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Rosana Bianchini

Quem é ele?

Rosana Bianchini, 37 anos, arquiteta e urbanista, casada. Nasceu em Belo Horizonte e mora em Nova Lima (MG).

Criou o Instituto Kairós, que promove o desenvolvimento socioambiental de Nova Lima, ampliando as possibilidades de renda e valorizando a biodiversidade e as relações de identidade com a cultura local

Inovação: Desenvolve método eficiente de aprendizado e protagonismo comunitário por meio da transmissão de saberes tradicionais

Impacto social: Em sete anos, beneficiou 2.500 pessoas na cidade, que tem 72.207 habitantes

Sustentabilidade: O instituto apresenta várias fontes de recursos: editais e prêmios; parceriais intersetoriais; patrocínio; prestação de serviços e comercialização de produtos

Alcance: Concentradas na comunidade de São Sebastião das Águas Claras, mais conhecida como Macacos, em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, as atividades já foram repassadas para outros cinco municípios mineiros e há parceria com o município de Manaus (AM)

www.institutokairos.org.br

Tempo de construir

Arquiteta usa saberes tradicionais em favor do progresso comunitário

RAQUEL BOCATO
da Folha de S.Paulo

No "cronos", tempo cronológico de Rosana Bianchini, 37, o início dos anos 2000 foi marcado por rupturas: a morte do pai, uma referência, a insatisfação profissional e a mudança de Belo Horizonte para Nova Lima, na região metropolitana.

No "kairós", tempo do coração para os gregos, uma outra emoção dividia espaço no universo da arquiteta.

O nível da rua foi elevado, e uma das casas, antes com vista da vizinhança e da vegetação, passou a ter o concreto como "paisagem".

Pensou em pintar de árvores o muro da frente, mas desistiu: era sua percepção, não a do dono do imóvel.

Porém, permaneceu o desejo de mudança. O caminho encontrado foi a construção coletiva do Instituto Kairós, que oferece aos moradores projetos de saúde, educação e cidadania.

Por meio de cursos, oficinas e ações ligadas ao desenvolvimento socioambiental da comunidade, o Kairós amplia as possibilidades de renda e trabalho, a valorização da biodiversidade e as relações de identidade com a cultura local.

Os mais experientes, os griôs, cantam e contam histórias e lendas aos pequenos, que batucam, brincam e dançam.

Curandeiros e rezadeiras ensinam a usar ervas medicinais, distribuídas no posto de saúde. Tudo isso seguindo o "kairós".

Além de sensibilidade "para avaliar resultados no brilho dos olhos das crianças", a fim de manter o instituto de pé, foi fundamental ter muita força.

Como numa preparação do que viria adiante, no primeiro dia de construção do Kairós, caiu a primeira chuva da temporada e, com ela, o lamaçal deslizou sobre a obra.

No esforço de salvá-la, Rosana se deitou com outros moradores no barro, criando um muro protetor.

Estruturação

"Fiz muita força física", afirma, lembrando-se dos bambus que carregou para edificar a sede. "Emocional também."

Com o carregar de tijolos, estava acostumada. Desde criança, com a casa limpa, reunia-se com a prima para montar uma escolinha. A mãe apoiava.

"Falava que não podia tolher a imaginação dos meninos", diz, ressaltando que a família foi a principal base de sua formação.

Após a faculdade de arquitetura, queria mais. "Tinha vontade de entender o espaço real de intervenção do arquiteto."

Respostas vieram no mês em que ficou na Chapada Diamantina, onde experimentou construir coletivamente um espaço.

"Não está ligado só à técnica -tem um acordo coletivo que se cria. Uma construção. Isso é para tudo na vida", reflete.

Mesmo ciente de que a razão a paralisa e a emoção a conduz, planeja agora cuidadosamente os próximos passos.

Na mira, a profissionalização da gestão, com a Fundação Dom Cabral. "O Kairós é eterno. Eu não.''

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CONHEÇA MAIS SOBRE O INSTITUTO KAIRÓS

A comunidade protagonizando seu próprio desenvolvimento

Os cursos, oficinas e treinamentos desenvolvidos pelo Instituto Kairós têm por missão promover o desenvolvimento sistêmico sustentado do território, o fortalecimento de redes sociais e educativas, a autonomia produtiva e o protagonismo cultural das comunidades.

Dentre as atividades, praticam-se a permacultura (no planejamento de sistemas ambientais de culturas permanentes e integradas), a bioconstrução (na utilização de tecnologias construtivas de baixo impacto ambiental), a agroecologia (nos processos da agricultura familiar e no uso popular das plantas medicinais), além de atividades culturais, artísticas, educativas e de formação.

