Olimpíada faz Rio asfaltar acesso à praia; morador teme 'pista de corrida'
Arquivo pessoal | ||
Trecho da Estrada da Guanabara, em Grumari, foi asfaltada para competições de ciclismo da Olimpíada |
Às vésperas da Olimpíada, a Prefeitura do Rio de Janeiro trocou por asfalto os paralelepípedos da Estrada da Guanabara, via de acesso à praia de Grumari, uma das mais famosas na zona oeste.
O local, assim como outras vias à beira-mar, será palco de provas de ciclismo –tanto de estrada quanto de contrarrelógio– durante os Jogos.
Em janeiro de 2015, o presidente da UCI (União Ciclística Internacional), Brian Cookston, havia destacado que as provas de ciclismo de estrada e de contrarrelógio seriam desafiadoras e ofereceriam um "espetáculo fantástico" aos fãs da modalidade. Um dos motivos seriam os paralelepípedos na via.
Reprodução/Gloogle Street View | ||
Trecho da Estrada da Guanabara, em Grumari, antes de ser asfaltada para competições |
A mudança gerou indignação entre frequentadores da praia, inserida no Parque Natural Municipal do Grumari, unidade de conservação do município com área de cerca de 8 km². Para Alexandre Parná, vice-presidente da Associação dos Surfistas e Amigos da Prainha, praia contígua a Grumari, o asfalto colocará em risco a segurança dos banhistas e da fauna da região.
"Aqui não é uma avenida, é um parque natural. Os carros vão passar mais rápido [com a mudança]. Vamos brigar para que o asfalto seja retirado", diz.
O professor Alexandre Lobato, 49, que costuma andar de bicicleta pela estrada, foi uma das primeiras pessoas a denunciar nas redes sociais o asfaltamento da via. Desde a última quinta-feira (14), sua publicação já foi compartilhada por mais de mil internautas indignados.
Arquivo pessoal | ||
Trecho da Estrada da Guanabara, em Grumari, na zona oeste do Rio |
Apesar de reconhecer que andar de bicicleta na via ficou mais fácil com a mudança, Lobato diz que outras questões precisam ser levadas em conta. "É uma área de preservação ambiental, e todo mundo sabe que, quando se facilita o acesso, há uma invasão na área. Vai haver uma degradação ainda maior da região. Achei péssimo", diz.
O biólogo Mário Moscatelli, 52, conhecido por denunciar problemas ambientais da cidade, destaca que a região de Grumari é a última grande área de restinga do Rio e que os paralelepípedos foram colocados na via de acesso à praia com o objetivo de evitar que ela se tornasse uma "pista de corrida". "O asfaltamento da via com a única finalidade olímpica –mais uma vez, por um casuísmo momentâneo– acaba esquecendo toda a motivação anterior associada à segurança e à fauna", afirma.
Além de Grumari, na zona oeste, a prova de ciclismo de estrada vai passar pela Barra da Tijuca e pela praia da Reserva. Na zona sul, haverá provas em Copacabana e Ipanema. Também haverá um circuito em áreas da Floresta da Tijuca, maior floresta urbana do mundo.
OUTRO LADO
O Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio informou que o asfaltamento de 3 km de vias na região, desde o acesso a Grumari, é temporário. O objetivo, segundo o comitê, foi atender a questões técnicas, identificadas no evento-teste, privilegiando o ciclismo de estrada, em que a velocidade é a prioridade.
Destacaram, contudo, que os paralelepípedos serão mantidos em alguns trechos das provas de ciclismo. Porém, não informaram exatamente quais são eles.
A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos do Rio, responsável pelo asfaltamento, afirmou que o asfalto será retirado logo após o fim da Olimpíada. Questionada sobre o valor da obra, a secretaria informou que não é possível quantificá-lo porque "os serviços de asfaltamento foram executados com orçamento de rotina" da pasta.
A Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio de Janeiro, por sua vez, afirmou que o asfaltamento temporário foi autorizado para a realização da prova de ciclismo. O órgão destacou que, ao final dos Jogos, as camadas de asfalto devem ser retiradas em um prazo de 60 dias.
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