'Vamos falar de racismo?' aborda questão racial de forma lúdica

Jogo quer que leitor reflita sobre tema sem precisar brigar por discordar

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São Paulo

"Vamos falar de racismo" é o que propõe o "livro caixinha" de autoria da ex-consulesa da França no Brasil e consultora em diversidade Alexandra Loras e do jornalista Maurício Oliveira. Lançado pela editora Matrix, o material funciona com um jogo com cartas sobre o tema feitas para estimular a reflexão.

A autora deste texto fez a experiência de ler cada uma das cartas e também de partilhar a reflexão com familiares. Para algumas provocações, conseguiu formular respostas, mas, para outras, acabou pensando no motivo de não ter um argumento fácil ou uma resposta pronta.

Depois, conversando com a autora, foi possível constatar que a ideia era essa mesma: pensar o racismo em nossa sociedade, sem que, necessariamente, tenhamos resposta para tudo.

"Esse livro caixinha foi feito para aumentar o jogo empático, para sentir a dor do outro, para sentir o que é o racismo, mas de uma maneira lúdica, que te ajuda a refletir sobre a verdade inconveniente. Não é preciso ter respostas exatas. Às vezes, terá algo que você não conseguirá responder, mas fará com que observe na semana seguinte vários pontos sobre a questão racial", explica Loras.

Obra lançada pela editora Matrix - Divulgação

O racismo no Brasil, lembra a autora, existe e é estrutural. Ele está presente em nosso cotidiano, arraigado em situações diversas. No entanto, reconhecer isso não é suficiente. Como propõe o jogo, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista. Assim, o jogo sugere não só um exercício de análise do nosso próprio comportamento (e o dos outros), como também propõe a ação.

"A proposta do livro é desvelar o fato de que o Brasil foi construído em cima da escravidão, da inferiorização de milhões de pessoas negras que foram escravizadas. Essa questão é a coluna vertebral de uma cultura que, há mais de 400 anos, inferiorizou negros. Hoje, há consequências sistêmicas, uma vez que não adiantou apenas a Lei Áurea ter sido assinada, 133 anos da abolição da escravidão não resolveram a questão do negro no Brasil", afirma Loras.

A autora relata o uso das cartas em seus treinamentos de letramento racial em empresas. "Quis trazer para o público brasileiro essa reflexão, pois é uma ótima ferramenta para abordar essa temática nas escolas, nas universidades, nas empresas, na família, com os amigos. Abrir a mente sobre essas questões."

Alexandra Loras
Alexandra Loras - @alexandraloras no Instagram

Loras fala também sobre a importância de começar o jogo ressaltando que os participantes estão em um local de acolhimento e que não precisam brigar porque discordam. "É justamente um jogo feito para avançar, nos educar, refletir, aprender, crescer. Para ser antirracista é necessário conhecer a problemática inicial e agir por mudanças."

Algumas perguntas propostas no livro:

A escravidão acabou no Brasil em 1888. Tanto tempo depois, você acredita que ela ainda se faz presente no Brasil? De que forma?

Você considera que o preconceito racial vem aumentando ou diminuindo no Brasil? Por quê?

Será que essa discussão é exagerada?

Todos nós podemos e devemos evoluir na nossa visão de mundo. Que evolução você teve na sua forma de enxergar o racismo ao longo dos últimos dez anos?

Cite três pessoas negras de referência na sociedade brasileira, as primeiras que vierem à sua cabeça. Quais razões fizeram você escolher essas pessoas?

Há quem defenda a ideia de que não existe racismo, porque todos nós pertencemos a uma só raça, a raça humana. O que você pensa disso?

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