Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
14/03/2011 - 15h04

"Sustentabilidade é algo que não se improvisa"

Publicidade

PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
EDITORA DE SUPLEMENTOS

Sustentabilidade e desenvolvimento andam de mãos dadas, especialmente em um contexto que envolve problemas agudos como a questão fundiária, a pobreza, o desmatamento predatório e cidades mal planejadas e inchadas pela migração rural, afirma o professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Em entrevista à Folha, Marcovitch conta as conclusões de seu novo livro, "A Gestão da Amazônia - Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas", que será lançado nesta semana, e diz que "sustentabilidade é algo que não se improvisa".

Arquivo pessoal
Professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração da USP
Professor Jacques Marcovitch, da Faculdade de Economia e Administração da USP

No Brasil, "ainda não é um fenômeno que tenha impacto sistêmico e notável na estrutura produtiva". Para ele, "as mudanças precisam evoluir de modo que a maioria das empresas, e não apenas um grupo de elite, conscientize-se de que, além dos acionistas, existem outras pessoas beneficiárias de seus negócios", e que "os métodos de gestão incluem-se entre os elementos cruciais para caracterizar uma empresa como praticante da sustentabilidade".

Marcovitch e os especialistas citados na obra participam de dois seminários nesta semana, em Manaus e em São Paulo (confira a programação em www.fea.usp.br).

Folha - A principal conclusão da sua obra é que a sustentabilidade amazônica é indissociável do crescimento econômico e de estratégias de gestão voltadas para o empreendedorismo?

Jacques Marcovitch - O empreendedorismo na Amazônia tem um sentido mais largo. Abrange não apenas iniciativas isoladas, mas um movimento empresarial significativo, como o que se esboça do survey constante do nosso livro. Insere-se, nesse quadro, a valorização econômica da floresta em pé. E devemos destacar a remuneração de serviços ambientais pela via do mecanismo REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação), inspirada na obra do pioneiro brasileiro Samuel Benchimol [morto em 2002, autor de mais de cem estudos e livros sobre desenvolvimento sustentável da Amazônia] e que foi consensual na última Conferência das Partes realizada pela ONU [Organização das Nações Unidas].

A Amazônia reclama créditos de carbono armazenados na floresta e que proporcionam benefícios para todos os países. Essa remuneração de REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação) adquiriu ênfase na pauta da diplomacia brasileira, tal como aconteceu com o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. Já se pode calcular, hoje, o estoque de carbono por hectare de floresta, determinando-se uma área foco e suas probabilidades de desmate. Estudos sérios, alguns já publicados na revista "Nature", demonstram ser possível identificar as maiores probabilidades anuais, em todas as áreas da Amazônia.

Folha - Quais são as ações prioritárias para que o Brasil assuma sua responsabilidade diante da sustentabilidade do bioma?

Marcovitch - A pauta de prioridades ambientais é muito diversificada. O Brasil assumiu, perante o mundo, metas ambiciosas para conter o desmatamento, mas há outros desafios que ainda reclamam um posicionamento. Os mais urgentes incluem maior preservação da biodiversidade, ampliação do leque de energia limpa, zoneamento ecológico-econômico e, no quadro social, autossuficiência das famílias em suas atividades não-madeireiras e implantação nos municípios amazônicos de políticas sanitárias efetivas.

Folha - Seu livro apresenta uma pesquisa realizada com dez empresas de grande porte que desenvolvem atividades sustentáveis na região. Quais os principais resultados? A exigência internacional de que exportadores apresentem certificações de suas práticas ambientais está fazendo as empresas reverem suas políticas?

Há uma tendência em processo de consolidação no universo corporativo. Ganha corpo a ideia de que a certificação não é apenas um instrumento de marketing e sim de abertura de mercado externo. No livro, é registrado o comentário emblemático de um grande executivo sobre as ações sustentáveis: "Não estamos fazendo isso porque somos bonzinhos, mas porque somos inteligentes".

É preciso assinalar que a consciência ambientalista domina todo mercado consumidor externo. Empresas começam a se preocupar com isso. Não basta, porém, que um produto seja ecorresponsável. Continuam as exigências de qualidade e preços atraentes. A sustentabilidade é algo que não se improvisa. Para bem cumpri-la, o gestor empresarial deve adotar uma regra de ouro: respeitar o ambiente e dominar muito bem o seu negócio. No Brasil, a sustentabilidade ainda não é um fenômeno que tenha impacto sistêmico e notável na estrutura produtiva. As mudanças precisam evoluir de modo que a maioria das empresas, e não apenas um grupo de elite, conscientize-se de que, além dos acionistas, existem outras pessoas beneficiárias de seus negócios.

