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Margareth Levy (1908-2011) - A alemã e sua amiga brasileira
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ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
A amizade entre a alemã Maria Margareth Bertel Levy e a paranaense Aracy de Carvalho começou nos anos 30, em Hamburgo, na Alemanha. Margareth, lá nascida, era filha de judeus poloneses e, naquela época, sentiu-se ameaçada pelos nazistas.
Com a perseguição, seu marido, o dentista Hugo, escondeu-se, e ela foi providenciar a fuga dos dois. No consulado brasileiro em Hamburgo, conheceu Aracy, funcionária do setor de vistos.
Como era limitada a saída dos judeus, a brasileira tinha criado um esquema para ajudá-los, burlando as normas.
Aracy pôs o carro com placa diplomática a serviço de Margareth e conseguiu embarcar o casal com suas joias. Eles chegaram a SP em 1938.
Durante a guerra, a alemã perdeu mais de 20 familiares na Polônia; a mãe foi morta pelos nazistas em Varsóvia.
Em 1942, Aracy voltou ao Brasil casada com um colega de consulado, o escritor Guimarães Rosa, que anos depois dedicaria "Grande Sertão: Veredas" à mulher.
As duas se reencontraram e tornaram-se melhores amigas. Margareth era ativa, ia semanalmente ao banco, adorava jogar bridge no Guarujá e, até os anos 90, ainda guiava seu Corcel marrom.
Hugo foi dentista de famílias alemãs. Ele morreu há cerca de 20 anos. Como não tiveram filhos, Margareth passou a receber cuidados do filho de Aracy, Eduardo, que a adotou como segunda mãe.
Há dois anos, ela já não falava nem escutava direito. Na segunda (21), quando morreu aos 102, de falência de órgãos, a amiga passou mal. Aracy, hoje também aos 102, encontra-se hospitalizada.
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