Ministério estuda fracionar vacina de febre amarela para ampliar doses
Tomaz Silva - 17.mar.17/Agência Brasil | ||
Postos de saúde do Rio têm longas filas em busca da vacinação contra a febre amarela |
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, disse nesta quinta-feira (30) que a pasta já avalia a possibilidade de fracionar as doses da vacina contra febre amarela para atender ao aumento na procura da população pela imunização no país.
"Se há um fluxo muito grande [e se adotar o fracionamento], a ampola que hoje tem dez doses vai ser adicionada a um diluente e as doses serão aumentadas", afirma. Com fracionamento, cada dose pode ser fracionada para até cinco.
Outra possibilidade em análise, segundo o ministro, seria importar novas doses de produtores internacionais. O objetivo é ampliar os estoques e doses disponíveis neste ano da vacina, indicada para quem mora ou pretende viajar a regiões onde a imunização contra febre amarela é recomendada.
Segundo Barros, a medida já passou por análise dos conselhos municipais e estaduais de saúde e foi apresentada nesta quinta-feira ao presidente Michel Temer.
A decisão sobre a importação de novas doses ou fracionamento, no entanto, deve ser tomada após avaliação de qual a quantidade necessária de vacinas para atender a demanda atual. A previsão é que a decisão ocorra até terça-feira.
"Vamos aguardar a informação dos Estados para atender ao quantitativo de áreas que não estão em risco, e, dependendo do quantitativo, vamos adotar a importação ou o fracionamento de vacina", afirmou.
Questionado, o ministro nega que haja falta de vacinas para as regiões com maior risco de surto –desde o início do ano, a vacinação tem sido intensificada em Minas Gerais, Espírito Santo e em algumas áreas de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, locais onde foram registrados casos humanos ou morte de macacos com suspeita da doença.
O problema, segundo Barros, ocorre devido ao aumento da demanda fora dessas áreas de maior risco ou onde a vacina já era recomendada. Hoje, a vacinação contra a febre amarela é indicada como rotina em 3.529 municípios, de 19 Estados e Distrito Federal.
"Não há falta de vacina para as áreas de recomendação. Em toda a área de risco, onde há epizootia confirmada, a vacina está disponível. Mas o que existe, por conta da divulgação do problema [do surto de febre amarela em algumas regiões], são brasileiros que pedem voluntariamente para ser vacinados. Para esses casos é que estamos adotando essa nova estratégia", afirmou. "Estamos tratando de uma demanda espontânea que não está programada."
Ele cita o exemplo do Rio de Janeiro, onde os municípios, até então, não faziam parte da área de recomendação para vacina nos últimos anos e houve aumento na procura após a divulgação dos primeiros casos de febre amarela em Casimiro de Abreu, na baixada litorânea.
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, confirma a possibilidade. "Será estudado na próxima terça-feira se faremos o fracionamento das doses de vacina para poder atender a todos. Essa pessoa terá de ser revacinada depois de um ano. Mas será atendido para essa necessidade agora", afirma.
Desde o fim de dezembro de 2016, o Brasil soma 574 casos confirmados de febre amarela, incluindo 187 mortes. Destes, Minas Gerais responde por 74% dos casos, com 422 registros. Os demais ocorreram no Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro e Pará.
Há ainda outros 487 casos em investigação, distribuídos em 15 Estados. Na última semana, uma força-tarefa entre secretarias de saúde aumentou o número de Estados com casos em investigação. Também cresceu o número de casos descartados para febre amarela após exames.
PROTEÇÃO MENOR
Apesar de ser uma possibilidade em estudo, a decisão por fracionar a vacina, no entanto, enfrenta resistências.
Um dos motivos é a duração da proteção -segundo o ministro, uma vez diluída, a dose protegeria por apenas um ano. Já no modelo atual, essa proteção é estendida -após a primeira dose, a segunda é recomendada após dez anos. Diante do impasse, o Ministério avalia ofertar a dose comum, não fracionada, para crianças, gestantes e idosos (após avaliação médica, em áreas de risco) e pessoas que viajam para o exterior. Para os demais, a vacina deve ser fracionada. A medida será válida em todas as salas de vacinação do país.
Já o ponto positivo é a possibilidade de corresponder ao aumento da demanda atual para a vacinação de rotina, afirma. "Saiu da emergência, ninguém mais vai falar da vacina", disse.
O modelo de fracionamento já foi adotado por países como a Angola, que enfrentou um surto da doença em 2015, e tem a recomendação da OMS (Organização Mundial de Saúde).
'ALARDE DESNECESSÁRIO'
Para o ministro, existe um "alarde desnecessário" em relação ao surto de febre amarela, e que tem levado ao aumento da demanda.
"São pessoas que assistem na TV que está tendo febre amarela e vão à unidade de saúde. Isso não é previsível. Não há um planejamento possível para isso. Estamos buscando uma solução para ampliar o fornecimento de vacina para vacinação regular, para que os Estados possam atender essa demanda espontânea", afirma.
Ele ressalta o alerta para o risco de efeitos adversos caso a vacina seja aplicada a pessoas a quem é contraindicada, como pessoas imunodeprimidas (como pacientes oncológicos) e idosos, por exemplo.
MUDANÇAS NA POLÍTICA
Além da possibilidade de fracionamento para suprir a demanda deste ano, o Ministério da Saúde avalia mudanças na política de vacinação contra a febre amarela para 2018.
Um dos pontos em estudo, conforme a Folha divulgou, é a possibilidade de ofertar a vacina para as crianças a partir de 9 meses em todo o país, e não apenas para aquelas que hoje moram nas áreas onde a vacinação é recomendada.
Outra medida é a inclusão de novos Estados dentro dessas áreas de vacinação permanente –caso do Rio de Janeiro e Espírito Santo, por exemplo.
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