O que fundamenta tudo isso é o diálogo cultural no território e o jogo contínuo de criação e recriação de relações de identidade.

Para isso, o instituto vem promovendo a construção compartilhada de um arranjo produtivo educativo solidário que cria a malha multi e interdisciplinar e aproveita todas as ofertas possíveis existentes no território para o seu desenvolvimento.

A comunidade, fortalecida em sua identidade pela valorização de seus saberes e modos de fazer, passa a ser protagonista do desenvolvimento do seu próprio território e a influenciar a construção de ações de políticas públicas locais.

Em termos de estrutura organizacional, o Kairós está dividido em quatro áreas de atuação:

  • área socioeducativa, que desenvolve ações de educação continuada e integrada para as crianças e os adolescentes do município, fortalece a rede de educação informal da comunidade e reforça o universo infantil, entre outros

  • área sociocultural, que valoriza os saberes de tradição oral da comunidade, fortalece o lugar social dos mestres de tradição oral dentro e promove o diálogo intergeracional;

  • área socioeconômica, que valoriza os processos produtivos locais e sua articulação com novas oportunidades e tecnologias, pesquisa e desenvolve matéria prima local e desenvolve planos de negócios solidários, entre outros;

  • área socioambiental, que pesquisa e desenvolve matéria prima local, desenvolve ações de capacitação de multiplicadores locais e capacita grupos locais como agentes de desenvolvimento para protagonizar uma mudança de atuação ambiental no território, entre outros.

Conheça os principais projetos do Instituto Kairós

Programa Ação Integrada

  1. Projeto Rede Escola Viva: oferece atividades extracurriculares no contraturno da escola formal para alunos da rede pública entre 4 e 14 anos

Programa Cultura Viva

  1. Projeto Cultura Digital: inicia a comunidade nas linguagens da tecnologia digital e contribui com a formação de uma rede de comunicação comunitária

  2. Comunicação Comunitária: visa despertar o protagonismo jovem para a articulação de uma rede de comunicação e informação comunitária

  3. Griô: ação pedagógica, facilitadora do diálogo entre idades, escola, equipamentos culturais, comunidades e grupos étnicorraciais

Programa Economia Solidária

  1. Projeto Capacitação Artesanal: qualifica artesãos para a criação de produtos artesanais, conhecimento e aplicação de técnicas de artesanato e utilização de materiais alternativos

  2. Unidades produtivas: grupos produtivos formados pelos artesãos capacitados nas oficinas de aprendizado que se tornam aptos para o desenvolvimento de uma produção de qualidade para comercialização

  3. Geração de renda: atividades voltadas à comercialização dos produtos gerados pelos artesãos das unidades produtivas

Programa Agroecologia

  1. Farmácia Viva: implantação do serviço de fitoterapia no SUS para atender os postos de saúde de Nova Lima, investindo em um trabalho colaborativo de desenvolvimento social e em uma rede de ações sustentáveis que garantam a valorização ambiental e cultural das comunidades envolvidas

  2. Agricultura Urbana/Segurança Alimentar: projeto voltado à disseminação de práticas seguras de saúde na comunidade e de processos orgânicos de produção de alimentos voltados à educação de práticas da segurança alimentar e da agricultura urbana

  3. Gerenciamento de Resíduos Orgânicos: visa a implantação de um plano piloto de manejo de resíduos orgânicos gerados nas residências, estabelecimentos comerciais e condomínios da região

Programa Educação Ambiental

  1. Sala Verde: tem o objetivo de produzir um ambiente dinâmico para o desenvolvimento da educação ambiental

Programa Permacultura e Bioarquitetura

  1. Experimentação e desenvolvimento de tecnologias apropriadas: visa à pesquisa, ao desenvolvimento e à reaplicação de tecnologias apropriadas na área da permacultura (no planejamento de sistemas ambientais de culturas permanentes e integradas) e à bioconstrução (na utilização de tecnologias construtivas de baixo impacto ambiental).

Crescimento estruturado e foco nas tradições locais

O posicionamento do Instituto Kairós prioriza três dimensões em sua atuação.

Em primeiro lugar, tem atuação multidimensional e sistêmica no território visando o desenvolvimento humano integral, por meio da aplicação e experimentação das soluções e tecnologias sociais desenvolvidas.

Assim, consolida a atuação da entidade em seu território.

