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Nicolau Priante Filho

Quem é ele?

Luiz Geraldo de Oliveira Moura, 66 anos, administrador, engenheiro, veterinário, pesquisador e produtor cultural, divorciado, três filhos. Nasceu e mora em Fortaleza.

Criou o Nepa, que mobiliza comunidades para a construção de núcleos agroecológicos

Inovação: Trabalha para estabelecer o consumo consciente, construindo alianças eficazes entre produtores e consumidores de alimentos orgânicos

Impacto social: Em 13 anos, os 15 núcleos beneficiaram 4.000 pessoas em sete Estados

Sustentabilidade: Os núcleos são criados com patrocínio de uma empresa; o Nepa cobra 12% de consultoria por até dois anos, e os agricultores recebem contribuições mensais de R$ 45 a R$ 100 de 70 consumidores

Alcance: Das duas comunidades cearenses iniciais, os núcleos agroecológicos alcançaram os Estados de Goiás, São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraná, Bahia e Pernambuco. Em 2004, a organização intercambiou metodologias com outros grupos da França.

www.nepa.org.br

Incubador de sonhos

Ex-executivo cria núcleos agroecológicos para fomentar o consumo consciente

PAULA LAGO
da Folha de S.Paulo

Luiz Geraldo de Oliveira Moura é homem de muitos focos. Nascido em Fortaleza, formou-se em engenharia eletrônica, administração e veterinária. Trabalhou numa multinacional por 20 anos.

"Foi meu primeiro e último emprego", conta ele, que, após tantos anos de casa, pediu demissão. "Eu tinha que viver um outro sonho."

Aos 66 anos, Moura é diretor-presidente do Nepa (Núcleo de Ensino e Pesquisa Aplicada). A organização social criada em 1996 não tem funcionários, mas voluntários que se dedicam, em suas áreas de especialização, a "melhorar a qualidade de vida de quem não pôde chegar aonde chegamos", como define o empreendedor.

De fala calma, mas firme, e bom ouvinte, Moura lembra com orgulho que seus laços com a agricultura começaram na infância.

Hoje com três filhos e cinco netos, tem como referência, além dos avós, o educador Paulo Freire.

Adepto da pedagogia da paisagem, Moura procura observar e acompanhar como se dão as transformações dos projetos que coordena e, sempre com a participação dos atendidos, analisar os resultados.

São duas as suas frentes. Uma é o desenvolvimento da agricultura familiar, ao levar os princípios da agroecologia a pequenos produtores, mostrando como garantir o sustento plantando orgânicos, e ao incentivar os moradores de cidades a comprar esses produtos, unindo, na Aliança Social, as duas pontas da cadeia de consumo.

Confiança é o pilar principal dessa aliança criada por Moura, que equilibra produtores e consumidores preocupados não só com a saúde mas também com um consumo consciente.

"A alimentação é o elo comum, mas potencializa todas as possibilidades de desenvolvimento cultural e intelectual. Consumidor ou membro da família agrícola, a aliança promove o despertar das habilidades."

Qual é o seu?

A outra frente tem o futuro como alvo: despertar, em jovens da periferia de Fortaleza e da zona rural de Maranguape (CE), a percepção de que eles podem modificar o entorno a partir de seus projetos.

"Qual é seu sonho?" é a primeira pergunta que Moura faz aos moradores das comunidades que atende. Uma vez identificado, o próximo passo é mostrar como torná-lo real.

No fim, o foco desse cearense é um só: realizar sonhos.

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Entenda a Pedagogia da Paisagem desenvolvida pelo Nepa

O Nepa trabalha com uma única pedagogia, a Pedagogia da Paisagem. A partir dela, são criadas metodologias que variam de acordo com o contexto e os saberes locais.

Juntos, o Nepa, a comunidade local e os consumidores promovem o desenvolvimento comunitário e a qualidade de vida alimentar da sociedade envolvida com os núcleos agroecológicos.

A pedagogia da paisagem é fruto da observação. Um terreno duro e pedregoso, como o do semiárido brasileiro, pode ser considerado como incapaz de produzir alimento.

Mas o Nepa acredita que por trás dessa paisagem degradada há componentes invisíveis, como fungos, bactérias, vírus e microorganismos, que podem vir à torna.

Para que isso aconteça, Moura acha que é preciso acreditar que eles existem. "Quando adicionamos matéria orgânica na terra pedregosa, água e sementes, o cenário muda", afirma.

Mas tudo isso de um tempo que a própria natureza sinaliza. Para ele, a matéria orgânica transporta uma energia invisível (microorganismos) que faz o visível (paisagem pedregosa) aparecer (tornar-se fértil).

Todo o trabalho é feito respeitando os princípios dos quatros elementos: terra, água, sol e vento. Um quinto elemento, o homem, completa a pedagogia.

Para o Nepa, a interação entre esses cinco elementos é que aguça os cinco sentidos do ser. Com o tempo, a paisagem muda, e, com ela, os paradigmas.

