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Nicolau Priante Filho

Quem é ele?

Nicolau Priante Filho, 59 anos, físico, casado, quatro filhos, dois netos. Nasceu em Jacareí e mora em Cuiabá.

Lidera a Coorimbatá, que gera alternativas de renda para comunidades com baixo poder aquisitivo

Inovação: Estabeleceu a figura do pesquisador cooperado, que cria relações de confiança entre empresas, governo, universidades e comunidades carentes, pautando-se no desenvolvimento solidário

Impacto social: Desde 1997, beneficiou mais de 5.600 pessoas, sobretudo na Baixada Cuiabana

Sustentabilidade: A cooperativa se financia por patrocínio, convênios com o governo e venda de produtos dos 35 cooperados

Alcance: Da origem em Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, expandiu sua área de atuação direta para outros nove municípios do entorno e, por meio de intercâmbios acadêmicos, conduz há dez anos pesquisas em conjunto com o departamento de ciências biológicas da Universidade do Estado da Califórnia (EUA)

www.coorimbata.com.br

Renda solidária

Professor universitário une pesquisador e cooperativa e desenvolve comunidades carentes

MARIANA IWAKURA
da Folha de S.Paulo

Em um "sambão" na USP, em 1970, a estudante de filosofia Josita Correto da Rocha quis dançar com "o cara mais louco da festa". O eleito foi Nicolau Priante Filho, aluno de física. Casaram-se dez meses depois.

Sem dinheiro, moravam numa república e cozinhavam os restos da feira, mas continuavam com as festas, que reuniam dezenas. Para comprar uma casa, emprestaram de 40 amigos.

Nicolau, 59, é um agregador. A primeira união foi com Josita, depois vieram as reuniões com os camaradas.

Em seguida, ajudou também na junção da física com a agronomia, da ciência com o social, do pesquisador acadêmico com a cooperativa.

Sua carreira universitária começou em 1977, dando aulas na Universidade Federal do Mato Grosso. As preocupações científica e social andaram juntas.

"A academia tem áreas em que, se a pessoa se limita, fica dez anos para ter uma publicação que serve só para aquilo", diz.

Em 1996, o grupo de Nicolau tentava desenvolver um secador de frutas, mas o dispositivo gastava 40 kg de lenha para produzir 1 kg de banana-passa.

A solução para o "incêndio florestal" não foi muito científica: veio num sonho.

Nicolau vislumbrou uma chaminé em ziguezague, que usava a energia perdida para o ambiente para secar fruta.

O protótipo foi feito no quintal de casa, e a lenha usada caiu para 4,5 kg.

Informação

Ao viajar aos Estados Unidos, Nicolau propôs à empregada da casa que abrisse uma empresa de secar frutas. Meses depois, sem achar o recibo do IPTU do imóvel, tudo estava na mesma.

"São pessoas sem acesso à informação. Como resolver isso? É produto competitivo, e não funciona?", indagou o físico.

A conclusão foi criar uma organização que trouxesse renda, uma cooperativa, mas que tivesse um elo com a ciência.

Nasceu então o conceito do pesquisador cooperado.

O projeto se concretizou com a Coorimbatá. Os cooperados secavam as frutas na casa de Nicolau, que fez parceria com uma rede de supermercados.

Hoje, a cooperativa atua com unidades produtivas de frutas, peixes e húmus de minhoca, e aposta na carne de jacaré.

Como uma das atribuições do pesquisador cooperado -função de Nicolau e de Josita- é cobrir prejuízos, a família investiu muito no novo "filho".

"Quando não tínhamos dinheiro, quem ajudou foram os amigos, que não eram abastados. Naquele tempo, eu era mais ajudado", afirma Nicolau.

"Devo muito à maneira como nos constituímos como família. Fomos diferentes e pudemos inovar em outras áreas."

À noite, no chorinho, Nicolau toca cavaquinho, e Josita canta. E reúnem amigos. "Quando viemos para cá, perguntaram o motivo das nossas festas. É festar!", explica o professor. "Em um lugar onde todos estão bem, eu vou estar bem."

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CONHEÇA MAIS SOBRE A COORIMBATÁ

Conheça as unidades produtivas da Coorimbatá

Na Coorimbatá, os produtos oriundos da agricultura familiar e da pesca artesanal viram combustível para o processo de empreendedorismo, inclusão social e geração de renda para os cooperado.

Para isso, a cooperativa atua com três unidades produtivas:

  1. Unidade de processamento de polpa de frutas, passas, doces, castanhas e fritas

    Com a entrada de Nicolau e sua mulher na então desativada Coorimbatá, o foco do trabalho da cooperativa, então voltado para a pesca, mudou para o da desidratação de frutas.

    Desde 2000 e usando o secador inventado pelo físico, a unidade industrializa bananas-da-terra, prata e nanica (Bananalícia) e mandioca (Mandilícia).

    Também produz doces em barra (manga, caju e banana), passas de abacaxi, banana e manga e castanhas embaladas a vácuo.

    No ano passado, foram processadas 29,5 toneladas de banana verde in natura, produzindo 7,2 toneladas de banana na forma de chips, e 730 kg de banana nanica madura, produzindo 172 kg de passas.

  2. Unidade de processamento de peixes e jacaré

    Nesta unidade, são eviscerados peixes do rio (tambacu, dourado, pacu, corimbatá, piranha etc.) e de criações particulares em tanques, além de processada linguiça de peixe.

    A princípio, a Coorimbatá foi criada para trabalhar com pesca, mas aspectos que vão do perfil empresarial dos cooperados a entraves na legislação fazem com que haja grande dificuldade na viabilização dessa unidade.

