Salário varia entre menos que o piso e padrão finlandês
Em uma comparação internacional, o tão discutido piso salarial dos professores, fixado em R$ 1.567, coloca o Brasil atrás de México e Argentina e junto às nações do Leste Europeu.
Dois fatores relativizam tal número, porém. Um é que vários Estados não cumprem o piso. Cinco governadores (MS, PR, SC, RS e CE), em 2012, inclusive foram ao Supremo Tribunal Federal questionar a lei.
Veja o especial Quem educa os educadores?
Alguns Estados, porém, pagam além do valor federal.
No Distrito Federal, o salário inicial com gratificações é R$ 4.300 --em paridade no poder de compra, ultrapassa o da Finlândia. O teto é de R$ 8.000. O piso no Estado vizinho, Tocantins, também é maior que R$ 3.000.
Se já é difícil, em função das variações regionais, saber se o salário é bom, a discórdia segue quando se pergunta se aumentá-lo traria soluções.
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Sindicatos e boa parte dos pedagogos das universidades públicas fazem comparações.
Na média, um engenheiro civil ganha mais do que o dobro de um professor de educação básica da rede pública. Isso criaria desmotivação.
Eles pedem 10% do PIB indo obrigatoriamente à educação --hoje, são cerca de 6%.
Já a maioria dos especialistas em gestão da educação, em geral vinculados à área de economia, discordam. O mais famoso deles é o economista Gustavo Ioschpe.
Para ele, aquilo que é bom para o professor --mais salário, mais férias, estabilidade e liberdade para montar seu plano de aulas-- é "irrelevante ou até maléfico" ao aluno.
O que melhora a educação de fato, diz Ioschpe, jamais seria defendido por sindicatos, pois envolve mais esforço: passar mais lição de casa, mais provas, preparar mais as aulas e estudar mais a sua própria disciplina.
"[Os bons] Parecem não fugir do magistério pelo valor do salário, mas por ele não ter relação alguma com desempenho. Nenhum deles quer ganhar o mesmo que os vagabundos e os incompetentes", defende o economista.
Para esse grupo, um professor ruim com um salário maior continua sendo ruim.
Editoria de Arte/Folhapress |
AVALIAÇÃO E SALÁRIO
O desempenho dos Estados em testes como o Ideb, exame federal que mede a qualidade no ensino, parece não revelar muita relação com o salário médio.
Tocantins, por exemplo, fica abaixo da média. Santa Catarina está entre os primeiros, e o Ceará é o melhor do Nordeste --ambos questionaram no STF o piso nacional.
O debate salarial anda junto a uma discórdia maior, sobre os objetivos da escola.
Uma bandeira da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação é a felicidade na escola.
A "formação para a vida" contrasta com o excesso de provas cobrando conteúdo, e a pedagogia "punitiva" que "só serve ao capital".
Já os opositores admiram o ministro da Educação de Portugal, Nuno Crato. Ele tem dito que não adianta educação cívica se os formandos saem incapazes de ler jornal.
Ele defende forçar alunos a ler e a decorar a tabuada, mesmo que a princípio não gostem, até que tornem essas ações automáticas e avancem nos estudos.
Derivam da guerra várias batalhas, como a inclusão de sociologia e filosofia na escola e a idade de alfabetização.
Veja a opinião de João Batista Araújo e Oliveira, secretário executivo do MEC na gestão FHC: "A ciência mostra que a criança deve ser alfabetizada aos seis anos. Depois, fica atrasada. E temos matérias demais. Português e matemática deveriam ter primazia. Na faculdade de pedagogia, não se aprende conteúdo ou técnica, só teorias desatualizadas".
Compare com Dalila Oliveira, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação: "Nunca é tarde para aprender a ler, e é ótimo que alunos desenvolvam conceitos sociológicos e filosóficos para entender o mundo".
"Creio ser temerário inserir a lógica empresarial na coisa pública. O fim da educação é a emancipação, não a nota no Ideb."
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