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"Estrondo" pré-tragédia atormenta vítimas das chuvas no Rio
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EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A NOVA FRIBURGO
"Pensei que o mundo estava acabando. Houve algum tipo de tremor junto. Algo que fez todos os morros descerem ao mesmo tempo". O comerciante Manoel Luis Alvez, 60, relembra com os olhos cheios d'água a tragédia do dia 12. Morador do Alto Floresta, um dos bairros mais pobres de Nova Friburgo (RJ), ele perdeu tudo que tinha. Um bar e R$ 500.
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A dimensão da tragédia é tão gigantesca, que a impressão relatada por Alves tem eco em todas as classes sociais friburgenses. Nas esquinas do centro da cidade, onde a vida começa a pulsar novamente, a palavra tremor ou terremoto é ouvida em praticamente todas as conversas.
Alguns, inclusive, falam até em ondas sonoras, que teriam reverberado entre todos os morros da região. Dezenas de moradores dizem que ouviram um grande estrondo e sentiram casas e janelas tremerem antes dos deslizamentos. Raios e trovões "fora do comum" também assustavam.
Outro fato ajuda a reforçar a tese de um tremor no imaginário popular: a hora dos deslizamentos de terra. Com exceção do centro da cidade, onde morros caíram por volta das 6 da manhã, nos outros locais, tudo ocorreu entre 2h e 3h da manhã. Bairros distantes, mais de 10 km ou 15 km entre si, sofreram praticamente de forma simultânea.
Especialistas ouvidos pela Folha descartam a tese de um terremoto típico. Mas concordam que o evento é raro. Anormal.
Caio Guatelli - 22.jan.11/Folhapress | ||
Em brinquedoteca adaptada no Ceasa, filhos de desabrigados aguardam os pais receberem donativos |
"Não é impossível pensar que a queda de uma barreira, dependendo da altura e da quantidade de rochas que caíram do morro, tenha causado um pequeno tremor. O que, aliado a chuva, acabou influenciando nos outros deslizamentos", afirma George de França, especialista em sismologia da UnB (Universidade de Brasília).
"Mas isso é apenas uma hipótese. Não temos como concluir nada a respeito disso", faz questão de frisar o pesquisador do Observatório Sismológico da UnB.
A região serrana do Rio não tem equipamentos sensíveis para medir tremores instalados nos morros, diz França. O que seria fundamental para que esse fenômeno pudesse ser melhor entendido pelos cientistas.
Independente de qualquer embasamento técnico, os friburguenses que olham todos os dias para as centenas de deslizamentos que ocorreram na região --existem morros com três ou quatro corridas-- vão continuar pensando que só uma chuva, por mais forte que ela tenha sido, não faria tanto estrago sozinha.
Geólogos que visitam a área, porém, dizem que o pico de chuva ocorreu mais ou menos na mesma hora, por isso as quedas simultâneas.
Marcos Michael - 23.jan.11/Folhapress | ||
Grupo de voluntários vindo do Rio entrega, por conta própria, donativos arrecadados para vítimas das chuvas |
Os especialistas, entretanto, concordam em um ponto. Não adianta apenas pensar na criação de sistemas de prevenção e alerta eficientes. "Em áreas como essa, as pessoas precisam ser bem treinadas, para agir de forma consciente, e salvar vidas, em situações como a que ocorreu", diz França.
"Conheço muito bem o exemplo do Japão. Toda a população sabe bem o que fazer em situações de emergência, provocadas quase sempre por terremotos".
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