Em segundo lugar, desenvolve alianças e parcerias com centros de pesquisa e tecnologia, de gestão e ações estratégicas, na esfera pública e empresarial, de forma a construir uma rede intersetorial de relacionamentos com capacidades múltiplas, renovando e perenizando os métodos e ações aplicados em seus projetos e programas.

Desse modo, consolida-se o aprimoramento do Instituto Kairós como uma Estação Avançada de Pesquisa, desenvolvimento e reaplicação de tecnologias sociais para atuar em qualquer comunidade de interesse no Brasil.

Finalmente, desenvolve alianças e parcerias com centros de pesquisa e tecnologia, de gestão e ações estratégicas, na esfera pública e empresarial, de forma a construir uma rede intersetorial de relacionamentos com capacidades múltiplas, renovando e perenizando os métodos e ações aplicados em seus projetos e programas.

Como consequência, multiplica sua atuação por meio de intercâmbios e participações em redes sociais.

Tradições

Desde a fundação do Instituto Kairós, foram os saberes dos mestres de ofícios da região, como oleiros, bambuzeiros e artesãos, que compartilharam seus conhecimentos para a construção coletiva do espaço.

Assim, foi iniciada a prática da permacultura e construído coletivamente todo o Centro Kairós, que hoje é sede de referência para todo trabalho de formação e rede social promovido.

As práticas tradicionais das raizeiras e benzedeiras contribuíram para a formação da Farmácia Viva Comunitária, reconhecida hoje como parte oficial do programa municipal de saúde que beneficia os 40 mil habitantes de Nova Lima.

Atualmente, os mestres de tradição oral levam seus saberes para dentro da escola, ação que foi multiplicada para os educadores das escolas municipais de Nova Lima.

Já a produção das bordadeiras favorece a geração de renda para um grupo de mulheres artesãs e, ao mesmo tempo, valida o contexto turístico, econômico e cultural da região.

Com essas ações, as festas e os rituais foram novamente incorporados à prática cotidiana comunitária -o cinema, as rodas, a religiosidade, a alegria e o prazer de estar vivo na reconstrução de um espaço de uso coletivo que favorece o encontro e o diálogo multicultural.

Tudo isso tecido por fios de histórias de vida bordados e rebordados em pontos, contos e encontros, pela formação de uma teia viva onde as crianças, os pais e os avós da comunidade, religados afetivamente pelo tempo de suas experiências, passam a construir e reconstruir a todo momento, a promoção de encontros múltiplos de gerações e habilidades inatas e adquiridas pela comunidade através do tempo e que hoje, surpreendentemente, têm se revelado como o seu mapa da mina.

A visão de uma das beneficiárias do projeto

"Depois que me aposentei, não tinha uma vida social muito ativa. Trabalhava num comércio com meu marido aqui mesmo em Macacos, onde nasci e sempre morei, mas quando parei com a atividade lá, usava meu tempo para cuidar da casa, da horta, carpinar, fazer faxina.

Há dois anos, vim para fazer atividades no Kairós. Já conhecia [a instituição], todo mundo aqui conhece. Minhas netas netas [Maristela de Souza, 12, e Yasmin Lorena de Souza, 11] vinham fazer aulas aqui.

Na minha vida, [o instituto] mudou muita coisa. Hoje tenho várias atividades. Às quartas, venho para as aulas de ginástica. Na sexta, são as atividades para a terceira idade -com aulas de saúde, de bem-estar.

Fiz aula de computação e também de artesanato. Eu já sabia bordar, mas aqui aprendi mais. Não vendo nada: bordo para meus filhos, minhas noras, meus netos. Eles gostam muito [do trabalho].

Também faço parte do grupo de griôs. Vou à escola [municipal Rubem da Costa Lima] para contar sobre minhas brincadeiras de infância. Vamos sempre em dois. Eu gosto, mas acho que eles [os jovens] gostam mais do que eu.

Mas não é sempre que subo a pé essa ladeira [do centro de Macacos para o Kairós]: o carro vai me pegar em casa. É muito íngreme, exige muito do coração.

É tudo tão bom, que convenci meu marido a vir participar também. No começo, ele estava resistente, não queria sair de casa.

Mas ele vem e vai gostar como eu. Aqui, a gente encontra os amigos, passa umas horas tranquilas.

Para mim, os maiores benefícios que o Kairós trouxe são a geração de empregos e renda e as atividades para as crianças.

Aqui tem quem olhe, quem coordena coisa boa. Aqui [se] ensina coisa boa."

VICENTINA DE SOUZA, 66, aposentada e griô

 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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