'A prefeitura precisa dialogar antes de fechar', diz vice de associação da av. Paulista
A associação que reúne empresas e comerciantes locais vê com ressalvas o fechamento da avenida Paulista todos os domingos.
Há 19 dias, a Prefeitura de São Paulo fez um teste durante a inauguração da ciclovia no cartão-postal da cidade.
Ex-presidente e atual vice da Associação Paulista Viva, Antonio Carlos Franchini, 62, diz que a pouca estrutura, possíveis prejuízos econômicos e falta de diálogo com a prefeitura estão entre os entraves que precisam ser resolvidos.
Leia trechos da entrevista:
Moacyr Lopes Junior/Folhapress | ||
Antonio Carlos Franchini, na sede de sua produtora de vídeo |
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Folha - Qual foi o impacto do fechamento da Paulista?
Antonio Carlos Franchini - Fizemos uma reunião há dez dias, e um representante do Clube Homs disse que alguns eventos naquele dia não puderam ser realizados. A questão tem que ser avaliada com o setor de hotelaria, restaurantes, shoppings...
Esses setores e a associação foram chamados a dialogar com a prefeitura?
Especificamente, a associação, não. Esses outros setores não posso responder.
Acha que faltou interação com a prefeitura?
Talvez venha até a acontecer [a conversa]. Acredito que as áreas da prefeitura que estão atuando nisso vão fazer. É o caminho que agente espera hoje no Brasil, o do diálogo.
A associação defende ou é contrária ao fechamento da avenida aos domingos?
A gente defende que a decisão seja tomada a partir de uma ampla discussão com os diversos setores econômicos que estão lá. Diálogo.
Acredito que esse tema é muito importante, construir ruas de lazer. Talvez possa também [ser levado para outros lugares, como] a Voluntários da Pátria, em Santana, porque aí as pessoas não vão precisar se deslocar para se divertir na Paulista.
Se isso não acontecer na cidade inteira, a Paulista está preparada para receber esse fluxo de pessoas?
Então vou te dizer: a Paulista tem dois banheiros. Nos parques Mário Covas e Trianon. Então, você veja, a cidade é tão desaparelhada...
A ciclovia foi aberta há 19 dias, qual a avaliação?
Acho que ainda não tem o fluxo que é esperado. É um processo em que a sociedade vai aprendendo a usar. Tem que se criar um mecanismo de educação, comunicação, orientação e regulação. Para que se perceba na sociedade que é um benefício para todos, para que a gente não crie as tribos, os 'a favor' e os 'contra'. A cidade não é feita assim. Temos que dialogar.
A Paulista recebe manifestações cada vez mais polarizadas. Como vê isso?
Nada polarizado pode dar certo. Você não pode ir para um confronto que rompe. Como a Paulista é um cenário de visibilidade, as pessoas vêm para cá.
O problema não é se a manifestação deve ser na Paulista. Se acontecer, o município e o Estado devem atuar de forma que cause o menor impacto à sociedade.
E a zeladoria na avenida?
Acho que tem problema, né? Tem moradores de rua que se deslocaram para lá. E o argumento deles é muito sério, eles também buscam segurança. O momento que vivemos é muito mais complexo. Por que o cara vem para a Paulista? Porque se sente seguro, porque tem policiamento, tem gente.
A nossa posição em relação a isso é que devemos ter uma ação estruturada de todos os poderes, a prefeitura, os seus órgãos de atendimento, o Estado no que se refere à saúde.
Qual o reflexo da presença dos camelôs por lá?
Afeta muito. Várias vezes ficou de sair uma portaria para regular isso.
Como deveria ser regulado?
Deveria definir pontos. Porque o artista de rua e o próprio comércio de produtos de rua tem que ser definido dentro de um perímetro. A cada cem metros, você tem que dizer: 'Olha, você vai ficar das 8h às 12h. Você vai entrar das 12h às 16h. Olha, você vai tocar saxofone às 16h...'
Qual o problema com a regulação atual?
A lei não ficou clara. O que é o artista de rua? Se a gente quer ser uma cidade moderna, tem que saber o ponto do cara, quem é ele. O que é artesanato? Camiseta que o cara compra no atacado e vai vender lá? CD? DVD, tocando a mais de 80 decibéis? Você não tem ideia, o cara que está no décimo andar sofre mais do que o que está passando.
A operação delegada [bico oficial da PM] ajuda?
Você tem até o policial andando lá, só que nessa missão de coibir, tem que ter o fiscal da prefeitura. Ele é que autua venda de produtos ilegais.
Costumam procurar a associação para reclamar?
Mandam e-mail, muitos. Tem histórias em que brigam com a gente, no bom sentido.
Que tipo de reclamação?
Por exemplo, que viu alguém fazer xixi na rua. Alguma coisa está muito errada para que aconteça isso.
A Paulista costumava ser uma exceção nesse sentido?
Nos últimos anos, os problemas têm se agravado. O que nós falávamos: se a Paulista é assim, a cidade toda tem que caminhar para isso. Não é ser elitista, mas se a calçada é boa na Paulista, tem que ser nos outros lugares.
E a cidade caminha para ser a Paulista ou o contrário?
Estou torcendo para que a Paulista possa ser a cidade.
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RAIO-X - Antonio C. Franchini
Idade
62
Formação
Economista pela Universidade Mackenzie
Profissão
Empresário
Cargo
Ex-presidente e atual vice da Associação Paulista Viva
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