Menino de 5 anos morre com tiro na Virada de SP; suspeita é bala perdida

MARIANA ZYLBERKAN
PATRICIA PAMPLONA
DE SÃO PAULO

Os fogos de artifício ainda explodiam no céu de São Paulo minutos após a virada do ano quando o menino Arthur, 5, caiu no chão, desfalecido. A princípio, a mãe, que correu para o quintal ao saber do acidente, achou que a criança tinha escorregado, pois brincava com as bolinhas de sabão que tinha ganhado de Natal. "Moramos em apartamento, não temos quintal, por isso era a primeira vez que ele estava brincando com as bolinhas, já que choveu bastante nos dias anteriores", diz a mãe, a professora Valéria Aparecido, 34.

O desespero tomou conta dos pais ao perceberem uma poça de sangue se formar debaixo da cabeça do menino, que continuava inerte. "Disseram que ele arregalou os olhos e caiu duro. Imaginei que tinha ferido a cabeça na queda", afirma a mãe. A família estava na casa de um primo de Valéria, no Jardim Sônia (zona oeste), para comemorar o Ano-Novo.

O pai contou que o deixou deitado no chão e chamou a ambulância, mas o desespero diante da gravidade da situação o fez correr com o filho para o hospital Family, o mais próximo. "Não sabia o que era. Só pedia para ninguém mexer nele", disse o eletricista David Santos da Silva, 33. Um exame de tomografia realizado no setor de emergência apontou a presença de uma bala alojada na cabeça, bem próximo da nuca. Foi então que a família descobriu que o filho tinha sido vítima de bala perdida.

Uma das hipóteses ainda a ser investigada é que criminosos comemoravam o Ano-Novo com tiros para cima e um dos disparos teria atingido Arthur. "Estava dentro de casa comemorando o Ano-Novo. Era uma criança, estava brincando. Foi uma vítima inocente da violência", disse a mãe.

Crédito: Arquivo Pessoal Arthur Aparecido Bencid Silva, 5, morreu após ser ferido por bala perdida em São Paulo
Arthur Aparecido Bencid Silva, 5, morreu após ser ferido por bala perdida em São Paulo

BUSCA

Segundo nota enviada pelo hospital Family, do grupo NotreDame Intermédica, Arthur já chegou ao atendimento com dano neurológico importante. Por não dispor de uma UTI pediátrica, o hospital e a família iniciaram a busca por uma vaga de internação na rede pública e em instituições privadas. A procura só foi acabar cerca de quatro horas depois, quando ele foi levado para o Hospital Geral de Pirajussara, onde deu entrada em "estado gravíssimo" às 6h20 de segunda-feira (1).

"A criança passou pela avaliação da equipe de neurocirurgia e por procedimento cirúrgico, foi internada na UTI pediátrica e faleceu devido à gravidade clínica", informou a Secretaria Estadual de Saúde, que administra o Hospital Geral de Pirajussara.

A família diz que teve dificuldade com o transporte do menino para o hospital estadual. "Como era feriado, tinha ambulância, mas não tinha médico", disse a mãe de Arthur. Segundo o hospital Family, profissionais que estavam de plantão foram deslocados para acompanhá-lo até a internação na UTI em outro endereço.

Segundo a mãe, foi feito contato em alguns hospitais particulares, que dispunham de vaga de internação, mas não aceitaram a transferência de Arthur. "Isso eu achei negligência. Às vezes, dava tempo de socorrer, mas perdemos a pessoa porque o que manda nesse país é o dinheiro."

O caso será investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa). Policiais ainda aguardam a perícia do corpo para avaliar a velocidade e o ângulo com que o projétil provocou o ferimento na cabeça do menino e dar sequência à apuração. De acordo com a mãe, a bala entrou de cima para baixo no crânio de Arthur. "É difícil saber de onde veio [a bala]", disse a professora, ao ser indagada se a família irá cobrar da polícia a autoria do disparo. Para o pai, o filho foi vítima da "guerra civil velada em que vivemos".

SUPER-HERÓI

O casal, que tem mais uma filha, descreveu Arthur como uma criança amorosa e "inteligentíssima". Segundo homenagem de uma tia em uma rede social, o menino gostava de se passar por um super-herói diferente por dia. "Ele chegou nesse mundo de surpresa, não foi nada planejado", escreveu Eliane Carrilho.

O relato segue e conta que gravidez, apesar de inesperada, foi muito comemorada pela família, que organizou o chá de bebê duas vezes. O menino tinha se tornado ainda mais falante e sociável recentemente, após começar a frequentar uma escola infantil.

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