    Apesar de estar trabalhando principalmente com frutas e húmus, a meta da coomperativa é criar bases para que a pesca se torne a sua principal atividade.

    Para tal, foi iniciada uma articulação com a Cooperativa Agropecuária dos Pequenos Produtores de Chapada dos Guimarães-MT (Cooperagricultor), formada por pessoas removidas de suas terras para criação da barragem do rio Manso.

    Além disso, deu-se início, em setembro, a uma parceria com a Aguacerito Leather, um dos maiores criadouros de jacaré no mundo.

  3. Unidade de processamento de húmus de minhoca

    O processamento do húmus é de importância estratégica para a Coorimbatá, pois propicia o uso ambientalmente e socialmente responsáveis dos resíduos das outras unidades produtivas e de outras empresas da região.

Além da produção da cooperativa em suas unidades de processamento, a Coorimbatá investe esforços na criação de uma rede de agentes em prol da economia solidária.

Veja alguns dos principais projetos estabelecidos pelos convênios da Coorimbatá

Graças ao vínculo com a Universidade Federal de Mato Grosso, em 2000, a Coorimbatá desenvolveu um eficiente modelo de proposição de projetos de patrocínio e convênios.

Entre eles, destacam-se:

  • Sistema Integrado de Inovação Tecnológica Social (2009-2010): proposto pela UFMT, propicia a ação articulada de entidades públicas e privadas em projetos de inclusão social e de desenvolvimento local;

  • Turismo Solidário - O Bom do Mato - Se é de Mato Grosso É Bom! (2008): em prol da presença desses empreendimentos em feiras e espaços turísticos, além da criação de roteiros turísticos com informações sobre produtos e artesanatos e capacitação de empreendedores em turismo nas comunidades;

  • O Bom do Mato na Baixada Cuiabana (2008): elaborado pela Consad Baixada Cuiabana (Consórcio de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Local), realizou a inclusão digital de 1.008 alunos;

  • Sistema Integrado de Coleta e Industrialização do Peixe na Baixada Cuiabana (2007-2008): teve por objetivo estruturar o setor produtivo e de comercialização de produtos derivados da pesca profissional artesanal, diminuindo a distância entre o pescador e o consumidor final;

O pescador cooperado e a rede solidária

A figura do pesquisador cooperado, criada por Nicolau, é a de um funcionário (acadêmico) de uma universidade que leva conhecimento científico a comunidades de baixa renda e o relaciona aos saberes locais.

Ele não participa da renda do setor produtivo da cooperativa, mas, caso a cooperativa tenha prejuízos, como cooperado, também se responsabiliza pelas perdas.

Por ter criado esse método de atuação, a Coorimbatá recebeu o prêmio Finep de Tecnologia Social em 2004.

Essas comunidades fornecem matéria-primas que garantem o funcionamento das unidades produtivas de processamento de doces, fritas, de produtos feitos a partir do processamento de peixe e do processamento de húmus de minhoca produzido com resíduos sólidos das unidades produtivas.

A produção da Coorimbatá tem comercialização privilegiada na rede de supermercados Modelo, a maior de Mato Grosso, seguindo os valores do comércio justo.

Os resultados financeiros dessas operações é a fonte de renda das pessoas envolvidas nos processos produtivos, seja o produtor primário (agricultor ou pescador), seja o cooperado que atua nas unidades produtivas.

Foram criadas assim as condições para o estabelecimento da Rede de Colaboração Solidária, focada na inclusão social e na geração de renda em Mato Grosso e que teve patrocínio da Petrobras.

A visão de um dos beneficiários do projeto

"Até os 15 anos, vivi na roça. Estudei até o fim do segundo grau e comecei a pescar. Tinha fartura, dinheiro fácil.

Fui para o seminário. Conhecia a cooperativa, mas achava que não ia dar frutos, por causa do convívio das pessoas.

Conversei com o Nicolau e saí do seminário em 2005. Estava disposto a mergulhar no negócio.

O supermercado Modelo sugeriu que a gente fizesse húmus de minhoca. Quando começamos, dava R$ 150 por mês. Mas não é uma venda contínua. Tem dois meses que não consigo atender à demanda toda do Modelo. A minhoca precisa de 45 dias [para produzir o húmus].

Já tirei R$ 600, e a intenção é tirar R$ 800. O único problema é a minhoca, que está cara. Comprei 30 kg e estou reproduzindo. Vendendo três toneladas, dá R$ 800.

Com o jacaré, eu já vou ganhar isso aí. Se o jacaré der errado, meu pé de meia está no húmus.

Tenho mulher e um filho, e a gente já quase se separou por causa da cooperativa, que nem sempre dá dinheiro. Eu sei que dá para sobreviver disso.

No Pantanal, pescando, dá para ganhar dinheiro, mas a vida é sub-humana. Posso trabalhar de dia no frigorífico [com jacaré] e de noite aqui [com húmus].

Se você não acreditar, não tem nada que você vá fazer. Tem dias em que a gente não tem nada. Tem comida -a gente vira a noite e pega um peixe.

Mas uma vez meu filho estava doente e eu não tinha dinheiro para o remédio. Veio uma doutora e levou R$ 150 de húmus. Era o que eu precisava.

Às vezes, em dia que está mais difícil, que não tem mesmo, eu ligo para o Nicolau, peço R$ 100.

O Nicolau me fez acreditar no sonho dele e faz parte da família hoje. Ele bate em mim, mas eu não bato nele."

BENEDITO FERREIRA DE FRANÇA, 32, o Ditinho, é cooperado da Coorimbatá

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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