Entrada do Uber não afetou renda dos taxistas, mostra levantamento

Crédito: Clever Felix - 27.jul.2017/Brazil Photo Press/Folhapress RIO DE JANEIRO, RJ, 27.07.2017 - TAXI-RJ - Protesto de taxistas em frente a sede da prefeitura do Rio de Janeiro contra a liberação do Uber, várias caravanas saíram de diferentes bairros da cidade para o ato, causando um grande congestionamento no trânsito, no Rio de Janeiro nesta quinta-feira, 27. (Foto: Clever Felix/Brazil Photo Press/Folhapress) *** PARCEIRO FOLHAPRESS - FOTO COM CUSTO EXTRA E CRÉDITOS OBRIGATÓRIOS ***
Protesto de taxistas contra a liberação do Uber em frente à sede da prefeitura do Rio

ANA ESTELA DE SOUSA PINTO
DE SÃO PAULO

O principal efeito do Uber e de outros aplicativos de transporte foi acrescentar novos consumidores ao serviço, mostram relatório ainda inédito do Cade e dados de dois estudos acadêmicos.

A entrada do Uber não afetou a renda média por hora dos taxistas em sete capitais brasileiras, segundo levantamento dos economistas Cristiano Aguiar de Oliveira e Gabriel Costeira Machado, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg).

O trabalho levantou o rendimento dos taxistas nos meses anteriores e posteriores à entrada do Uber, com base na Pnad contínua, pesquisa do IBGE. Foi o primeiro estudo a usar tais evidências no país.

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O resultado reforça a conclusão de levantamento feito em 2015 pelo Cade (órgão federal que zela pela livre concorrência): o Uber não reduziu as corridas dos taxistas nas cidades em que passou a operar.

Novo estudo do Cade, ainda inédito, conclui que a entrada da empresa foi benéfica para a concorrência: reduziu o preço do transporte, aumentou a disponibilidade e ampliou o mercado.

FALTA INFORMAÇÃO

"A primeira coisa que me veio à cabeça quando cheguei aos resultados é que a guerra, até violenta, entre motoristas era por nada. Havia falta de informação", diz Oliveira.

Ele nota que os principais afetados pela nova tecnologia são os donos de licenças de táxi, cujo preço caiu muito no mercado secundário. "Os motoristas, principalmente os de frota, podem agora escolher o trabalho que lhes der maior renda."

O resultado da Furg é semelhante ao de pesquisa da Universidade de Oxford, que avaliou a entrada do Uber nas 50 maiores cidades dos Estados Unidos. Os dados, publicados neste ano, mostram que o número de motoristas autônomos (de aplicativos ou de táxi) cresceu 50%, e o de taxistas empregados, 10%.

A renda por hora dos empregados caiu um pouco, enquanto a dos autônomos subiu. Tanto os pesquisadores de Oxford quantos os de Rio Grande advertem para o fato de que suas conclusões se referem apenas às cidades e períodos estudados.

Outros trabalhos sobre economia compartilhada apontam para o mesmo lado. Estudos de 2015 indicam que o número de trabalhadores em bancos aumentou mesmo com a proliferação de caixas automáticos e, nos Estados Unidos, também cresceu o emprego em postos de gasolina após a introdução de bombas automáticas.

Já o Cade acompanhou em seu novo estudo a popularidade de três empresas —Uber, 99 Táxis e Easy Taxi— em pesquisas feitas pelos consumidores na internet, que podem ser um indicador para a atividade econômica.

Os dados mostram crescimento forte do Uber, com ápice em dezembro de 2016, e uma redução modesta nas buscas pelo Easy Taxi e ainda menor nas da 99.

Uma primeira conclusão, diz o trabalho, é que após sua estreia o Uber criou uma nova demanda (capturando usuários que antes não utilizavam o serviço de táxi) e passou também a rivalizar com os aplicativos 99 Taxis e EasyTaxi.

O Cade fará novos estudos para avaliar números de corridas, impactos sobre as tarifas e tempo trabalhado.

Colaborou FERNANDA PEREIRA NEVES

O que falta saber

Informações que os governantes deveriam ter sobre as novas formas de transporte

  • Qual o tamanho da frota de veículos operando com aplicativos?
  • Qual a previsão de crescimento?
  • Os carros com aplicativos substituem carros próprios ou se adicionam a eles?
  • Quantos carros próprios deixam de sair às ruas?
  • Quantas vagas de estacionamento deixam de ser ocupadas?
  • Se há aumento da frota total, que regiões são mais afetadas? Há piora do trânsito?
  • É possível remanejar o tráfego para acomodar a nova frota ou são necessárias novas vias?
  • Quem arcará com os riscos de mais congestionamento e mais poluição?

Fonte: Cade, 2015

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