Professor adapta instrumentos e 'reabilita' alunos para a música em SP
Zanone Fraissat/Folhapress | ||
Carlos Henrique Peixoto (ao centro) durante oficina musical; banda vai tocar marchinhas no Carnaval |
Encorajar pessoas que perderam funções motoras ou mesmo que tenham restrições intelectuais a acreditarem que podem tocar um instrumento musical, a fazer parte de uma banda de música e fazer apresentações. Essas são algumas das tarefas do professor Carlos Henrique Peixoto, 49.
As outras são ajudar a criar adaptações para que elas possam tocar o instrumento que tiverem afinidade e ensiná-las a dedilhar, batucar, soprar, sacudir de maneiras novas, não tradicionais.
"Às vezes, para que um aluno consiga tocar, é preciso mudar a função e o sentido de um instrumento a partir da habilidade que ele tem ou deixou de ter", afirma Peixoto, que é formado em música, licenciado em história e pós-graduado em psicopedagogia e arteterapia.
Atuando há dez anos na unidade da Rede Lucy Montoro da Lapa, na zona oeste paulistana, Peixoto precisa lidar com desafios cotidianos para fazer a inclusão musical, como o de fazer um paciente sem as mãos tocar um violão ou outro com severas limitações intelectuais e motoras a movimentar e fazer som com um carrilhão.
"Alguns vão usar a testa, outros vão precisar de um apoio no pé e também vai haver aquele que vamos precisar criar uma adaptação que atenda especificamente a uma necessidade, mas sempre é possível fazer", diz.
MARCHINHAS
No momento, a turma de Peixoto está ensaiando marchinhas de Carnaval que serão entoadas para os próprios pacientes do hospital.
A banda, com 14 integrantes, mistura pessoas com capacidades físicas e intelectuais distintas. "Não fazemos nem algo muito trivial nem algo muito complexo, opressor. O clima é de aprendizado, de conquista de avanços e de prazer por aprender. Mas nossas apresentações não são brincadeirinhas, são fruto de muito trabalho e têm qualidade."
Francisco Pereira Filho, 29, é um dos alunos da oficina de música de Peixoto. Baiano, ele seguiu para São Paulo tentar uma vida melhor. Acidentou-se em uma máquina na fábrica onde foi empregado poucos meses depois de começar. Perdeu a mão.
"Tocava violão lá no Nordeste com os amigos e tinha muita vontade de voltar a tocar, mas, sem a mão, achava que era impossível. Fiquei cinco anos parado. Aos poucos, fui reaprendendo. Tive de inverter as cordas para usar a mão esquerda e usar uma adaptação para dedilhar as cordas. Deu certo", afirma.
Os pacientes são encaminhados para as oficinas de música após concluírem seus processos de reabilitação.
Tocar os instrumentos é parte de um aperfeiçoamento da condição motora e social das pessoas, de acordo com Marli Watanabe, terapeuta ocupacional na Rede Lucy.
"Música é algo muito democrático, e as pessoas podem se apoderar dela do jeito que bem entenderem e puderem. Ver mudanças no emocional e mesmo nas capacidades dos meus alunos é o mais legal do meu trabalho", declara o professor.
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