Descrição de chapéu Festa do Peão de Barretos

Fábrica de berrantes sobrevive em São Paulo apesar do 'sumiço' dos chifres

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Crédito: Gabriel Cabral/Folhapress Marciel em meio a chifres usados para fazer berrantes; ele e sua filha tocam fábrica centenária
Marciel em meio a chifres usados para fazer berrantes; ele e sua filha tocam fábrica centenária

MARCELO TOLEDO
DE RIBEIRÃO PRETO

O cenário já se repete há 104 anos, mas está cada vez mais difícil. Em uma pequena fábrica artesanal, nascem diariamente instrumentos que por décadas serviram para tocar boiada nos estradões do país e são um dos ícones do mundo caipira.

O objetivo de quem os compra hoje em dia, em sua maioria, é usar como decoração, mas ainda há quem o utilize no cotidiano do campo. De um jeito ou de outro, os berrantes se tornaram fonte de renda para a família Malaquias, que desde 1913 fabrica o produto o Itaim Paulista, na capital.

Mas as mudanças ocorridas nas últimas décadas influenciaram diretamente o dia a dia de Marciel Malaquias, 57, que hoje toca a produção com uma filha. O negócio começou com seu avô e já foi tocado também por seu pai.

Raças de gado antes comuns foram sendo gradativamente substituídas por outras em que os chifres, matéria-prima dos berrantes, são menos aparentes. Além disso, Malaquias disse que o abate dos animais ocorre mais cedo que antigamente, o que também impede o crescimento dos chifres.

"O berrante é o símbolo maior do campo. O sitiante, do interior, compra muito até mesmo para decoração. Às vezes nem tanto para tocar, mas para se recordar do passado", afirmou Malaquias.

Os berrantes custam a partir de R$ 270, mas há exemplares que passam de R$ 1.000. Para fabricar cada um, são necessários cinco chifres, cujo quilo custa R$ 2 para Malaquias.

Crédito: Editoria de Arte/Folhapress

NELORE

Se o preço é baixo, difícil é encontrá-los. "Quando meu avô trabalhava com isso, nem comprava, ele ganhava, de tanto que havia. Mas hoje está acabando. Antes havia muito gado caracu, que tinha chifre grande, mas hoje é quase tudo nelore", disse.

Há outras fábricas espalhadas no país, como a de Natalino Mateus Fernandes, 63, de Araçatuba, que tem mais de 80 anos. Assim como a de Malaquias, a produção é totalmente artesanal e começou com o pai de Fernandes.

"Aprendi com meu pai e herdei esse gosto. É um negocinho que fazemos nas horas de folga. Quando consigo, paro e faço dois ou três", disse.

E, mesmo com o fim das comitivas que transportavam boiadas no estradão e a urbanização cada vez maior das cidades, ainda há espaço para berranteiros?

Sim, na avaliação de Alceu Garcia, 69, um dos coordenadores, ao lado do irmão, Armando, do concurso de berrante realizado na Festa do Peão de Boiadeiro de Barretos.

"Desde 1957 temos o concurso e temos de fazer seleção para os concorrentes, pois há muitos. O concurso terá 20 participantes, de Estados como Bahia, Mato Grosso, Tocantins e Pará. Se quiséssemos colocar 50, ainda sobraria espaço. Mas preferimos os que eram peões mesmo, que viviam no estradão", disse.

No concurso, o competidor precisa fazer os cinco toques utilizados pelas comitivas, que incluem a saída do ponto de pouso, o sinal de perigo e o aviso de que a Queima do Alho –comida típica dos peões, composta por arroz carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne e churrasco, feita num fogão improvisado– está pronta para ser servida.

A festa de Barretos, a mais tradicional do gênero no país, está em sua 62ª edição e será realizada até o próximo dia 27 no Parque do Peão.

ESTRESSE

A festa ocorre em meio a uma onda crescente de acusações de entidades de proteção de supostos maus-tratos aos animais usados nos rodeios. Para elas, os touros sofrem tortura devido ao uso do sedém (corda de lã presa nos animais antes das montarias) e também são vítimas de choques antes das montarias e de estresse devido ao barulho e à luminosidade das arenas.

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