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Promotoria apura abuso em treino de vigilantes em Sertãozinho (SP)
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HÉLIA ARAUJO
JULIANA COISSI
ENVIADAS ESPECIAIS A SERTÃOZINHO
Com vendas nos olhos, mulheres e homens cobertos de barro andam em fila no breu em um matagal. Em volta, ouvem ordens e avisos de que há cobras no caminho. Ainda sem enxergar, o grupo rasteja em um pequeno lago de lama e leva água fria nas costas. Há som de gritos, de choque elétrico e do que parece ser um tiro.
A cena descrita não é de treino na selva de uma equipe do Exército. Trata-se de um treinamento para vigilantes de escolas municipais de Sertãozinho (333 km de São Paulo). As fotos e um vídeo, obtidos pela Folha com exclusividade, já tinham sido encaminhados ao Ministério Público Estadual, que investiga a possibilidade de abuso.
O curso foi ministrado pela Guarda Civil Municipal de Sertãozinho, em 2009.
As fotos mostram um grupo, a maioria mulheres, usando uma camiseta que tem a inscrição "Equipe Tática - Treinamento", com os olhos tampados. Em fila, mulheres escondem o nariz ou prendem a respiração, supostamente pelo uso de gás de pimenta.
No vídeo, ouve-se o som de tiro e gritos de medo e também de alerta: "Cuidado com o chão" e "Olha, chama o bombeiro, que tem outra cobra aqui! Pega essa aqui que está se mexendo."
Em um momento do vídeo, ouve-se: "Ergue o pé". Logo surge o som de um aparelho de choque elétrico, com uma imagem de pequenos raios na tela escura. Na sequência, um grito de mulher: "Ai, meu pé!"
Ao estilo do filme "Tropa de Elite", é possível ouvir ao fundo: "Esse estrume que caiu aí, tira fora e leva para a Santa Casa."
O guarda civil Milton Alexandrino Pires, 40, disse que encaminhou as imagens ao Ministério Público há cerca de dois meses. A Folha procurou a Promotoria de Sertãozinho, que não quis se manifestar.
A reportagem conversou nesta segunda-feira (16) com uma das vigilantes que participou do treinamento. Ela pediu o anonimato, mas confirmou que teve de andar à noite, de olhos vendados, em "um descampado". Lá rastejou na lama. "Eu só ouvia: 'Siga as minhas ordens.'"
A vigilante disse que se cansou no treinamento, mas não viu abusos. "Eu acho que soma. Todo curso que você faz te dá uma nova carga de conhecimento."
O superintendente da Guarda Civil Municipal, Umberto Coelho da Silva, disse que o curso é apropriado e que ensina ao vigilante de escola como lidar em situações de tensão.
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