Decisão judicial mantém locomotiva histórica em Ribeirão Preto
Joel Silva/Folhapress | ||
Locomotiva alvo de disputa entre as prefeituras de Ribeirão Preto e Salto é colocada em carreta |
Uma decisão judicial manteve, ao menos temporariamente, uma locomotiva histórica em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo). Alvo de disputa entre a cidade e o consórcio Trem Republicano, comandado pelas prefeituras de Salto e Itu, a maria-fumaça chegou a ser colocada numa carreta na última quarta-feira (20), mas foi impedida de deixar a cidade.
Após discussões no local entre a empresa contratada para transportar a máquina e vagões, prefeitura e polícia, os envolvidos se reuniram para tentar negociar o imbróglio. Uma liminar determinou que a locomotiva permaneça onde está até o fim do recesso da Justiça.
Abandonada, alvo de constantes furtos e de vandalismo, a maria-fumaça está estacionada nas últimas décadas na avenida Mogiana, ao lado da estação ferroviária da cidade, inaugurada em 1967.
A autorização para levar a locomotiva para Salto foi dada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), responsável pelo acervo da extinta Rede Ferroviária Federal, por meio do termo de transferência nº 292.
O consórcio do Trem Republicano, que levaria a máquina, informou que a maria-fumaça está há mais de 30 anos "em situação de abandono, sendo alvo de vândalos e espaço para práticas ilegais".
Com a ajuda de guindastes, a locomotiva, de fabricação inglesa, foi colocada na carreta para ser levada para Salto (a 104 km de São Paulo) mas, momentos antes de o veículo partir para o destino, membros de uma associação turística de Ribeirão foram para o local, acionaram a PF (Polícia Federal) e impediram que a carreta partisse.
A VLI, concessionária do trecho ferroviário que corta Ribeirão Preto, informou que apenas permitiu que uma área lateral da estação fosse utilizada para que o guindaste fosse posicionado e que não tem participação alguma no caso.
Uma das queixas da Prefeitura de Ribeirão é que o alambrado que cercava a locomotiva foi derrubado sem que a administração fosse sequer avisada. Mas membros de associações de preservação criticaram o governo por não se preocupar em recuperar o patrimônio histórico e por não tomarem medidas preventivas, já que a possibilidade de transferência da maria-fumaça circulava na cidade havia uma semana.
DUPLA
A maria-fumaça é uma das duas em exposição em locais públicos de Ribeirão Preto. Sem passar por restauração ou ter proteção eficiente, sofreu com muito vandalismo e furtos de peças nas últimas décadas.
Elas têm elo histórico com o desenvolvimento econômico da cidade -uma das principais atendidas pela CMEF (Companhia Mogiana de Estradas de Ferro), ao lado de Campinas-, e responsável por transportar o "ouro verde", como era chamado o café no início do século passado.
Independentemente de ficar em Ribeirão ou ir para Salto, a locomotiva precisa de muito restauro. A ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) estima em ao menos R$ 1,5 milhão o montante a ser desembolsado para deixar a maria-fumaça em condições de transportar passageiros.
"A fornalha dela é de cobre, provavelmente terá de ser feita uma nova. Além disso, faltam muitas peças e ela foi vandalizada ao longo do tempo em Ribeirão. Entre levar e fazer funcionar vai um intervalo enorme", disse Helio Gazetta Filho, diretor-administrativo da ABPF Campinas.
De acordo com o Dnit, o consórcio pretende restaurar a máquina e propiciar a volta da composição à circulação ferroviária.
"O Dnit, enquanto proprietário formal dos ativos, vislumbrou a possibilidade de apoiar o projeto e devolver essa composição aos trilhos, como forma de incentivar a preservação da memória ferroviária paulista", diz trecho de nota do órgão.
Com o impedimento da saída da cidade da locomotiva, o Dnit disse ter recebido os questionamentos de entidades de Ribeirão e que "buscará uma solução conjunta adequada aos interesses da sociedade".
O consórcio, por sua vez, diz esperar um novo posicionamento do Dnit sobre o assunto.
A outra locomotiva exposta em Ribeirão, na praça Francisco Schmidt, vizinha à antiga estação ferroviária, é alvo de dois projetos para a implantação de rotas turísticas. Assim como a maria-fumaça objeto do imbróglio, também sofre com vandalismo e serve de abrigo a usuários de drogas e moradores de rua.
Além das locomotivas, a preservação do patrimônio ferroviário no principal trecho da Mogiana é ínfimo. Reportagem da Folha mostrou que, das 52 estações que existiram entre Campinas, onde começava a Mogiana, e Ribeirão Preto, a então "capital do café", 17 foram demolidas, 9 estão abandonadas e outras 9 servem de moradia, algumas em estado ruim.
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