Combinação de fatores pode ter gerado tragédia, dizem especialistas
Tacógrafo vencido e incendiado parcialmente no acidente. Ônibus supostamente acima da velocidade indicada para o local. Falta de sinalização na pista.
Essa combinação de fatores pode ter contribuído para provocar o acidente que causou 11 mortes em Ibitinga (a 347 km de São Paulo) na última segunda-feira (27), segundo especialistas ouvidos pela Folha.
O tacógrafo –equipamento que registra e armazena a velocidade de um veículo– do caminhão envolvido no acidente estava vencido desde 27 de agosto, segundo certificado do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia).
Além de vencido, o tacógrafo do caminhão pode ter sido danificado pelo fogo, segundo o delegado Carlos Alberto Oliveira, que investiga o caso. Em sua avaliação, o fato pode dificultar as investigações, já que será difícil precisar a velocidade em que estava o caminhão no momento do acidente.
Edson Silva/Folhapress | ||
Corpo do estudante Thayro Matheus Polimeno, 17, é enterrado no cemitério de Borborema nesta quarta |
Já o tacógrafo do ônibus em que estavam as vítimas indicou que o veículo estava a 80 km/h, segundo Renata Bressan, diretora da empresa Jabotur, dona do coletivo.
O trecho onde ocorreu a tragédia está em obras e, de acordo com o DER (Departamento de Estradas de Rodagem), a velocidade permitida é de 60 km/h. Para o órgão, a rodovia Deputado Leônidas Pacheco Ferreira está bem sinalizada com placas.
"Andamos pelo local e não encontramos placa [indicando velocidade reduzida]", afirmou a diretora da empresa de ônibus.
O local do acidente está sem pintura de solo que indica a separação entre as pistas, o que pode induzir a acidentes, para o especialista em transportes pela Unicamp Carlos Alberto Bandeira Guimarães. "Com trecho em obra, a rodovia precisa ter sinalização especial. A ausência pode induzir ao erro, ainda mais à noite."
Segundo relatos, o motorista do caminhão perdeu o controle e invadiu a pista contrária. Para tentar evitar a batida, o motorista do ônibus tentou desviar. A carreta bateu na lateral do ônibus, que foi arrancada com o impacto. Além dos 11 mortos, 25 pessoas ficaram feridas.
O DER alegou que não é possível pintar sem que o asfalto do trecho seja completamente colocado, pois a sinalização atende normas previstas pelo Contran (Conselho Nacional de Trânsito).
Para o especialista em engenharia de transportes da USP Horácio Augusto Figueira, apenas a colocação de placas não basta e é necessário luzes intermitentes e patrulhamento constante da Polícia Rodoviária. "Mesmo em obras é preciso pintar o solo. Não importa que será preciso pintar de novo", afirmou.
Para moradores de Borborema, a estrada em obras está perigosa. "Está com degraus na pista. Não foi o primeiro acidente no trecho", disse Dalva Araújo, que perdeu a cunhada, a professora Margarete Aparecida Lucas dos Santos, no acidente.
Segundo o delegado, há indícios de que o caminhão tenha invadido a pista contrário e causado o acidente.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade