Pai de homem que estava em cárcere privado diz que ele queria ser trancado
O pai de Armando Bezerra de Andrade, 36, encontrado pela polícia na última quinta-feira (20) trancado em um quarto em uma casa no bairro dos Pimentas, em Guarulhos (Grande São Paulo), afirmou à Polícia Civil que o rapaz pediu para ficar preso no imóvel. Segundo ele, Armando é dependente de drogas, vivia na rua e voltou para casa há uma semana.
Segundo a polícia, Armando não estava acorrentado. Contudo, vizinhos disseram à reportagem que ele estava preso com correntes.
De acordo com a polícia, Amâncio de Andrade, cuja idade não foi divulgada, foi indiciado por cárcere privado e maus tratos. Vizinhos afirmam que Armando não era visto há anos. A polícia afirmou que ainda não sabe quanto tempo o rapaz ficou trancado no quarto.
No depoimento, Amâncio afirmou à polícia que o rapaz chegou em casa na segunda-feira da semana passada (17), por volta das 2h, dizendo que tinha voltado e precisava de ajuda.
De acordo com a polícia, o pai afirmou que Armando pediu para ficar preso no quarto, para não ter a tentação de voltar a consumir drogas. Amâncio negou que tenha mantido o filho em cárcere privado por anos.
Disse ainda que o filho não sumiu, como afirmam os vizinhos. Segundo o depoimento, Amâncio afirmou que quando o rapaz tinha 17 anos, em 1997, estava viciado em drogas e decidiu morar na rua. Depois disso, afirmou o pai à polícia, Armando nunca mais foi visto pela família até a semana passada.
Na quinta-feira, a polícia chegou por acaso à casa onde Armando estava. Policiais procuravam um suspeito de roubo e entraram no imóvel errado.
"Sentimos um forte cheiro e decidimos checar. Quando abrimos a porta, havia um rapaz lá que até então imaginávamos ser vítima do ladrão", afirma o delegado titular do 8º DP da cidade, Celso Marchiori.
O delegado diz que, ao entrar na casa, o cheiro de fezes e urina era insuportável. Os policiais resgataram Armando. Horas depois, o pai do rapaz foi à polícia, prestou depoimento e foi liberado. A madrasta e o filho dela também foram indiciados. Eles, assim como o pai do rapaz, não são considerados foragidos.
SAÚDE DEBILITADA
A Polícia Civil afirmou nesta segunda (24) que o rapaz estava debilitado quando foi encontrado na casa. Segundo o delegado Marchiori, ele não fala nada, apenas balança a cabeça, reagindo a perguntas, sempre respondidas afirmativamente.
"Perguntei se ele foi preso por um ano e ele disse que sim. Perguntei se ficou dez anos, e ele também disse que sim", afirmou Marchiori.
O rapaz não consegue conversar e explicar o que aconteceu durante o período em que ficou sumido. A polícia disse ainda que Armando estava magro e pálido, mas não tinha sinais de agressão. Vestia calça jeans, camiseta e jaqueta, e tinha a barba na altura do peito.
O delegado pediu que o rapaz seja submetido a testes toxicológicos, com o objetivo de determinar se Armando consumiu drogas, como disse o pai em depoimento.
Os exames são capazes de apontar o consumo de drogas em um período de mais de uma semana. De acordo com a polícia, os testes vão apontar ainda se a família mantinha o rapaz dopado com medicamentos.
Segundo Marchiori, a médica que atendeu Armando no hospital disse que o rapaz estava muito debilitado, mas ingeria água regularmente.
O rapaz está internado desde quinta-feira na ala psiquiátrica, segundo a Secretaria da Saúde de Guarulhos. Um policial civil e um vigilante do hospital fazem a proteção de Armando. Segundo o delegado, quando ele receber alta, a polícia vai buscá-lo.
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