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15/12/2010 - 18h59

Polícia apreende armas em ação contra o sindicato dos motoristas para investigar mortes

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RAPHAEL MARCHIORI
MARIANA DESIDÉRIO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

Armas apreendidas nesta quarta-feira em uma megaoperação da polícia contra a diretoria do Sindmotoristas (Sindicato dos Motoristas e Trabalhadores em Transporte Rodoviário Urbano) de São Paulo têm calibres compatíveis com as usadas em assassinatos de dois diretores da instituição.

Polícia investiga PMs e diretores do sindicato dos motoristas por mortes
Polícia apreende R$ 50 mil com ex-presidente do sindicato

De acordo com a delegada Alexandra de Agostini, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), foram apreendidas 13 armas dos calibres 380, 38, 22 e.40. Algumas dessas armas são de policiais militares e outras de membros do sindicato.

O revólver calibre 22, que não tinha registro, estava com um irmão de um motorista do sindicato, que foi preso por porte ilegal de arma. As demais tinham registro. Segundo a delegada, os representantes do sindicato, cujas armas foram apreendidas, alegam que andavam armados por estarem com medo e para se defender.

Foram cumpridos 21 mandados de busca e apreensão, autorizados pela juíza Élia Kinosita Bulman, do 2º Tribunal do Júri da Capital. O objetivo da megaoperação foi recolher provas na investigação de membros do Sindmotoristas que podem estar ligados aos assassinatos de Sérgio Augusto Ramos, 48, o Serjão, em outubro, e de José Carlos da Silva, 50, o Irmão da Sambaíba, mês passado.

As duas vítimas eram diretores de base do sindicato e foram mortas de maneira semelhante: por uma dupla de matadores que estava em uma motocicleta.

Também foram apreendidos computadores, munições e R$ 59.400, dos quais R$ 55.400 estavam escondidos dentro de uma panela na casa de Edvaldo Santiago, ex-presidente do Sindmotoristas, no Campo Limpo (zona sul). Os outros R$ 4.000 foram encontrados na casa de um policial militar do 47º Batalhão. Santiago afirmou que o dinheiro apreendido foi declarado no Imposto de Renda. Ele nega envolvimento na morte de Ramos e Sambaíba.

Dentre as casas de diretores do Sindmotoristas vistoriadas pela polícia estão as do presidente da entidade, Isao Hosogi, o Jorginho, e do diretor de finanças, José Valdevan de Jesus Santos, hoje vereador em Taboão da Serra (Grande SP), conhecido como Valdevan Noventa e já investigado pela polícia por suspeita de elo com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Santos sempre negou relação com o grupo criminoso. José Ilton Pereira, o Zé Ilton, diretor jurídico do Sindmotoristas é outro alvo da operação do DHPP.

POLICIAIS MILITARES

Em uma outra frente da operação do DHPP, os policiais investigam a suspeita de envolvimento de oito policiais militares ligados ao Sindmotoristas. Sete desses PMs trabalham como seguranças particulares de três diretores do sindicato. Três deles são integrantes da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), espécie de tropa especial da PM paulista.

O oitavo PM investigado pelo DHPP trabalha na região do Jardim Peri (zona norte de São Paulo), mesma área onde foi assassinado em 12 de novembro o sindicalista Irmão da Sambaíba. Ele é suspeito de ter envolvimento no crime, segundo a delegada Agostini.

Segundo a delegada Alexandra, sete equipes da corregedoria da Polícia Militar acompanharam o cumprimento dos mandados de busca e apreensão contra os PMs.

A assessoria da Polícia Militar informou a Corregedoria da corporação investiga o caso e que a prática do "bico", caso seja comprovada, é passível de suspensão.

Cerca de um mês antes de sua morte, durante uma reunião com trabalhadores do transporte público e de diretores do Sindmotoristas na zona norte, Sambaíba teria sacado uma arma e dito que iria cobrar a verba que não recebia do Sindmotoristas havia três meses.

Essa discussão com ameaças foi, segundo a investigação, contra o diretor Zé Ilton. À polícia, ele nega qualquer participação na morte.

Depois da briga, Sambaíba teria passado a tentar reunir provas dos desvios de verba no sindicato para entregar à polícia e ao Ministério Público e, com isso, despertou a ira dos diretores da entidade.

O outro diretor de base da entidade morto recentemente, Sérgio Ramos, era opositor e denunciava desde janeiro a corrupção no sindicato.

Ramos também foi morto a tiros quando dois homens em uma motor o perseguiram. O crime foi no dia 25 de outubro, quando ele distribuía panfletos sindicais em uma garagem de ônibus da zona sul de São Paulo.

16 MORTOS

A disputa pelo poder entre sindicalistas do transporte público paulistano já causou a morte de ao menos 16 pessoas nos últimos 18 anos, aponta investigação da polícia e do Ministério Público.

A guerra sempre foi motivada pelo controle de um caixa dois de meio milhão de reais ao mês que, segundo as investigações, vão parar nas mãos de diretores do Sindmotoristas, representante de motoristas e cobradores de ônibus em São Paulo.

O dinheiro seria desviado de contratos de planos de saúde da categoria, da compra de cestas básicas para os funcionários e de convênios com empresas, como farmácias e lojas de sapatos.

Há, ainda, uma parte da investigação que tenta saber se os diretores do Sindmotoristas fazem vista grossa para evitar denúncias sobre condições de trabalho de motoristas, cobradores e fiscais.

Na avaliação da polícia e da Promotoria, a entidade se transformou numa "central de corrupção" travestida de defensora da categoria.

De 1992 até agora, mesmo com mudanças na cúpula da diretoria, o roteiro dos crimes é muito parecido: um sindicalista contrariado começa a divulgar denúncias de desvio de verbas do sindicato ou de cobrança de propinas. Aparece morto meses depois.

Em meio à guerra, outras ligações suspeitas aparecem, como no caso do diretor de finanças Valdevan Noventa, investigado pela polícia sob suspeita de lavar dinheiro para traficantes da facção criminosa PCC.

O mandado de busca e apreensão contra Valdevan, segundo a Polícia Civil, não foi cumprido. Isso porque o diretor de finanças havia fornecido à polícia o endereço de familiares de sua esposa, no qual nunca morou. Por conta disso, revela Alexandra, "ele também poderá responder por falsidade ideológica".

A Folha tenta sem sucesso entrevistar o atual presidente do Sindmotoristas, Isao Hosogi, desde o final de outubro. Jorginho sempre prefere se manifestar via o jornal do sindicato, "O Veículo", no qual nega desvios de verba e envolvimento nos crimes.

Em outubro, por exemplo, uma "edição extra" do jornal sobre o assassinato de sindicalista Ramos, que havia gravado um vídeo no qual dizia que Jorginho era "o único interessado" em sua morte.

"Quero transmitir a seus amigos e familiares as condolências da diretoria, e dizer que estamos inteiramente à disposição dos órgãos públicos", afirmou Jorginho.

Veja Vídeo

 

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