Combatendo desperdício, estudantes elevam renda de agricultores no RJ
O agricultor Claudino Avelino da Costa, 55, vive há 12 anos da produção de alimentos orgânicos em Rio da Prata, na reserva florestal Parque Estadual da Pedra Branca, em Campo Grande, no Rio de Janeiro. Ele, que nasceu no local, e seus 49 companheiros na comunidade buscavam uma alternativa sustentável para diminuir o desperdício de alimentos no transporte. Na comunidade, que fica isolada dentro do parque, a principal forma de trabalho é a agricultura.
A região oeste da cidade é uma das responsáveis pelo abastecimento das feiras da zona sul, onde os agricultores da Associação de Agricultores Orgânicos da Pedra Branca (Agroprata) comercializam hortaliças, caquis e bananas orgânicos. No percurso entre as plantações, a associação e as feiras, feito em parte por burros, boa parte da produção ficava pelo caminho.
Agroprata/ Divulgação | ||
O agricultor Luiz Carlos Santana, da Agroprata, transporta alimentos orgânicos |
Mas com a chegada de 50 universitários do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro (Cefet-RJ), em janeiro deste ano, a realidade de Avelino e seus companheiros tem mudado. Unidos no projeto Aggros, eles conseguiram eliminar o desperdício de alimentos mudando a forma de conduzir a produção. Passaram a reaproveitar as próprias folhas de bananeiras para forrar as caixas e proteger os caquis dos atritos das viagens.
O trabalho desenvolvido pelos alunos possibilitou que os produtores agrícolas aumentassem a renda em 33%, segundo o estudante de engenharia de produção Yuri Benevides, 21. "Eles são agricultores orgânicos esquecidos. Quando aparece qualquer tipo de ajuda é muito importante para a comunidade. Agora eles acreditam em si mesmos", diz Tiago Laurentino, 21, do curso de administração.
"Antes perdíamos muitas frutas in natura e jogávamos fora. Agora os estudantes nos orientam", conta Avelino, um dos fundadores da Agroprata. Boa parte do território da Pedra Branca foi transformado no Parque Estadual da Pedra Branca – uma área de conservação integral, em 1974, impulsionando os tradicionais agricultores da região à produção de alimentos orgânicos.
A principal atividade dos alunos que favoreceu a elevação dos números dos agricultores foi a criação de um vinagre à base de caqui reaproveitado, produzido pelos próprios integrantes da Agroprata e comercializado nas feiras da cidade. Com a venda desse produto, eles conseguem faturar 33% a mais do que com o próprio caqui. Além disso, desenvolveram o caqui-passa e a banana-passa – espécie de fruta cristalizada feita com o alimento que antes iria para o lixo.
Agroprata/ Divulgação | ||
Agricultor comercializa produtos orgânicos na Feira Orgânica do Rio da Prata, no Rio de Janeiro |
"Entrei no projeto há três anos como uma oportunidade de desenvolvimento profissional. A princípio estranhei, mas um bando de moleques pode desenvolver um projeto e ajudar a vida de várias pessoas", conta Benevides. Depois do trabalho dos universitários, a Agroprata notou um aumento de 23% de moradores que os procuraram para unir forças e fazer parte da associação. Atualmente, 192 moradores são impactados pelos efeitos do projeto.
Além de reduzir o desperdício, os universitários trabalharam outra frente com os agricultores: o empoderamento. Eles ofereceram treinamento em gestão financeira, de controle de produção e dos associados, além de divulgar a feira orgânica. O Aggros pretende trabalhar o desenvolvendo da associação por mais dois anos, até que se tornem totalmente independentes.
O CAMINHO
O projeto Aggros é um dos 50 que integraram a organização Enactus Brasil, que busca universidades públicas e privadas para implantar um programa de empreendedorismo jovem, além de receber pedidos dos estudantes para montar um projeto em suas faculdades. De forma gratuita, os alunos são orientados e recebem apoio para identificar um problema social e uma solução em comunidades vulneráveis de seu Estado.
Estudantes ou universidades que desejem levar o projeto para seu campus devem entrar em contato pelo e-mail thiago.ermano@ancomunicacao.com.br ou pelo telefone (11) 2885-9715. Instituições de ensino e alunos não pagam para ingressar no projeto.