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Eugenio Scannavino Netto

Quem é ele?

Eugenio Scannavino Netto, 46 anos, Médico, paulista, solteiro, uma filha. Nasceu em Campinas (SP).

* Dados de 2005

Iniciado em 1985, o Projeto Saúde e Alegria é uma organização sem fins lucrativos que estimula a cidadania de mais de 140 comunidades extrativistas da Amazônia paraense.

Média de 30 mil beneficiários diretos por ano

Seu orçamento em 2005 é de R$ 2,5 milhões (cooperação internacional e investimentos diretos via BNDES)

www.saudeealegria.org.br

Médico que combate diarréia no Pará sonha 'amazonizar' o mundo

Empreendedor Social 2005 é um paulista inovador, bem-humorado e avesso a formalidades, que chora ao falar de seus sonhos e cuida mais dos outros do que de si

BRUNO LIMA
da Folha de S.Paulo

Quando o médico Eugenio Scannavino Netto foi visitar o pai, que estava com câncer, à beira da morte, disse a ele: "Obrigado, pai, por tudo que você fez por mim". Levou uma boa bronca. "Nunca mais fale isso", ouviu. "Se você for digno, e a única coisa que eu te dei foi dignidade, faça para os outros muito mais e muito melhor do que fui capaz de fazer por você." Assim foi a criação de Eugenio, vencedor do prêmio Empreendedor Social 2005.

De casa, trouxe outras duas lições. A primeira, diz ele, é que a vida é um jogo - um jogo de pôquer. "Venho de uma linhagem de boêmios", conta, sorriso no rosto. "Tem de ter firmeza, tem de estar muito atento para não te passarem a perna. Eu jogo forte, mas não blefo, tenho um bom cacife, que é o meu trabalho."

A outra regra que sempre lhe repetiram é só entrar onde souber sair. "Essa é a única que ainda não consegui aprender. Sempre me vejo em cada enrascada", confessa. Eugenio não sabe, mas essa lição, por mais que queira, ele possivelmente não aprenderá nunca.

É dessa cara-de-pau e dessa aparente inconseqüência que vem sua força inovadora. Eugenio é o típico homem que dá tudo para não abandonar uma briga.

Conflitos não faltam, mas ele os enfrenta com uma serenidade inesperada. É questionador, mas abomina a violência. Seu protesto é o trabalho, é a cartada certeira - e calma - de quem tem nas mãos o jogo certo e limpo. É por isso que ele aposta tudo.

"A medicina me deu isso. Quando há uma emergência, todo mundo fica nervoso, menos o médico. A medicina me ensinou a ficar em paz em horas críticas."

As certezas, no entanto, não são muitas. Eugenio é uma criança cheia de dúvidas. Quer saber do mundo, do outro, dos olhos do outro. "Não entendo como as pessoas podem ser tão ignorantes. Ser feliz é tão simples, tão fácil. Por que é que tem tanto ódio?".

A pureza e a ingenuidade são marcas do "doutor". Eugenio pensa tanto no mundo que pouco cuida de si. Tem, vale dizer, uma casa no meio da floresta, na beira de um igarapé que fica em uma área que ele ajudou a preservar - comprou o terreno de um fazendeiro para evitar que ficasse com uma madeireira. É uma cabana de madeira, que não tem paredes - como os sonhos do dono.

"Eu não trocaria de vida, mas às vezes me lembro das contas. Minha vida é totalmente instável, não tenho salário, não tenho carteira assinada, não vou ter aposentadoria, não consigo nem trocar o escapamento do carro."

A mãe de Eugênio, que não revela sua idade, faz questão de revelar os segredos do filho: "Eu e o pai dele fomos ver o que ele esta fazendo. Era um mocinho loiro, fino, destoava de todo mundo. Falavam: 'ele quer matar a gente'. Causava desconfiança."

Ela diz que acabou transformada pelos filhos Eugenio e Caetano (que há 17 anos se mudou para o Pará para trabalhar com o irmão no projeto Saúde e Alegria).

"Vim de uma família certinha. Ficava meio atordoada. Mas ou abria a cabeça ou ficava longe deles. Resolvi abrir. Aprendi muito, ganhei despojamento. Eu nunca pensei em índio durante a gravidez. De onde eles vieram eu não sei. Mudar o mundo é impossível. Mas eles mostram que é possível mudar o mundo à nossa volta."

"Irmão a gente não escolhe, é obrigado a ter. Mas, como colegas de trabalho, nos escolhemos. Eu toco toda a burocracia para ele sonhar", diz Caetano, 39.

O atual sonho de Eugenio é ambicioso. "As pessoas daqui têm muito a ensinar. E a primeira lição da Amazônia é a da humildade. Em vez de internacionalizar a Amazônia, vamos amazonizar o mundo", planeja. Na faculdade, sempre soube que iria para o interior. "Quando cheguei à Amazônia, falei: 'Epa, é aqui'. Fiquei vindo para cá durante a faculdade várias vezes, até achar esse lugar."

O lugar era a região banhada pelos rios Amazonas, Tapajós e Arapiuns, próxima a Santarém, no Pará, onde se tornou "herói mocorongo", que é também como se chama o santareno, aquele que nasce em Santarém.

"Há quase 20 anos começamos a utilizar a arte e o circo para a educação. Fizemos de forma participativa, como construção multilateral do saber. Nosso apoio era a cultura, a realidade e a linguagem mocoronga", lembra.

Ele também levou o cloro, que trata a água e combate a diarréia e a mortalidade infantil. "'É tão fácil e barato que não entendo porque o governo não faz. Dá raiva. A cada novo ministro da Saúde eu vou lá e digo: 'cloro'. Não adianta."

No projeto de Eugenio, que reduziu a mortalidade infantil de Santarém, só ganha cloro que aprende gestão comunitária, quem brinca de circo, quem faz o próprio jornal, a própria rádio e as próprias atrações de TV. Nada é de graça. Saúde só com alegria.

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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