Descrição de chapéu Tragédia em Brumadinho

Vale diz que suas barragens têm plano de emergência e reafirma estabilidade

Reportagem da Folha mostrou que mineradora previu inundação de sede e refeitório

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São Paulo

A Vale, mineradora responsável pela barragem que se rompeu em Brumadinho e deixou ao menos 110 mortos, afirmou nesta sexta (1º) que todas as suas barragens possuem um plano de emergência, construído com base em estudos técnicos de cenários hipotéticos para o caso de colapso, que prevê qual a mancha de inundação e qual a zona de segurança.

Segundo a empresa, o plano da barragem 1 da mina do Córrego do Feijão foi protocolado na Prefeitura de Brumadinho e nas defesas civis municipal, estadual e federal entre julho e setembro de 2018. 

"A estrutura possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes. Havia inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a última datada de 21/12/2018. A estrutura passou também por inspeções nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de monitoramento da Vale. Toda essa documentação sempre esteve e continua à disposição das autoridades", diz comunicado da empresa.

A Vale afirma que a barragem 1 possuía sistema de vídeo-monitoramento, sistema de alerta através de sirenes e que a população próxima da estrutura estava cadastrada. Segundo a empresa, houve um simulado de emergência com a população em 16 de junho de 2018 e com os funcionários em 23 de outubro.

O comunicado da empresa acontece depois de a Folha publicar que o plano de emergência da barragem já previa que a lama destruiria as áreas industriais da mina de Córrego do Feijão, incluindo o restaurante e a sede da unidade, onde estava parte dos mortos e desaparecidos.

Procurada desde segunda-feira (28), a mineradora se recusou a encaminhar o documento, obtido pela Folha junto a um dos órgãos oficiais encarregados de recebê-lo.

O rompimento da estrutura na última sexta-feira (25) destruiu até as sirenes que deveriam alertar os empregados da companhia. Também matou responsáveis pela comunicação em caso de ruptura.

Até esta quinta (31), as autoridades contabilizavam 110 mortos e 238 desaparecidos na tragédia. Muitos deles estavam no restaurante da mina, a cerca de um quilômetro da barragem. O rompimento ocorreu na hora do almoço. Outros estavam na pousada Nova Estância, cuja inundação também estava prevista no plano.

O plano prevê que "diferentes mecanismos de comunicação serão utilizados, com o uso de acionamentos sonoros". Nenhuma sirene, porém, tocou, como admitiu nesta quinta-feira o presidente da Vale, Fabio Schvartsman.

O mesmo aconteceu com o acesso a uma das rotas de fuga que a empresa apontou como seguras durante treinamento com a população local. "Quem correu para onde a Vale mandou morreu, e quem não seguiu o treinamento está vivo", diz Jhonatan Júnior, 22, que perdeu o irmão.

Ao menos um funcionário elencado no plano como responsável por alertar em casos de emergência morreu: Alano Teixeira, coordenador suplente do PAEBM.

O plano prevê três situações: galgamento ('vazamento' sobre a crista da barragem), piping (rompimento a partir de uma fratura na barragem) e instabilização. Em todas elas há danos previstos nos cursos d'água de área de preservação permanente, problemas de abastecimento e fornecimento de energia, inundações de áreas urbanas, assoreamento de cursos d'água e danos à fauna e flora da região.

O próprio prefeito de Brumadinho, Avimar de Melo (PV), afirmou na tarde desta quinta-feira (31) que desconhecia o plano. "Me parece que eles estão montando esses planos todos agora. Não chegou ao conhecimento meu", disse.

Questionado se a Defesa Civil da cidade ou a prefeitura poderiam ter o documento, Melo disse que "[eles] também não".

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado, Mauricio Lemes, que trabalhava na mina do Córrego do Feijão, não morreu no rompimento da barragem em Brumadinho (MG). Quem morreu foi o motorista Mauricio Lemos. O texto foi corrigido.

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