Análise: Estímulos ajudam, mas exagero pode ser prejudicial
Estímulos a bebês têm aparecido em diversos estudos como primordiais para o desenvolvimento das crianças. O desafio, porém, é acertar a dosagem.
Escolinhas bilíngues apostam na formação de "superbebês"
Para analisar um dos extremos --a ausência de estímulos-- o professor Charles Nelson, da Universidade Harvard (EUA), investigou crianças que cresceram em orfanatos na Romênia.
Editoria de Arte/Folhapress |
Durante a ditadura de Nicolae Ceausescu (1967 a 1989), as famílias --que, em geral, tinham péssimas condições socioeconômicas-- foram incentivadas a deixar seus filhos nesses locais. Entendia-se que o Estado cuidaria melhor deles.
O problema é que, como o número de crianças nos orfanatos cresceu muito, a estrutura ficou precária. Era comum haver média de 15 bebês para cada cuidador.
Nessa situação, também era comum que os bebês passassem a maior parte do tempo em berços, olhando paredes e tetos, sem estímulos ou interação com adultos.
A investigação de Harvard comparou esses bebês com outros que viviam com famílias. As do orfanato estavam em condições piores em linguagem, em testes de inteligência e na sociabilidade.
As atividades cerebrais eram menos intensas. Muitas eram estrábicas (resultado do tempo que passavam olhando para o teto) e não ajustavam o olhar em diferentes profundidades. Tinham também retardo físico. Estudos como esse concluem que estímulos nos primeiros meses e anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento até a vida adulta.
O temor de neurocientistas e pediatras é que, a partir dessa constatação, as famílias exagerem nas atividades e prejudiquem os bebês --com consequentes cólicas, distúrbios de sono e outros problemas. O que os estudos como o de Harvard mostram é que os estímulos considerados até mesmo rudimentares já fazem diferença.
A troca de olhares dos pais com o bebê ou a comemoração quando vêm os primeiros sons vocais estimulam áreas do cérebro em formação, que, mais tarde, terão impacto na capacidade de interação social, na confiança e também no raciocínio.
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