Novos comportamentos são incorporados e a comunidade passa a agir proativamente, em busca do desenvolvimento e da mudança da paisagem interior e exterior.

Dos alimentos orgânicos às alianças sociais

Depois das experiências com os assentados de Caucaia e Guaraciaba do Norte (CE), o Nepa foi premiado, em 1998, no Congresso Internacional de Agricultura Biodinâmica da Esalq (Escola Superior de Agronomia Luiz de Queirós), em Piracicaba (SP).

Com a visibilidade, ganhou notoriedade nacional e internacional.

Em 2000, Luiz Moura tornou-se Empreendedor Social Ashoka, hoje maior parceira e aliada do Nepa.

A partir daí, os núcleos de agroecologia multiplicaram-se para outros Estados do país.

Em todos os núcleos, são constituídas alianças sociais, um processo de desenvolvimento integrado e contínuo que une agricultores e consumidores.

Por meio de um método participativo de produção e autogestão, a aliança social visa mitigar a pobreza e a miséria da agricultura familiar, além de melhorar a qualidade de vida de quem consome.

O elo principal dessa relação é o alimento agroecológico ou orgânico, que não utiliza agrotóxico ou adubo sintético.

Outro programa importante da organização é o GMM (Geração Muda Mundo), que é desenvolvido em parceria com a Ashoka.

Nele, jovens e adultos de escolas e demais instituições públicas e privadas "atuam como moléculas que se organizam na formação de células.

Reunidas, essas células criam novos organismos vivos comunitários para o desenvolvimento local, como os de saúde preventiva comunitária, tecnologias alternativas e desenvolvimento comunitário.

Com a injeção de R$ 1.500 em moeda social, jovens da periferia de Fortaleza (CE) montam pequenos negócios que ajudam a complementar a renda da família.

Utilizando a mesma filosofia do GMM, o Nepa também atua, em Maranguape (CE), com o Programa E-Jovem, da Secretaria Estadual de Educação.

O alimento como elo de ligação com o mundo

Como o principal desafio é mudar a percepção das pessoas com relação ao estilo de consumo, o Nepa promove palestras, capacitação e gerenciamento dos grupos rurais e urbanos por um período de um a dois anos.

O alimento é a ferramenta principal de trabalho da organização. Moura acredita que o que liga as pessoas em qualquer lugar do mundo é a alimentação

Usando o orçamento doméstico em hortaliças, legumes e frutas, como investimento de produção, a organização acredita que é possível provocar uma grande mudança social, econômica e ambiental.

A ideia principal é motivar um agricultor a produzir alimentos agroecológicos para um mínimo de 70 famílias.

Na lógica da organização, com apenas um hectare de propriedade, é possível fornecer cestas orgânicas semanais, que incluem legumes e hortaliças, por um custo mensal que varia entre R$ 50 e R$ 100.

"Trabalhamos com a agroecologia permacultural, reequilibrando o ambiente, organizando os espaços e gerando excedentes (produto ou dinheiro). Para atingir essa meta, executamos planejamentos para evitar perda de energia, inclusive humana", conclui.

A visão de um dos beneficiários do projeto

"Cultivo quatro hectares de hortaliças, 40 variedades. A produção é de cinco toneladas, para 450 a 500 famílias por semana.

A vantagem em produzir orgânicos é que você tem uma qualidade de vida que 99% da população da região [Guaraciaba do Norte, CE] não tem.

Quem quer qualidade de vida tem que buscar uma alternativa, e a que encontrei foi produzir orgânicos.

Fui produtor convencional, estava falido na época. Quando vi esclarecimentos do que teria que ser feito para mudar para orgânico, por ser filho de produtores, acreditei que [o que falavam] tinha fundamento.

Tinha duas filhas com três e quatro anos, tinha minha mulher, que disse: 'Vamos, que dá certo, vamos construir isso'.

Antes, eu não tinha R$ 70 para ir a Fortaleza. Agora, tenho três caminhões, tratores, equipamentos de irrigação.

Meu sonho é não dever nada a ninguém, e continuar fazendo o que gosto.

Conheço o Moura desde 1997. É relacionamento de pai para filho. Ele me ajudou bastante.

Houve momentos em que, de tanto exigir, a gente dizia: 'Basta, estou fora'. Eles [do Nepa] saíam, voltavam e diziam: 'Vamos ver uma maneira de resgatar essa pessoa'.

Minha mulher morreu, tudo pesa, mas hoje tenho filha fazendo faculdade de agronomia.

Uma vez por mês vou a Fortaleza falar com os consumidores. Eles dizem: 'Em vocês eu acredito, que vocês fazem tudo por nós'. É um vínculo, um respeito.

Tudo isso, o Moura, as pessoas que ajudaram a criar a Adao [Associação para o Desenvolvimento da Agropecuária], a qualidade de vida, é o que me motiva.

Tem quem esqueça o passado, eu não esqueço, não."

NAZARENO OLIVEIRA BARBOSA, 44, membro do primeiro núcleo de agroecologia do Ceará

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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