Drone substitui 'pau de selfie' em fotos de família
Na praia, membros de uma família sorriem, se abraçam e olham para o céu. Parece um delírio coletivo, até que a chegada de um drone mostra que eles estão, na verdade, fazendo uma selfie. Ou melhor, um "dronie", como é chamado o novo tipo de autorretrato.
O drone é o novo "pau de selfie". É melhor –não salienta o braço esticado ou o bastão–, mas muito mais caro. O facilitador de autorretrato, que foi "o item" de 2014, custa de R$ 10 a R$ 20. Um drone chega a R$ 7 mil.
Mas, para os adeptos da tecnologia, vale a pena gastar mais. Quem trabalha com publicidade e tem drone aproveita para usá-lo também para o lazer, tirando selfies.
"Para onde vou, levo ele junto", diz o publicitário João Vitor Feitosa, 20, de Santa Cruz do Capibaribe (PE). Por R$ 5.500 ele comprou um drone que já vem com uma câmera acoplada.
Num churrasco no ano passado, ele e amigos pularam na piscina e, com um controle, fizeram o drone levantar voo e registrar o momento. "Vida de cinema a sua, né?", comentou uma amiga na foto postada em sua conta no Instagram. "Foi para tirar onda", responde Feitosa.
Ainda não há legislação para o uso de drones no Brasil. Uma portaria de 1999 estabelece regras para a operação de aeromodelos –a mais importante delas é que deve ser feita em locais "suficientemente distantes de áreas densamente povoadas".
O drone de Feitosa é usado no dia a dia para produzir imagens aéreas para os clientes de sua agência. É também nesse esquema que o publicitário Willian Gregio, 37, de Americana (127 km de SP) usa o seu, comprado há dois anos por R$ 7 mil.
Quando viaja, Gregio leva o equipamento para aperfeiçoar a fotografia, tomando cuidado com o vento e a chuva. "A moda das selfies já chegou no grupo que tem os drones. Mas não vai substituir as selfies feitas com celulares", diz. "Veio para agregar."
"Tem que pegar a manha", diz o relações-públicas Leonardo Araújo, 40, de Moreno (PE), que celebra ter tirado uma foto sua com a cidade inteira ao fundo. Ele comprou o equipamento por R$ 1.500 no ano passado.
VÍDEO E TUBARÕES
O conceito do "dronie" extrapola a mera fotografia. Costuma ser um vídeo, que começa registrando de perto quem controla o drone e se distancia, revelando uma paisagem ao redor.
Nos EUA, o "dronie" já é um gênero reconhecido e deve ser reforçado com as vendas do novo "Lily", equipamento que segue o dono para captar suas atividades –na pré-venda, custa US$ 899, cerca de R$ 3.311.
No festival dedicado só a filmes com drones, o New York City Drone Film Festival, o "dronie" tem a sua própria categoria. O "Shark Dronie" (dronie do tubarão), vídeo da produtora alemã Behind The Mask, ganhou a segunda edição do evento, neste mês.
O vídeo começa com um plano extenso do mar. Em seguida, a imagem vai afunilando. A câmera então entra na água e revela um mergulhador no fundo, rodeado por tubarões. Quando se aproxima de seu rosto, o homem faz a foto.
Nessa produção, o drone não mergulha de fato. É um bastão com a câmera na ponta, acoplado ao equipamento, que entra na água. Mas um controle remoto especial, à prova d'água, foi produzido só para o filme.
"Há uma polêmica de que o 'dronie' só vale quando a foto é registrada por quem aparece na imagem. Daí mandamos fazer um controle só para isso", explica o alemão Florian Fischer, 37, diretor do vídeo.
Para ele, a diferença entre a selfie e o "dronie" é que a primeira "é completamente ligada ao ego, já que quem tira a foto é protagonista de 60% a 80% da imagem".
Já a nova modalidade do autorretrato "é o contrário, porque quase só se vê o que está ao redor". "Mostra a relação do ser humano com o mundo e o quão pequenos somos nós", afirma.
Dronie que ganhou festival em Nova York
Outro ganhador do festival, este escolhido pelo público, o mexicano Tarsicio Sañudo diz que os drones são como "uma extensão do corpo, uma forma de expressão que permite contar mais histórias".
A que ele conta com seu vídeo é a do pedido de casamento que fez à noiva no golfo da Califórnia. O dronie mostra a comemoração do casal ficando pequenininha e então vai abrindo para o mar, que toma conta da tela.
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