É preciso adaptação contra mortes de ciclistas, diz especialista holandês
Gabriel Rosa/Prefeitura de Curitiba/Divulgação | ||
Pesquisadores holandeses Sjoerd van Tongeren e Maya van den Berg visitaram Curitiba na sexta (18) |
Para Sjoerd van Tongeren e Maya van den Berg, pesquisadores na área de inovação e urbanismo do Instituto de Inovação e Governança da Universidade de Twente, na Holanda, a implantação de ciclovias nas cidades brasileiras é "inevitável".
"A bicicleta não é uma opção política, mas de desenvolvimento", disse Tongeren, em entrevista à Folha.
Para ele, qualquer iniciativa no Brasil passará por "uma fase de transição", em que o número de acidentes pode aumentar –em São Paulo, houve duas mortes em ciclovias no último mês. "Mas não dá para manter a situação atual. É insustentável."
Tongeren e Berg estiveram no Brasil para assinar um acordo entre instituições holandesas e a cidade de Curitiba na área de ciclomobilidade, nesta sexta (18). Será aberto um escritório dedicado à pesquisa e desenvolvimento de projetos, que funcionará por cinco anos.
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ACIDENTES COM MORTE
É uma fase de transição. Numa cidade como São Paulo, se você introduz ciclovias em larga escala, as mortes primeiro vão aumentar, e depois vão diminuir. Isso não diz respeito à segurança a longo prazo. Sempre haverá um período de adaptação. Mas há formas de trabalhar isso. Por exemplo, reduzindo a velocidade dos carros ou com campanhas de educação no trânsito. Só a infraestrutura não é suficiente.
AÇÃO POLÍTICA
A bicicleta não é um tema político. É uma opção para o desenvolvimento sustentável, a saúde, o meio ambiente. Em São Paulo, se você fizer da mobilidade uma questão unicamente política, haverá a chance de que, na próxima eleição, tudo o que foi implantado mude completamente. E ninguém quer isso.
CIDADE INTELIGENTE
Não dá para manter a situação atual. É insustentável. Senão, vamos acabar criando uma nova Los Angeles. Seremos confrontados com o estresse do trânsito, poluição, problemas de energia, custo. Todos querem uma cidade atrativa para as pessoas, com qualidade de vida, sustentável, ecológica. E o "slow traffic" [tráfego calmo] é um dos principais fatores para isso.
GUERRA DE VERSÕES
A implantação de ciclovias não deveria ser uma guerra, em São Paulo ou em qualquer outra cidade. É preciso ouvir a população. E não se pode mudar as coisas mais rápido do que as pessoas desejam ou podem mudar. Senão, você terá que voltar cinco passos, para depois seguir em frente novamente. É preciso chamar a população beneficiada para participar do planejamento, dar sugestões. É o que fazemos na Holanda; um esforço conjunto.
CARROS A 40 KM/H
Reduzir a velocidade dos carros [como em São Paulo e Curitiba] é uma combinação necessária às ciclovias. Faz parte de uma mudança de mentalidade, de entender que a via precisa ser compartilhada, criar respeito entre pedestres, ciclistas e motoristas. É preciso mudar a forma como as pessoas dirigem. O "slow traffic" é o futuro.
HOLANDA
Crianças de nove anos na Holanda prestam um exame para serem habilitadas a andar de bicicleta nas ruas. Há multas para quem desobedece às regras, como não usar a via adequada ou andar sem luz à noite. É um processo que começa cedo. Lá, a bicicleta faz parte da cultura. O tráfego é separado. As próprias ciclovias têm faixas diferentes de acordo com a velocidade, com ciclovias "highway". Não se pode simplesmente copiar a Holanda no Brasil. Mas nós vemos possibilidades para trabalhar.
CURITIBA
Escolhemos Curitiba por causa do "brilho nos olhos". Todo mundo tem interesse em mudar as coisas. Falamos com o prefeito, reitores das universidades. Você vê gente nova querendo mudar.
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