'Perdi quase todo meu estoque', diz comerciante após alagamentos em SP
Comerciantes do centro de Itaquera, zona leste de São Paulo, dizem ter tido prejuízo de até R$ 30 mil com a enchente que atingiu a região na tarde desta quarta-feira (10).
Durante a forte chuva, que durou cerca de uma hora, o córrego Verde transbordou na região da avenida Campanella –uma das vias principais do bairro, ponto de comércio. Ruas próximas, como a Padre Viegas de Menezes, ficaram alagadas.
Segundo comerciantes, a água chegou a um metro e meio. "Perdi quase todo meu estoque", diz Naldo Rodrigues, 44, dono de uma loja de tênis. Ele estima um prejuízo de R$ 30 mil.
No início da noite, ele limpava sua loja com um rodo e jogava dezenas de pares de tênis estragados no lixo. "A água chegou no meu peito."
Para fugir da água, o comerciante Aldo Lucena, 45, precisou subir no balcão de sua lanchonete. "Perdi geladeira, máquina de crepe, freezer, salgados", enumera. "Uns R$ 12 mil de prejuízo, no mínimo. Era uma vez meu comércio...", lamenta.
As enchentes na região são frequentes, dizem moradores e comerciantes. Tanto que lojas e casas da rua Padre Viegas de Menezes têm comportas na frente ou foram construídos acima do nível do asfalto.
"A gente constrói assim [acima do nível do asfalto] porque sofremos com essas enchentes há anos. Trabalho aqui há 10 anos, todo prefeito vem, diz que vai resolver, e nada", conta José Renato de Jesus, 42, proprietário de um bar.
Para acessar seu estabelecimento é preciso subir uma escada de cerca de um metro, feita para evitar que a água chegue ao bar, em dias de enchente. "Hoje, não funcionou", diz Jesus.
No início da noite, a rua padre Viegas de Menezes virou uma espécie de oficina a céu aberto: diversos motoristas tentavam fazer com que seus carros, arrastados pela enchente, voltassem a funcionar.
"Minha mãe veio pagar uma conta com meu carro. Aí choveu. Liguei a TV e vi o Marcelo Rezende [apresentador da TV Record] mostrando meu carro embaixo da água", conta o letrista Huang Rosa, 27, morador de Itaquera. Após a enchente, ele tentava religar seu Corsa vinho. Sem sucesso.
CHUVAS
As chuvas desta quarta-feira vieram do interior do Estado e atingiram a capital paulista por volta das 15h, quando a cidade começou a entrar, gradativamente, em estado de atenção, que foi mantido até às 18h30. A subprefeitura de Itaquera (zona leste) também ficou em alerta por uma hora e meia por conta do transbordamento do córrego Verde.
Com a chuva, a capital paulista registrou alagamentos em nove pontos da cidade e o trânsito ficou acima da média na maior parte da noite. O km 273 da rodovia Régis Bittencourt, em Taboão da Serra, no sentido São Paulo, também chegou a ser totalmente bloqueado por cerca de uma hora por conta de um alagamento.
Na quinta (11), o dia deve começar sol, mas áreas de instabilidade devem voltar a provocar chuvas no período da tarde. As temperaturas devem ficar entre os 19ºC e os 24ºC.
RESERVATÓRIOS
A chuva também atingiu os reservatórios Cantareira e Alto Tietê. As represas, que são responsáveis pelo abastecimento da Grande São Paulo, estão em níveis críticos, com 7,6% e 4,4% de sua capacidade, respectivamente.
Segundo o CGE (Centro de Gerenciamento de Emergência), da prefeitura, a precipitação registrada nos dois reservatórios foi "significativa". No Cantareira, as chuvas chegaram a ser fortes e atingiram diferentes pontos. Já no Alto Tietê, elas variaram de leve a moderada, atingindo toda a bacia.
O total de chuva captado só deve ser divulgado pela Sabesp na quinta-feira (11) assim como os dados que confirmarão se houve aumento no volume armazenado. Na terça (9), por exemplo, as chuvas não foram suficientes para evitar novas quedas.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) já afirmou que a Sabesp já encaminhou ao Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo) o pedido de autorização para o uso do volume morto –água abaixo das bombas de captação– do sistema Alto Tietê.
O Cantareira, que tem tido destaque no tratamento da Sabesp, já foi autorizado a utilizar duas cotas de seu volume morto. Se a intensidade de chuvas não aumentar muito até março, a governo estadual ainda terá em 2015 a possibilidade de recorrer à água da terceira cota do volume morto -se a manobra for aprovada por órgãos responsáveis.
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