Os métodos de gestão incluem-se entre os elementos cruciais para caracterizar uma empresa como praticante da sustentabilidade. Para tanto, é necessário que esse conceito se faça presente no mecanismo nuclear de todo o empreendimento, ou seja, aquele que influi nos resultados financeiros. Ao contrário do que se supõe ordinariamente, uma empresa em si mesma não pode ser sustentável. O que se espera dela é que adote estratégias de contribuição para o desenvolvimento assim denominado.

Folha - Questão fundiária, pobreza, desmatamento predatório, cidades mal planejadas e inchadas pela migração rural. Com esse cenário, como ser sustentável?

Marcovitch - Vários fatores mostram-se determinantes. Em primeiro lugar, não devemos perder de vista o bem-estar das populações. Elas não podem esperar indefinidamente um modelo completo de transformações sustentáveis. É necessário ainda ter em vista a rentabilidade dos empreendimentos ambientais e fazer que também sejam, em grande parte, desenvolvidos por empresas de pequeno porte, originárias do trabalho familiar.

Vemos o cenário com algum otimismo. Enquanto fortes corporações ampliam projetos ambientais e até modificam, para tal finalidade, o seu tradicional modelo produtivo, representações institucionais do empresariado celebram acordos com o governo federal nessa mesma direção.

Evolui, na gestão ambiental da Amazônia, a experiência do Protocolo de Montreal e do Protocolo de Kyoto, que estabeleceram historicamente obrigações éticas em lugar de instrumentos coercitivos, com o propósito de mitigar as emissões globais de gases poluentes.

Esses acertos setoriais poderiam servir de modelo e ganhar maior amplitude na formação de um Conselho de Desenvolvimento Ambiental, que seria coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, em moldes assemelhados aos do Conselho de Desenvolvimento Econômico. Sua finalidade seria buscar um grande acordo nacional em torno de questões centrais de uma pauta dispersa, hoje, em audiências públicas e confrontos previsíveis entre ONGs, lobbies, governo, cientistas e empresários. Um dos papéis executivos do conselho seria, por exemplo, a consolidação e harmonização das leis relativas ao tema, jurisprudências estabelecidas e eventuais contradições entre códigos que regem procedimentos por estados ou municípios.

O novo mecanismo político em nenhuma hipótese substituiria o debate salutar entre as partes, que tradicionalmente se trava no âmbito das audiências públicas. Ensejaria, porém, o surgimento de uma força moderadora capaz de dirimir conflitos, tendo como elemento agregador o conceito de que não se pode mais divorciar o ambientalismo do desenvolvimento.

Folha - Há um modelo-padrão de gestão para a Amazônia?

Divulgação
Capa do livro "A Gestão da Amazônia"
Capa do livro "A Gestão da Amazônia"

Marcovitch -A Amazônia é certamente a região mais estudada do planeta. Não faltam modelos para uma gestão adequada, quase todos convergentes nas propostas essenciais. Vejo o Estado do Amazonas, de modo geral, como exemplo em políticas públicas ambientais. É bastante animador que a floresta localizada nessa unidade federativa esteja preservada em 98% de sua extensão. A parceria pública-privada que resultou na Fundação Amazonas Sustentável e na concepção da Bolsa Floresta são iniciativas que merecem acompanhamento. Reclama-se, entretanto a execução de um amplo programa coerente, que transforme em pactuantes ativos todos os governos estaduais, o governo central, as empresas, as ONGs, os pesquisadores que ali atuam. É fundamental que todas as ações visem, de forma direta, a viabilização da Amazônia como o território desenvolvido, mantida a sustentabilidade ambiental e garantidas melhores condições de vida para comunidades atualmente mergulhadas na pobreza e sem portas visíveis de saída.

"A Gestão da Amazônia - Ações Empresariais, Políticas Públicas, Estudos e Propostas"
Autor: Jacques Marcovitch
Editora: Edusp (www.edusp.com.br)
Lançamento: dia 14, em Manaus; dia 16, em São Paulo
Preço: R$ 48
Páginas: 310


 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

As Últimas que Você não Leu

  1.  
  • Realização
  • Patrocínio
    • CNI
    • Vale
  • Parceria Estratégica
  • Parceria Institucional
  • Divulgação
    • Aiesec
    • Agora
    • Brasil Júnior
    • Envolverde
    • Endeavor
    • Ideia
    • Make Sense
    • Aspen
    • Semana Global de Empreendedorismo
    • Sistema B
    • Avina

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página