A dor de um adeus despertou em Roberto Kikawa a maior motivação de sua vida. Pouco antes de morrer vitimado por um câncer, seu pai o chamou para uma conversa.
"Quero que você me prometa que será médico", disse. "Um médico amoroso, que entenda bem o doente."
Nessa época, Kikawa, 40, estudava medicina em Londrina (PR). A carreira fora escolhida ainda na infância, no escotismo, que o ensinou a "cuidar de pessoas".
Desde pequeno, Roberto acostumou-se a provações. Em Diadema (Grande São Paulo), familiarizou-se com o meio hospitalar pela fragilidade dos pulmões.
Aos 13 anos, quando, com incentivo do pai, treinava futebol de salão, quebrou o pé e ficou imobilizado por três meses. Desenvolveu então uma de suas especialidades: transformar um problema em oportunidade.
Impossibilitado de se exercitar nas quadras, começou a jogar xadrez --treinado pelo pai. Sempre o pai. A proximidade dessa relação foi determinante em todas as realizações de Roberto, que é filho único.
Até no caratê, em que, a despeito de "detestar brigar", conquistou a faixa preta para provar ao genitor que era capaz de vencer.
Mas largou tudo para dedicar-se exclusivamente aos estudos em retribuição ao esforço da família para bancar o colégio Bandeirantes. "Foi o maior legado que meu pai me deixou", revela.
No terceiro ano do colegial, seu percalço foi uma hérnia, que o impediu de passar no vestibular da USP.
MAIOR CARINHO
Nesse tempo, o pai ficou doente; a mãe parou de trabalhar. A família vendia salgadinhos para manter a casa.
Londrina surgiu como a chance de cursar a faculdade. Uma greve no campus o permitiu acompanhar em São Paulo o tratamento do pai: foi quando tiveram aquela conversa, e a súplica paterna o "foi queimando".
A ela se somou a visita de um missionário japonês a seu pai; como último recurso diante do paciente desenganado, ele cantou para consolá-lo. "Eu o vi chorar pela primeira vez", diz. Ali notou "o maior carinho" de sua vida.
Voltou ao Paraná com o pesar do adeus e convicto de sua missão. Resolveu cursar teologia para "ser um médico missionário na África". Uma grave infecção renal pôs à prova sua fé, mas, assim que um pastor acalmou-lhe o espírito, a doença se foi.
Em São Paulo, Kikawa tornou-se cirurgião-geral. Um tremor nas mãos o afastou desse trabalho, mas não abalou sua firmeza de propósito. No Hospital Sírio-Libanês, voltou-se ao cuidado de pacientes sem perspectiva de cura e à endoscopia.
A descoberta de "Áfricas" escondidas na periferia paulistana o iluminou com a ideia do sistema móvel para exames preventivos.
Ao buscar patrocínio, falou de renúncia fiscal e responsabilidade social, mas o argumento mais convincente foi sua fé no sucesso da iniciativa.
As despedidas na vida de Roberto deram lugar aos acenos de até breve que a carreta deixa nas cidades por onde passa.
Dado o ceticismo que a saúde pública suscita, pode-se dizer que o projeto ganhador do Prêmio Empreendedor Social 2010 é uma realização digna de um médico, além de amoroso, vencedor.
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Conheça mais sobre o Projeto Cies
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O Projeto Cies é inovador em duas frentes: no modelo único de gestão autossustentável da saúde integrada à educação e à comunidade e no seu instrumento de implantação, que consiste de um centro médico móvel avançado, autointitulado "o maior do mundo sobre rodas", com destaque para a alta tecnologia e flexibilidade no atendimento de até dez especialidades.
Existem no país outras carretas da saúde, mas em geral com atendimento médico de uma única especialidade, sem cobrir algumas das principais necessidades da população, como exames de média complexidade. Também apresentam alto custo operacional e fazem atendimentos pontuais, sem um plano de continuidade no longo prazo para a comunidade beneficiada.
O empreendedor social se diferencia da prática tradicional por ter desenvolvido um conceito de gestão compartilhada baseado na implantação de um APL (Arranjo Produtivo Local) da saúde que envolve o poder público, a iniciativa privada, a sociedade civil e a comunidade atendida. Autossustentáveis financeiramente, os atendimentos são baseados na tabela SUS (Sistema Único de Saúde) e se apresentam como complementação para os programas de governo já existentes.
Em todos os pontos por onde a carreta passa, são coletadas informações sobre o sistema de saúde local a partir dos resultados de exames e do preenchimento de questionários, resultando no desenvolvimento de um plano diretor sobre gestão estratégica na saúde integrada à educação e à comunidade, com base nas necessidades e na participação efetiva da população local.
