Descrição de chapéu Obituário João Lopes Lambert (1922 - 2018)

Mortes: Da guerra ao Maracanazo, foi arquivo vivo de projeto de país

Crédito: Douglas Lambert João Lopes Lambert (1922-2018)
João Lopes Lambert (1922-2018)

ANTONIO MAMMI
DE SÃO PAULO

Diante do pelotão de fuzilamento, Aureliano Buendía lembrou-se da tarde em que seu pai o levou para conhecer o gelo, trazido a Macondo pelos ciganos. Não se sabe no que João Lambert pensou antes de morrer, mas se sua história tivesse sido escrita por Gabriel García Márquez o palpite seria certeiro: o dia em que viu uma caravana de cossacos numa estrada no sul de Minas, fazendo piruetas sobre seus cavalos.

Na verdade, de mágica sua realidade tinha pouco. Pracinha, um dos primeiros funcionários da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) e testemunha ocular do Maracanazo, João Lambert era o arquivo vivo de um projeto de país.

Sua memória era reconhecidamente valiosa. A escola de sua cidade, Cambuí (MG), organizava excursões para sua casa e historiadores locais procuravam-no para checar fatos.

Não chegou a pisar na Europa na Segunda Guerra –seu pelotão seria o próximo a embarcar, mas houve o armistício. Restaram as lembranças dos quartéis, do tédio em Fernando de Noronha ao zigue-zague dos navios para fugir de torpedos em João Pessoa.

Empregado na CSN depois da vitória dos Aliados, mudou-se para Volta Redonda (RJ). Foi de lá que pegou um trem rumo ao Rio em 1950, para ver a final da Copa do Mundo contra o Uruguai.

Os relatos do pós-jogo eram marcantes. "Ele falava de velas e garrafas entulhando o rio Maracanã, de um colega que se perdeu na multidão e só reapareceu três dias depois", diz o neto Douglas.

Morreu no último dia 11, aos 95, de causas naturais. Deixa a mulher, quatro filhos, cinco netos e três bisnetos.

coluna.obituario@grupofolha.com.br


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