Ex-chefe de UPP teria pago moradores para mentir no caso Amarildo
O Ministério Público do Rio e a Auditoria Militar denunciaram por crime militar quatro policiais militares envolvidos no desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, em 2013, na favela da Rocinha (zona sul). O documento foi enviado à Justiça Militar esta semana.
Os policiais são acusados de corrupção ativa de duas testemunhas na investigação do sumiço do morador. De acordo com a denúncia, os policiais teriam pago propina para que as testemunhas acusassem o traficante Thiago da Silva Neris, conhecido como Catatau, pela morte de Amarildo.
Ainda durante a investigação, porém, as testemunhas admitiram à promotoria que receberam dinheiro dos policiais. Entre os acusados está o ex-comandante da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha major Edson Raimundo dos Santos.
Segundo a promotoria, além de fraldas descartáveis, os PMs teriam pago R$ 850 e R$ 500 para as testemunhas mentirem nos depoimentos. 'É mais uma fraude montada pelo major Edson e o tenente Medeiros [ex-subcomandante da UPP] que foi desconstruída', afirmou a promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, responsável pela investigação.
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O pedreiro Amarildo Souza, desaparecido na favela da Rocinha |
O Ministério Público informou ainda que uma das testemunhas –Lucia Helena– está desaparecida desde agosto. A filha dela registrou a ocorrência na Delegacia de Homicídios do Rio.
'Ela prestou depoimento dizendo que havia mentido a pedido do major Edson, mas não podemos afirmar que as duas coisas têm relação. Só posso afirmar que ela está desaparecida', disse a promotora, destacando que Lucia Helena estava no programa de Proteção à Testemunha e a polícia havia providenciado a sua mudança de residência. Logo após admitir que recebeu propina dos policiais, Helena disse à promotoria que um dos soldados envolvidos no caso foi até no seu trabalho na Barra da Tijuca, zona oeste, para coagi-la.
A promotoria pediu as prisões do major Edson Santos e do tenente Luiz Felipe de Medeiros, na época comandante e subcomandante da UPP, respectivamente. Ambos já estão detidos cautelarmente. Foram denunciados pelo mesmo crime –os soldados Newland de Oliveira e Silva Junior e Bruno Medeiros Athanasio.
NOVO LAUDO
Além disso, um novo laudo pericial de exame de voz, produzido pelo próprio Centro de Criminalística da PM concluiu que a voz que se fez passar pelo traficante Catatau assumindo a autoria da morte de Amarildo é do policial militar Marlon Campos Reis, réu no processo criminal do caso.
Na ligação grampeada pela polícia durante uma operação que investigava o tráfico local, Reis faz ameaças e diz que já 'botou o Boi (apelido de Amarildo) na sua conta'. Ele conversa com um informante da PM. "Justamente porque ele sabia que o telefone [desse informante] estava grampeado", explicou a promotora.
O novo laudo reforça as provas que já haviam sido apresentadas pelo Ministério Público no início do ano. A Folha tentou localizar os advogados dos PMs denunciados, mas eles não foram encontrados até a publicação desta reportagem.
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