalação desses medidores.
Cansada de reclamações sobre o valor da conta de água, a dentista Paula Bardal, 31, está pronta para propor a medida na próxima assembleia do prédio.
Síndica de um edifício em Ermelino Matarazzo (zona leste da capital paulista), ela rejeita a ideia de adotar racionamento, mas pretende levar para a votação outro item controverso: a restrição do uso da piscina.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Contra a crise hídrica, a síndica Paula Bardal pretende começar um racionamento noturno no prédio e fechar a piscina |
Ela já está preparada para o mal-estar que a medida deve causar:"Sozinha, não faço milagres, e a maioria não ajuda, só sabe reclamar."
No mesmo prédio, a auxiliar administrativa Tais Martins, 24, diz que apoia a restrição ao uso da piscina.
Segundo ela, porém, vizinhos continuam a lavar as janelas com água, apesar de todos os avisos de economia. Uma moradora já foi até questionada sobre isso.
"Ela respondeu que não estava lavando, mas que a filha estava no banho há muito tempo e que era o vapor que estava molhando as janelas [nos andares de baixo]", diz.
BOM SENSO
Em todos os casos, diz Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP (Sindicato da Habitação), o bom senso deve imperar.
Em Higienópolis (região central de São Paulo), no prédio onde o racionamento voluntário de água foi parar na Justiça, a síndica que instituiu a medida e o morador que se sentiu prejudicado concordam em ao menos um ponto. Ambos garantem que, apesar da divergência, quando se encontrarem no elevador continuarão dizendo "bom dia".
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