Parentes de vítimas da violência no RJ criticam a omissão nas investigações

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LUIZA FRANCO
DO RIO

A maior parte das mortes violentas da cidade acontecem em lugares de população mais pobre e com menos provisão de serviços, como favelas, por isso, as "vítimas de segunda mão", os parentes das vítimas, também são, com frequência, pobres.

Reportagem da Folha publicada nesta terça-feira (9) revela que, quando uma morte violenta irrompe numa família, ela muda cotidiano, personalidades, relações, situação financeira e até o lugar de moradia dessa família afetada. A maior parte dos casos citados na reportagem se encaixa no perfil da maioria dos homicídios no país: homens, jovens, negros e pobres.

Parentes criticam a omissão do poder público diante do sofrimento delas, a começar pela falta de investigação. Procurada para comentar os casos em que há suspeita de envolvimento da Polícia Militar nas mortes, a corporação disse apenas que as investigações estão a cargo da Polícia Civil.

Questionada sobre o baixo índice de soluções de homicídios, a Polícia Civil não se posicionou até a conclusão desta edição. A Folha procurou também a secretaria de Direitos Humanos do Estado, mas não houve resposta até a tarde de segunda-feira (8).

INVESTIGAÇÃO

De acordo com pesquisa do Instituto Sou da Paz, a taxa esclarecimento de homicídios no Rio em 2015 foi de 11%. "Mesmo quando o Rio reduziu a taxa de homicídios, não conseguiu reduzir a impunidade. "Quando falamos de suspeita de envolvimento de policiais, existe corporativismo. Além disso, num lugar onde pouco se pune quem mata, as pessoas têm medo de falar. É um ciclo vicioso", diz Bruno Langeani, gerente de Sistemas de Justiça e Segurança Pública do Sou da Paz.

Uma vez reconhecido que a morte foi provocada por policiais, como no caso de Maria Eduarda, o Estado deveria, diz ele, prover uma indenização rapidamente e oferecer apoio jurídico e psicológico aos parentes. No Rio, pouco disso acontece.

O tempo médio que leva para uma família receber uma indenização é de cinco anos. Cada um busca apoia psicológico por sua conta. Em geral, só os casos mais graves de depressão acabam sendo tratados. O Rio não tem nem sequer algo similar ao Centro de Referência e Apoio a Vítima, como SP.

Nesse cenário, surgem grupos de mães que se juntam para consolar umas às outras e lutar contra a impunidade: Fórum Social de Manguinhos, Mães Vítimas de Violência e a Rede de Movimentos e Comunidades Contra a Violência.

Crédito: Ricardo Borges/Folhapress filho morto por PMs na zona norte do Rio.Especial sobre o que acontece na vida das pessoas quando elas perdem parentes para a violência. ( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Tereza Gonçalves Farias, 44, teve o filho morto por PMs na zona norte do Rio

Integrante de um dos grupos, Tereza Gonçalves Farias, 44, morava havia mais de 20 anos numa parte do Complexo do Alemão conhecida como Inferno Verde. Apesar dos frequentes tiroteios, ela podia pagar para viver ali. Em julho, se mudou. Divide o aluguel e paga contas atrasadas. Está lá por temer retaliação por não se calar sobre a morte do filho, Felipe, 16, baleado num protesto.

Ela sorri e olha para o telefone. "Acabei de falar com uma mãe da Rocinha que perdeu o filho na semana passada. Eu disse a ela que a dor queima mais no início. Mas a verdade é que, para quem é mãe, não passa nunca."

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