Indicação de ex-diretor de manicômio para Saúde foi 'neutra', diz ministro
Em meio à polêmica sobre a indicação de um ex-gestor de um manicômio para o cargo de coordenador nacional da política de saúde mental, o ministro da Saúde, Marcelo Castro, disse nesta terça-feira (15) que não pretende rever a decisão.
Nesta segunda-feira (14), a indicação do psiquiatra Valencius Wurch Duarte Filho foi alvo de protestos em unidades de saúde de todo o país.
O novo coordenador foi diretor técnico da Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi, o maior hospital psiquiátrico privado da América Latina, fechado em 2012 após longo processo na Justiça
Nos anos 2000, o hospital também foi alvo de denúncias de violações aos direitos humanos, como prática sistemática de eletroconvulsoterapia. A nomeação gerou reação de entidades e movimentos sociais, que temem retrocesso nas políticas de reforma psiquiátrica, que defende o tratamento ambulatorial.
Ana Carolina Fernandes-29.jun.2001/Folhapress | ||
Pacientes na antiga Casa de Saúde Dr. Eiras de Paracambi |
Para o ministro, as afirmações de que o novo coordenador é contrário à reforma psiquiátrica são "infundadas".
"Não é verdade. O projeto da reforma psiquiátrica inicialmente era muito radical. E o Valencius foi contra, assim como grande parte dos psiquiatras. Mas o que está em vigor é esse projeto? Não."
O ministro diz que a escolha ocorreu por conta própria -o novo coordenador foi aluno de Castro durante o internato em psiquiatria, na UFF (Universidade Federal Fluminense).
"Qual pessoa que estou botando? Uma pessoa absolutamente neutra, a favor da reforma, a favor da lei, justamente como eu sou", disse.
Questionado, Castro disse que a reforma psiquiátrica é "irreversível" e que não pretende mudar a política atualmente em vigor. "Eu iria descumprir uma lei por quê?", afirmou.
BALANÇO
Em seguida, porém, afirmou que pretende fazer um balanço das ações adotadas na área de saúde mental desde que a lei passou a valer para ver "o que funcionou e o que não funcionou bem" e assim, "aperfeiçoá-la" -o que dá margem a interpretações sobre uma possível flexibilização das ações.
"Psiquiatria é uma ciência. Vamos fazer tudo para não ficar numa posição radical. Hoje na psiquiatria temos dois grupos se digladiando. E isso não é bom para a saúde mental e o interesse do paciente. Se há alguma coisa de novo que pode haver, é um conteúdo mais científico", disse. A previsão é que o balanço esteja pronto em até seis meses.
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