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Mulheres contam sobre dificuldade em pedir ajuda após estupro
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DE SÃO PAULO
Era Dia das Mães de 2004. Ainda estava escuro, quando Marta saiu cedo de casa, por volta das 6h30, para visitar a família. Nas proximidades da estação Sé do metrô, centro de São Paulo, ela sentiu dois homens se aproximando. Eles a jogaram no chão e a doparam, fazendo cheirar um líquido entorpecente.
Estupradas demoram para buscar médico; é comum engravidarem e não poderem abortar
Quando acordou, estava sozinha, jogada na calçada suja de uma rua semideserta e sentindo muita dor. Gritou por socorro, mas ninguém surgiu para socorrê-la. Voltou andando para casa, sentindo-se a "última das mulheres". "Nem me olhava no espelho. Saí do emprego, não falava com ninguém, nem com a minha mãe", conta Marta, 36, vendedora.
Um mês depois, veio a notícia: estava grávida. Foi aí que reuniu forças para contar sobre a violência sexual à família e buscar ajuda médica. "Na delegacia, fizeram chacota comigo e insinuaram que eu poderia estar mentindo sobre o estupro só para fazer o aborto", lembra ela, homossexual assumida.
A gravidez foi interrompida alguns dias depois, no hospital Pérola Byington. "Foi um alívio, como sair de um pesadelo."
A mesma sensação é descrita por Daniela, 32, estuprada quando tinha 16 anos. Ela morava em Santana (zona norte) e foi visitar uma amiga no mesmo bairro.
Um homem se aproximou, agarrou seu braço, disse que estava armado e ordenou que ela o acompanhasse.
Ela obedeceu. Foi levada até uma favela e estuprada em um matagal. Na época, era virgem. O agressor a deixou, depois, no ponto de ônibus mais perto. "Era muito ingênua. Fiquei em estado de choque, só chorava."
Na mesma noite, a mãe a levou à delegacia, ao IML e ao hospital. Três semanas depois, porém, descobriu que estava grávida. O aborto legal foi feito rapidamente.
"Não havia a mínima possibilidade de ter aquele bebê. Foi um alívio quando tudo acabou", diz ela, hoje mãe de um menino de oito anos.
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