Recém-nascida é submetida a cirurgia ligada à mãe pelo cordão umbilical
Uma recém-nascida foi submetida na última segunda-feira (28) a uma cirurgia considerada inédita no Brasil para reconstrução abdominal logo após o parto e ainda ligada à mãe pelo cordão umbilical.
O procedimento, realizado em um hospital de São José do Rio Preto (438 km de São Paulo), foi desenvolvido na Argentina e pode proporcionar recuperação em até 15 dias -menos de um terço do prazo pelo método convencional.
Outros benefícios citados pelos médicos são a retomada do funcionamento do intestino e a possibilidade de o paciente se alimentar sozinho, além de reduzir os traumas e possíveis infecções.
A gastrosquise -doença que resulta numa malformação e deixa parte do intestino exposto- foi identificada na 24ª semana de gestação da mãe de 15 anos por meio de um ultrassom.
A criança nasceu após 36 semanas de gestação (quatro antes do normal) porque os médicos acharam que era o momento para a cirurgia. O registro de gastrosquise é de 460 casos para um milhão e a incidência é maior em gravidez precoce.
De acordo com boletim médico divulgado nesta quarta-feira (30), a bebê já foi transferida da UTI e pode passar a se alimentar no seio materno já nesta quinta-feira (31), após uma avaliação médica.
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Equipe médica do Hospital da Criança, de São José do Rio Preto (SP), durante a cirurgia |
Segundo o cirurgião pediátrico do Hospital da Criança Paulo Nokaoski, onde foi realizada a cirurgia, o procedimento é menos traumático que o convencional porque é feito na hora.
A recém-nascida foi operada em dez minutos, ao lado da mãe, não precisou ir para outra sala e tampouco sofrer um corte para inserir um cateter na veia para a anestesia.
"Na cirurgia, não foi necessário submeter o recém-nascido a este trauma, pois ele foi anestesiado através do cordão umbilical", disse o cirurgião pediátrico Humberto Liedtke.
Ainda segundo os médicos, na cirurgia convencional, o orifício na barriga fica aberto e os bebês podem levar até três meses para que o intestino funcione satisfatoriamente.
A técnica foi desenvolvida pelo cirurgião pediátrico argentino Javier Svetliza. O parto precisa ser cesariano, realizado normalmente, com o objetivo de não prejudicar o intestino.
AVALIAÇÃO
Renato de Sá, presidente da comissão de medicina fetal da Febrasgo (federação das sociedades de ginecologia e obstetrícia), disse que a cirurgia foi importante para a medicina no Brasil.
Ele afirmou, no entanto, que o procedimento ainda está em fase de aperfeiçoamento e que a técnica enfrentou resistência de médicos numa apresentação no Rio de Janeiro.
"Apesar de ser um procedimento que reduz gastos hospitalares e que diminui as chances da criança de adquirir uma infecção, é necessário ter acompanhamento desde cedo. A cirurgia deve ser feita em um momento certo da gestação, para não oferecer complicações ao recém-nascido," disse.
Já o cirurgião pediatra Lourenço Sbragia, da USP Ribeirão Preto, disse que procedimento é considerado raro e que só tinha conhecimento dos casos ocorridos na Argentina.
Porém, segundo ele, como não há muito conhecimento sobre a cirurgia, não é possível afirmar se é bom ou ruim. "Um dos aspectos que deve ser avaliado é se o procedimento vai reduzir o tempo de recuperação do bebê."
Segundo a direção do hospital, a recém-nascida deve receber alta em 15 dias, enquanto no procedimento convencional leva até 20 dias para iniciar a alimentação e ter alta em 60 dias após o procedimento.
A cirurgia foi feita pelo SUS e acompanhada por cerca de 50 médicos e profissionais de saúde via videoconferência.
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