Com apelo social, plataforma on-line atrai investidores para start ups
Na hora de diversificar suas aplicações, o advogado Murilo Morelli, 33, encontrou em uma start up um bom investimento. Comprou R$ 10 mil em ações por meio de uma plataforma de financiamento coletivo, chamado de equity crowdfunding.
Com as economias divididas em fundos CDI e poupança até então, ele se tornou em dezembro um dos investidores do Programa Vivenda, um negócio social que realiza reformas de baixo custo em favelas de São Paulo.
"O que me interessou foi o projeto em si", explica o advogado. "O foco não é o retorno financeiro."
Além de diversificar as aplicações, ele comprou ações de uma empresa que tem como missão melhorar as condições de vida da população de baixa renda. "Foi um jeito de apoiar um projeto com a certeza de que ia ter pelo menos a correção da poupança."
O novo tipo de captação aprovado pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) em 2014 já atraiu mais de 600 investidores ativos, que utilizam a plataforma on-line Broota para fazer suas aplicações.
Desde então, cerca de R$ 6 milhões foram investidos em start ups e negócios de impacto social.
Estreante nesse tipo de investimento, a jornalista Gabriela Sylos, 33, só tinha ousado até então ao comprar papéis do Tesouro Direto.
Foi no Facebook que ela descobriu o link para a plataforma de financiamento para negócios sociais. "Tinha interesse em ajudar, mas jamais trabalhei no terceiro setor", relata.
Gabriela investiu o valor mínimo da captação: R$ 2.500. Achou a operação simples e a plataforma didática. "É uma forma bem diferente de colaborar, tem retorno financeiro, mas sei que é de risco. Estou esperando no que vai dar."
Mais experiente, Roberto Politi, 52, superintendente de investimentos do Banco Ourinvest, também se interessou pelo Broota e acabou investindo em sete negócios iniciantes que estão captando na plataforma, entre eles Pet Delícia, Timokids e Vivenda.
De portfólio mais conservador, suas aplicações sempre foram em renda fixa, bolsa de ações e fundo imobiliário. "Achei interessante poder unir investimento em start up com tese social."
Ele aposta em retorno no Vivenda, criada há apenas dois anos por Fernando Assad. " [O negócio] tem uma área de atuação interessante e tudo para crescer", diz.
Assad se diz surpreso com o perfil diversificado de investidores que colocaram R$ 445 mil em seu negócio por meio do equity crowdfunding. "A gente não imaginava qual era o perfil e veio de tudo."
Ele contou com a assessoria da Din4mo. A consultoria especializada em negócios sociais faz a ponte com potenciais investidores e auxiliou também na captação de R$ 600 mil para a Impact Hub, um espaço de trabalho compartilhado para empreendedores de impacto.
"Periodicamente, os investidores recebem informações, relatórios financeiros, legais e operacionais. É isso que muda, principalmente. É preciso ser compreensível para todos", explica Marco Gorini, sócio da Din4mo.
É o tipo de garantia que faz investidores de maior porte entrarem na carteira. A InterCement, multinacional da área de cimento, por exemplo, investiu R$ 150 mil na Vivenda pelo Broota.
Usou para isso a NeoGera, uma empresa da holding criada em 2014 justamente para investir em start ups.
O relacionamento entre o Vivenda e a empresa já vinha ocorrendo, quando o negócio social começou a buscar potenciais parceiros do setor de construção para baratear os custos das reformas que realiza.
"No Vivenda, a gente tem dois pilares, e um deles é comprar material mais barato. Para isso, a estratégia é se aproximar da indústria", afirma Assad.
Parte do dinheiro obtido pelo financiamento coletivo viabilizou a abertura da primeira loja Vivenda, na terça-feira (5), no Jardim Ibirapuera, na zona sul de SP.
"O objetivo não é só vender reforma, mas construir parcerias, como a da InterCement, com viés de desenvolvimento para fidelizar o cliente", explica Assad.
O próximo passo do Vivenda é validar o modelo de negócio de reformas de baixo custo e alcançar 1 milhão de clientes a partir de 2017.