Os jovens e a sustentabilidade

Apesar dos conceitos de sustentabilidade e desenvolvimento sustentável estarem cada dia mais difundidos no mercado em geral, o meio acadêmico ainda não reconheceu a importância desse tema e está deixando de participar efetivamente de tais debates.

As faculdades de administração não só estão falhando em não preparar os futuros gestores para lidar com esses novos desafios, como também estão inovando muito pouco na análise da influência da adoção de tais práticas nos processos de gestão e até no próprio desenvolvimento dos conceitos em si.

Uma pesquisa realizada em 2010 com o corpo discente da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) apontou, por exemplo, que os alunos da casa já estão bastante conscientes da importância do desenvolvimento sustentável para empresas e organizações, mas sentem que ainda falta um maior interesse da faculdade em abordar essa discussão.

Dos 441 participantes desse levantamento, 91% demonstraram ter interesse médio ou alto no assunto e 83% avaliaram que o interesse da faculdade sobre o tema tende de médio para baixo.

Tal observação, aparentemente local e pontual, ganha amplitude nacional quando se constata que, até o momento, nenhum curso de administração de empresas no Brasil aborda o tema de forma transversal em sua grade curricular, por exemplo.

Alguns centros de estudos ligados às universidades têm realizado algumas ações no sentido de inserir tais debates como matérias optativas ou em eventos direcionados à comunidade acadêmica. Mas ainda são atividades pontuais, que não fazem parte do calendário ou estrutura oficial das faculdades e universidades.

Outro exemplo dessa indiferença da maior parte do meio acadêmico nacional com relação ao tema sobre sustentabilidade é o fato de apenas nove instituições de ensino brasileiras serem signatárias de um protocolo internacional voltado justamente para a formação em práticas responsáveis de gestão - "[Principles for Responsible Management Education]:http://www.unprme.org/.

Esse relativo descaso das universidades acaba se refletindo na maneira como essas informações estão chegando aos jovens. A mesma pesquisa feita na FEA-USP demonstrou que, para os alunos, as duas maiores fontes de informação sobre sustentabilidade são jornais e revistas (33%) e palestras e eventos (23%).

Ou seja, trata-se de um conhecimento com pouca fundamentação científica e de fontes não-especializadas, o que não garante a profundidade ou a reflexão crítica necessárias para informar sobre um tema tão complexo. Aliás, a maioria desses mesmos alunos (43% dos entrevistados) declarou justamente não ter claro o papel de tais práticas na estratégia das organizações, por exemplo.

Para retomar seu caráter inovador, é urgente que a academia se conscientize da importância desses debates e que os professores passem a inseri-los em suas atividades letivas, ainda que de forma transversal e emergencial.

Mais do que atender a um comprovado interesse do corpo discente, essas iniciativas estarão devolvendo às universidades uma de suas funções mais importantes, não apenas em termos da formação dos futuros gestores, mais condizente com o cenário atual, mas também de produção e disseminação de conhecimento científico sobre o tema.

*Graziella Comini - economista, vice-coordenadora do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da FIA (Fundação Instituto de Administração)
Mardem Feitosa - graduando em administração de empresas da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)