KATIA VASCO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM MACEIÓ

Há 23 anos a rotina é a mesma. Mesmo sob o calor de 30 graus, Luis Eudes Floripes da Silva, 64, não muda o figurino. Paletó, camisa branca, gravata e uma bandeja de suspiros feitos pela mulher, Marlene Calixto dos Santos.

O escritório é a orla de águas claras de Maceió. Os alagoanos o chamam de Rei dos Suspiros, e a alcunha pegou. Ele também vende broas e sequilhos, mas os suspiros são o carro-chefe do negócio iniciado por acaso.

Ainda jovem, Luis chegou de Mata Grande, no sertão, a 287 km da capital, com o sonho de se tornar padre. No seminário teve aulas de filosofia, e toda a educação formal foi custeada pela igreja.

Após os estudos, prestou vestibular e cursou direito. Mas nunca exerceu a profissão. Deixou o seminário, casou-se e virou corretor de imóveis e de seguros.

Foi nessa profissão em que acredita ter aprendido suas técnicas de vendas. Um dia percebeu que os suspiros vendiam muito e passou a investir no produto.

Um amigo sugeriu que Luis vendesse o quitute vestindo terno, que chamaria atenção. E assim estava pronto o seu plano de negócio com direito a estratégia de marketing.

Quando perguntam como aguenta o calor, sorri e responde com voz pausada.

"O corpo acostuma. Aprendi com um padre do sertão que o segredo para não sentir calor é ficar calmo. Se a gente fica tranquilo, vem um ventinho. Se você se agitar, o calor sobe", conta.

Para Luis, a estação mais lucrativa é o verão, quando as praias estão lotadas e os turistas procuram as guloseimas. Ele percorre a orla da capital e os balneários de Barra de São Miguel e Gunga, na Grande Maceió, entrando em restaurantes e bares.

Também pode ser visto em empresas, órgãos públicos ou fazendo entregas em domicílio das encomendas feitas por celular e redes sociais.

Mensalmente são mais de 1.500 unidades de suspiros, além dos outros produtos. Por causa desta aceitação e da elegância, Luis Eudes já foi notícia até fora do país.

Conta que ganhou 13 prêmios de reconhecimento. Conduziu a tocha olímpica e é convidado a participar de eventos, seja para a venda de quitutes seja para fazer palestras motivacionais.

No ofício, além da mulher, tem a ajuda de um dos quatro filhos. Luis trabalha das 9h à 0h. Os suspiros já garantiram a compra de um carro usado e a criação dos filhos, todos terminando o ensino médio. Uma das filhas tenta entrar no curso de medicina.

ARTE DE VENDER

O jeito de falar convence, o produto agrada os clientes, mas é a disposição e o visual surpreendem os turistas.

O casal paulistano Enimara, 44, e Marcelo Pereira, 47, pela segunda vez em Maceió, confessou que não conhecia o Rei dos Suspiros.

"Não é só o modo de vestir, mas a forma como ele aborda, como fala, traz credibilidade, passa uma coisa boa", disse Enimara Pereira.

Também turista, Rosana Pazini, 43, de Indaiatuba (SP), elogiou a disposição de Luis e o sorriso. "Ele se veste como quem vai a uma festa e realmente ele vai [a uma] porque ele está trabalhando. Seu Luis faz parte agora das nossas lembranças de Alagoas."

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