No Brasil, onde cerca de 150 mil estrangeiros buscaram ou estavam em situação de refúgio em 2017, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), iniciativas têm ajudado imigrantes a ingressarem no mercado de trabalho local.
O projeto Empoderando Refugiadas, parceria entre Acnur, ONU Mulheres e Rede Brasil do Pacto Global, por exemplo, foi criado para dar suporte a mulheres refugiadas para se tornarem economicamente independentes.
Uma dessas mulheres é a advogada Sylvie Mutiene Ngkang, 35, que deixou o Congo com seus dois filhos após o marido ser preso ao se envolver com política. Pretendia ir para a Europa, mas o navio onde estava aportou no Brasil. Aqui, trabalhou como faxineira em casas e em uma escola.
“Quando fiquei grávida do meu terceiro filho, não entendia como funcionavam as leis e escondi de todo jeito porque não sabia se poderia ser demitida ou não”, diz a africana. Atualmente, ela trabalha como recepcionista bilíngue na Sodexo.
A multinacional da área de serviços de alimentação contrata refugiados desde 2010, quando o Brasil recebeu uma grande leva de haitianos. No total, são mais de 80 refugiados –cerca de 0,25% dos funcionários– de países como Congo, Angola e Síria.
De acordo com Lilian Rauld, coordenadora de Diversidade e Inclusão da Sodexo, a empresa acompanha o trabalhador refugiado ao banco e o auxilia em outras burocracias brasileiras. “Fazemos também um trabalho prévio com as equipes, para acabar com preconceitos e mitos. Explicamos que é uma pessoa estrangeira, com outra cultura, outro idioma, outra religião.”
Criada em 2015, a ONG Migraflix já ajudou mais de 170 refugiados e imigrantes, de 24 países, capacitando os estrangeiros para que desenvolvam o espírito empreendedor, explicando como gerir uma cozinha ou divulgar seus trabalhos.
O argentino Jonathan Berezovsky, fundador da Migraflix, morou quatro anos em Israel antes de se mudar para o Brasil, em 2014. “Lá, trabalhei em uma ONG que trabalhava com microcrédito para refugiados e, quando vim para cá, tentei fazer algo parecido. Como não achei, passei a trabalhar com o empoderamento cultural dos imigrantes”, conta.
A organização faz o intermédio entre empresas e refugiados atuando em três frentes: workshops culturais –o imigrante mostra culinária, música e arte de seu país natal–, palestras motivacionais –temas específicos são abordados de acordo com o intuito de quem contrata– e bufê –o estrangeiro prepara a comida típica de seu país. Entre as opções de café da manhã, happy hour e jantar, há pratos do Peru, da Venezuela e da Costa do Marfim, por exemplo.
Uma empresa que está começando a atuar nessa causa é a WeWork, multinacional de coworking que aluga desde mesas a prédios inteiros, oferecendo salas de reunião, limpeza e material de escritório. O braço brasileiro, que existe desde julho de 2017, trouxe para o país o projeto WeWork Refugee Initiative.
“Um dos motivos para trazer o projeto para a América Latina foi a crise dos venezuelanos vindos para o Brasil. Pessoas que têm muito potencial para aplicar seus talentos aqui”, afirma Camila Weber, gerente de Comunicação e Relações Institucionais da WeWork no Brasil.
“Além das oportunidades que pretendemos ter aqui, queremos usar o poder de conexão que temos para sensibilizar outras empresas, conectar quem quer ajudar com quem precisa.”
A iniciativa, que já empregou 150 refugiados nos Estados Unidos e na Inglaterra desde o ano passado, pretende contratar 1.500 pessoas até 2022.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.