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11/03/2011 - 16h33

Microcrédito e combate à pobreza

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JULIO VASCONCELLOS

O Prêmio Nobel da Paz, quando comparado às demais categorias, costuma ser o mais controverso em suas escolhas. Não foram poucas as vezes em que o prêmio foi concedido a pessoas que muitos julgavam não merecê-lo. O Prêmio de 2006, concedido a Muhammad Yunus e ao Branco Grameen -apesar de ele ter sido demitido do banco ontem, por questões de ordem política-, talvez tenha sido um dos mais consensuais. Poucos são aqueles que contestam o papel do microcrédito no desenvolvimento econômico e no combate à pobreza.

A junção desses mecanismos com a internet e as redes sociais é um catalisador ainda mais revolucionário, digno de um novo prêmio, caso isso fosse possível. Entre os mais pobres, a impossibilidade de oferecer algum tipo de garantia em bens que possam eventualmente ser hipotecados para assegurar o pagamento das dívidas é um dos limitadores no acesso ao crédito tradicional.

Para contornar esse impedimento, o Banco Grameen, fundado por Yunus, lançou mão de um engenhoso mecanismo: a pressão social.

Para conseguir um empréstimo daquele banco, o indivíduo deve se juntar a outros e, enquanto grupo, solicitar o crédito. O dinheiro é liberado inicialmente apenas para um dos membros. Os demais membros passam a ter acesso ao dinheiro somente à medida que o empréstimo inicial é pago. Quem aguarda na "fila" para receber um empréstimo não apenas exerce pressão intimidatória mas também atua de maneira positiva, aconselhando o devedor na condução de seus negócios para que ele tenha recursos suficientes para pagar o devido.

O uso de redes sociais por parte de bancos como o Grameen pode catalisar todos esses processos. Os dados fornecidos por redes como Facebook e Orkut podem ser empregados em uma "análise de crédito" para avaliar a força do vínculo entre os que pleiteiam um empréstimo e também para formar novos grupos.

Enquanto essa utilização das redes sociais ainda está no campo das conjecturas, outra aplicação, no campo da captação de recursos, já é realidade.

Há cerca de seis anos, uma grande amiga, chamada Jessica Jackley, fundou uma ONG que mantém com um portal na internet chamado Kiva, que viabilizou outro mecanismo inovador: o microempréstimo entre indivíduos.

Quem tem uma demanda por crédito relata sua história na página, indicando como pretende utilizar o dinheiro. Na outra ponta, quem tem disponibilidade de emprestar acessa o portal aposta seus recursos nas diferentes iniciativas e acompanha passo a passo a sua aplicação.

Creio que essa dinâmica do relato de histórias e a interação direta entre indivíduos por meio da internet explica boa parte do sucesso do portal, que já viabilizou as atividades de mais de 500 mil empreendedores, intermediando empréstimos que somam quase US$ 200 milhões.

Há ainda uma iniciativa fascinante que combina concessão de crédito com empreendedorismo e tecnologia em lugares rústicos e extremamente pobres. Dentro do grupo do Grameen Bank criou-se a Grameen Telecom, que disponibilizou o sinal de telefonia celular em vilas rurais isoladas de Bangladesh.

Contudo tamanha é a pobreza nesses lugares que são poucos os conseguem adquirir um aparelho de telefone celular. Para contornar esse obstáculo, criou-se um programa chamado "Village Phone", por meio do qual habitantes desses vilarejos passaram a pegar microempréstimos para adquirir telefones.

Esses aparelhos passaram a ser "alugados", como se fossem orelhões, para aqueles que desejam fazer ligações. Em um curto espaço de tempo, montou-se uma rede capilarizada até os mais ermos vilarejos e também um negócio e fonte de renda para os donos dos telefones.

O mais instigante é imaginar que mesmo as experiências internacionais ainda são incipientes se considerarmos o potencial de transformação social provocado pela união de inclusão digital com microfinanças e inclusão bancária.
Tenho certeza de que a propagação desses processos, já em curso no Brasil, vai gerar experiências estimulantes que certamente serão relatadas nesta coluna. Aguardemos.

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Julio Vasconcellos, 30, economista, é fundador e presidente-executivo do site de compras coletivas Peixe Urbano. Escreve mensalmente uma coluna na Folha de S.Paulo.


 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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