Bilíngues recorrem ao período integral desde cedo para facilitar aprendizado
Oferecer o ensino bilíngue em tempo integral é uma opção das escolas para facilitar o aprendizado de dois idiomas. A prática já é oferecida desde o ensino infantil em alguns casos.
A maior vantagem de expôr crianças de dois a cinco anos a duas línguas é que elas aprendem por associação e não por estrutura linguística, como adultos, segundo Carla Dauch, coordenadora do currículo bilíngue do Visconde de Porto Seguro. "É como uma esponjinha", explica ela.
A escola criou nesse ano uma turma semi-integral bilíngue. A ideia é permitir que alunos do primeiro ano do fundamental tenham mais exposição à língua estrangeira.
A turma conta com 50 crianças, que almoçam na escola, fazem a lição de casa e participam de algumas atividades lúdicas, três vezes por semana. Tudo em alemão.
Uma das alunas é Valentina Martinez, 6. Segundo ela, "é mais ou menos fácil" aprender a língua, que ela ouve todos os dias desde a manhã até o fim da tarde.
O pai de Valentina, David Martinez, 45, explica que optou pelo semi-integral porque a filha pedia para ficar mais tempo na escola. "Achamos que mais contato com a língua ajudaria", afirma.
"Até os quatro anos, o aparelho fonético está em desenvolvimento, então a chance de a criança ter uma pronúncia próxima de um nativo é muito grande", diz Jacqueline Cappellano, coordenadora do ensino infantil da Escola Internacional de Alphaville.
Lá, o período semi-integral é opcional até os quatro anos, enquanto as crianças passam por uma imersão total no inglês. Depois, o integral passa a ser obrigatório.
BRINCADEIRA
Na escola Humboldt, também há a possibilidade de ensino semi-integral no currículo bilíngue, tanto no infantil quanto no fundamental. As crianças podem ficar de dois a cinco dias à tarde na escola.
"Tem momentos em que as crianças podem brincar em alemão, para motivar e estimular a falar a língua estrangeira", afirma Hans Wagner, vice-diretor do colégio.
A importância dada ao tempo de imersão tem a ver com o perfil dos pais que buscam escolas bilíngues. A maioria hoje é formada por brasileiros, e só 20% são estrangeiros. Antigamente, a proporção era invertida.
"Antes, era uma escola de expatriados. Os alunos que falavam português eram castigados", conta Louise Simpson, diretora da britânica St. Paul's. Escolas como ela e o Liceu Pasteur (francês), que se intitulam internacionais, sempre tiveram o ensino integral como regra, já que seguem o currículo europeu.
"As crianças precisam estar imersas. Nas férias, têm que ver filmes em inglês, ler um livro, ouvir música", diz a diretora do St. Paul's, que acredita que o ensino integral tenha um papel crucial.
"Existe uma relação entre a quantidade de tempo que a criança é exposta e quanto ela aprende", explica Alessandra Del Ré, pesquisadora de linguística da Unesp. "Dificilmente ela vai ter um domínio igual nas duas línguas".
Os pais não precisam se preocupar com a possibilidade da língua estrangeira preponderar, no entanto, já que o vínculo afetivo com a língua falada em casa prevalece.
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