Depoimento
Na Alemanha, ciclistas não são tratados como extraterrestres
Neste momento me parece claro: é loucura andar de bicicleta em São Paulo. Estou na avenida Brasil, os carros estão me empurrando para o meio-fio, um ônibus quase me toca. É perigoso.
Em Berlim, onde moro, quase sempre vou aos lugares de bicicleta e, na maioria das vezes, chego mais rápido do que se fosse de transporte público, de táxi ou de carro. Tentei fazer o mesmo aqui.
Parti da sede da Folha, em Campos Elíseos, no centro de São Paulo, para almoçar com um amigo perto da avenida Brigadeiro Faria Lima, em Pinheiros, zona oeste.
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
O repórter Sebastian Erb testa a ciclovia da Paulista antes da inauguração; ele também pedalou por outras ruas movimentadas da cidade |
O primeiro trecho é na ciclovia, que é boa. Mas, de repente, a faixa vermelha desaparece. Isso aconteceu várias vezes durante meu roteiro, um problema sério.
Procurando uma rota no Google Maps, rapidamente percebo que o sistema ainda é repleto de falhas. Envia-me na contramão em uma rua de sentido único e, em seguida, para uma de mão dupla. Entro na faixa exclusiva de ônibus e me pergunto se posso estar ali. O ônibus atrás de mim parece discordar.
Chego à avenida Brasil, que tem espaços de espera para motos e bicicletas nos semáforos, mas não eles ajudam muito e é quase impossível alcançá-los. Fujo pela calçada.
As ciclovias têm uma desvantagem: com elas, o resto das ruas parece proibido para o ciclista. No território dos automóveis, intrusos são tratados sem misericórdia.
Na Alemanha nem tudo é perfeito, mas há uma diferença importante: lá, os ciclistas não são extraterrestres, mas usuários normais das ruas. Eles têm de ser respeitados. Pode ser que aqui os ciclistas também tenham direitos em alguma lei -só que na rua você não vê nada disso.
Ao chegar na avenida Paulista, por fim, sinto que é impossível pedalar ali. Então, vou pela ciclovia no canteiro central, que vai ser inaugurada neste domingo (28).
No coração da metrópole, apesar de ser preciso tomar cuidado com os carros que vêm das transversais, é lindo ir de bicicleta com mais segurança ao longo da avenida, admirando os arranha-céus.
Para que seja assim em toda a cidade, são necessárias não somente melhorias na infraestrutura, como mudanças na cultura da população.
SEBASTIAN ERB é jornalista do jornal "Taz" de Berlim, Alemanha. Ele está passando dois meses em São Paulo.
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