Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
21/02/2011 - 11h18

Policial civil é suspeito de matar namorado viciado em crack

Publicidade

ANDRÉ CARAMANTE
DE SÃO PAULO

O policial civil Raimundo Clauber Miranda Brandão, 40, é investigado pelo Núcleo da Corregedoria da Polícia Civil em Taboão da Serra (Grande São Paulo) sob a suspeita de ter assassinado o auxiliar de produção Daniel Gustavo Medeiros, 29.

Segundo os parentes de Medeiros, ele e Brandão mantinham um relacionamento homossexual baseado na troca de moradia, roupas e drogas por parte de Brandão. Os dois se conheceram numa clínica de recuperação de dependentes químicos.

Após ter suas ligações telefônicas rastreadas pelo Centro de Inteligência Policial da Delegacia Seccional de Taboão, com autorização judicial, Brandão foi preso em 10 de dezembro, na Lapa (zona oeste de São Paulo).

Ainda segundo os parentes de Medeiros, que vivia em Limeira (151 km de SP) e era pai de um menino, ele era viciado em crack desde os 15 anos.

Investigador do 37º Distrito Policial (Campo Limpo), na zona sul de São Paulo, Brandão também é investigado atualmente sob suspeita de trocar favores sexuais com outros viciados em crack que frequentam a região central de São Paulo conhecida como Cracolândia.

A suspeita de aliciamento sexual por parte do policial contra outros viciados surgiu quando a corregedoria descobriu multas aplicadas ao veículo dele, um Gol preto dublê (carro de origem ilícita, mas com dados de registro iguais ao de um outro legalizado), na Cracolândia.

O dono do veículo original vive em Interlagos (zona sul de SP), mas o dublê de seu Gol, usado pelo policial, sempre cometia infrações de trânsito na Cracolândia.

TIRO ACIDENTAL

A investigação contra o policial começou em 1º de novembro de 2009. Nesse dia, Brandão e Medeiros foram a Taboão da Serra para supostamente comprar uma moto que o policial pagaria para o auxiliar de produção.

Medeiros dirigia o Gol dublê do policial. Ao estacionar em uma praça, o auxiliar foi baleado no rosto por um tiro que partiu da pistola calibre 45 do policial civil, que alegou disparo acidental.

Em vez de socorrer Medeiros em Taboão, cidade vizinha ao distrito policial onde ele trabalhava, Brandão seguiu para o Rodoanel e só parou em um posto da Polícia Militar Rodoviária já em Barueri (Grande São Paulo).

Os PMs ajudaram a socorrer Medeiros. O caso foi registrado na delegacia de Barueri pelo delegado Sérgio Augusto de Magalhães Melo, que não periciou o carro de Brandão e nem apreendeu a arma dele, apesar de ela constar como roubada nos cadastros da própria polícia.

Como o tiro transfixou seu rosto, Medeiros foi liberado e voltou para Limeira. No dia 6, Brandão foi até a cidade e, segundo Maria da Graça Medeiros, mãe do auxiliar de produção, o levou embora.

Três dias depois, a PM encontrou um corpo com as características físicas do auxiliar de produção em Campinas (95 km de SP) e, em setembro de 2010, ele foi identificado como Medeiros.

Exames periciais mostraram que Medeiros tinha dois ferimentos de tiros no rosto. Um deles, o que transfixou, era o do dia 1º de novembro. O segundo era o do dia 6 e cujo projétil ficou em seu corpo.

Os dois tiros partiram da mesma pistola calibre 45 que pertencia ao Estado, era usada por Brandão e não foi apreendida pelo delegado Sérgio Melo quando o policial disse ter atingido acidentalmente Medeiros.

Com a quebra do sigilo telefônico do policial, o Núcleo Corregedor da Corregedoria em Taboão também descobriu que ele esteve na região onde o corpo de Medeiros foi achado.

OUTRO LADO

O advogado Eronides Aguirre Lopes, defensor do policial Raimundo Brandão, disse não querer falar sobre as suspeitas contra ele.
Segundo Lopes, "como o caso ainda está em andamento e também por questões éticas", ele não pode falar nada em defesa de Brandão, que está preso no Presídio da Polícia Civil, no Complexo do Carandiru (zona norte de SP) e onde a reportagem não tem acesso.

O delegado Sérgio Augusto de Magalhães Melo, hoje chefe do 2º Distrito Policial de Carapicuíba (Grande SP) e responsável por não ter apreendido a arma do policial Brandão quando ele baleou Medeiros no rosto pela primeira vez, disse que, à época, "a história do policial civil o convenceu".

"Não apreendi a arma, mesmo constando que ela havia sido roubada, porque o policial nos disse que ela tinha sido recuperada e só faltava dar baixa no registro do roubo. Isso cabia à corregedoria", disse o delegado.

Questionado sobre o motivo de não ter periciado e não ter apreendido o Gol dublê em que Brandão estava com Medeiros, o delegado disse que "seus agentes [outros policiais] vistoriaram o carro e não acharam nada errado".

Melo também disse não saber o que aconteceu com Medeiros depois de ele ter sido liberado do hospital de Barueri em que foi socorrido.

O chefe dos investigadores do 37º DP, Marcio Digiorgio, disse que não houve favorecimento para Brandão fugir com o carro dublê da delegacia e que ninguém sabia dos possíveis crimes cometidos por ele. "O Brandão sempre foi um ótímo investigador", disse Digiogio.

O delegado Gilberto de Castro Ferreira, responsável pelo 37º DP, não qui atender a reportagem.

A delegada Maria Cristina Antunes Mazzarello, responsável pela 10ª Corregedoria Auxiliar, disse que a fuga de Brandão com o carro dublê é investigada pela Divisão de Crimes Funcionais da Corregedoria e que ela própria também será ouvida para descobrir se houve ou não favorecimento ao policial.

SAIBA MAIS

Em 22 de junho de 2010, quando o Núcleo da Corregedoria em Taboão da Serra foi ao 37º DP para apreender seu Gol dublê, Brandão foi avisado por seus colegas de trabalho sobre a operação e fugiu com o veículo, que estava estacionado no pátio da delegacia.

Existe a suspeita de que Brandão tenha sido alertado da operação pelo delegado chefe do DP, Gilberto de Castro Ferreira, ou pelo chefe dos investigadores do 37º DP, Marcio Digiorgio, sobre a busca da corregedoria pelo carro dublê.

Os policiais do 37º DP disseram ter apenas deixado Brandão ir até o carro para pegar uma mala que estava dentro do veículo, sem saber que ele iria fugir em alta velocidade com o Gol dublê.

O delegado Ferreira havia sido alertado sobre a operação pela delegada Maria Cristina Antunes Mazzarello, responsável pela 10ª Corregedoria Auxiliar, braço do órgão fiscalizador que cuida de possíveis crimes cometidos por policiais civis na Grande São Paulo.

O possível favorecimento para a fuga de Brandão também é alvo de uma investigação porque Gilberto Geraldi, delegado que tentava apreender o carro dublê de Brandão dentro do 37º DP e responsável pela investigação contra o policial, registrou a sua fuga na Corregedoria Geral da Polícia Civil.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página