Por fim, o projeto se destaca por oferecer a comunidades de baixa renda acesso antes inexistente a médicos renomados e equipamentos de ponta, do nível de hospitais exclusivos, como o São Luiz e o Sírio-Libanês, tudo gratuitamente. Possui atestados de Natureza Singular (única carreta no mundo a ter centro de endoscopia móvel e reprocessamento de materiais, mamografia e ultrassonografia digital com flexibilidade para atendimento de até dez especialidades) e de Notória Especialização dos Serviços (atendimento comprovado em nove cidades com certificações).
Com um orçamento previsto para 2010 de R$ 900 mil, a organização tem apresentado crescimento acelerado (em 2008, suas receitas operacionais eram de R$ 202 mil). Apesar de a Associação Ebenézer ter sido formalizada em 2004, o Projeto Cies é recente surgiu em agosto de 2008, com a construção da carreta, que ganhou efetivamente as estradas só no ano passado.
O projeto estruturou um eficaz modelo de autossustentabilidade financeira da carreta, em que as principais fontes de receita vêm na forma prestação de serviços ao poder público baseada na tabela SUS e em doações de empresas com renúncia fiscal de 2% do lucro operacional. Os custos do evento são minimizados por meio de parcerias com empresas locais (que cedem hospedagem e alimentação, por exemplo), governo (materiais, equipamentos e profissionais), associações civis, como sindicatos e ONGs (profissionais e infraestrutura) e comunidade (mão de obra). Assim, um evento da carreta gera renda bruta de R$ 100 mil a R$ 450 mil, sendo que de 20% a 30% da renda são para cobertura dos custos fixos, 10% para novos investimentos (depreciação), 40% para custos do evento (honorários e insumos) e 20% para reserva de caixa.
A entidade enfrenta como maior desafio a profissionalização de sua gestão administrativo-financeira. Com uma rápida expansão orgânica, se vê diante da necessidade de qualificar e ampliar sua equipe fixa e sofisticar os processos financeiros e contábeis, realizados sem conhecimento especializado. A maior dificuldade do projeto tem sido a cobertura dos custos fixos (R$ 22 mil mensais), para a qual o candidato aplicou parte de seus recursos pessoais. A fim de se equilibrar financeiramente, é preciso realizar em média dois a três eventos com a carreta por mês o que começa a acontecer agora, permitindo à associação planejar a autossustentabilidade para o fim deste ano. Cada evento em si já se paga integralmente.
Ciente das falhas, o candidato planeja contratar pessoal e investir em gestão. Criou um conselho consultivo e começa a focar os processos sucessórios e a continuidade no longo prazo.
Principais parceiros: APR, Associação Viva e Deixe Viver, Bausch&Lomb, Colgate, Engemet, Flexmedical/Cietec-USP, Instituto Impactar, Instituto Nova Medicina Voluntária, Olympus Optical, Philips, Sihusa (Sistema Humanitário de Saúde), Sociedade Beneficente e Centro Universitário São Camilo e Unaccam (União Nacional de Combate ao Câncer de Mama).
O projeto registra desde 2009 15 cidades de três Estados e mais de 24 mil pessoas atendidas, tendo realizado mais de 40 mil exames e procedimentos cirúrgicos nas áreas de gastroenterologia, endoscopia, colonoscopia, cardiologia, ecocardiograma, eletrocardiograma, ultrassonografia, urologia, vasectomia, postectomia, teste urodinâmico, mamografia digital, consultas de oftalmologia, cirurgias de catarata, calázio, pterígio, cirurgias e consultas dermatológicas, exames laboratoriais e palestras de prevenção de doenças, além de ter dado treinamento a mais de 500 agentes comunitários locais. Esses números têm crescido de forma acelerada: no consolidado de 2008 para 2009, o número de pacientes aumentou 116% (1.898 para 4.102); o de exames e procedimentos, 234% (4.267 para 14.236); e o de agentes capacitados, 275% (de 40 para 150).
A organização efetua avaliação qualitativa e quantitativa de seu impacto social, por meio da análise de laudos médicos e de questionário de avaliação aplicado com todos os atendidos. Em média, 95% avaliam o trabalho como bom/ótimo, 1% como regular e 4% não respondem. Todos os pacientes entrevistados livremente pela organização do prêmio em três ações (Lorena, Sorocaba e São Paulo) entre agosto e setembro reafirmaram a alta satisfação com a qualidade do atendimento, sobretudo em comparação com o tratamento a que têm acesso via sistema público de saúde (os destaques principais foram a rapidez do atendimento, a eficiência operacional, a tecnologia dos equipamentos e o contato interpessoal com a equipe médica e de apoio).
Deve-se ressaltar que, devido ao crescimento acelerado e a falhas na gestão sobretudo nos registros de documentos, índices, datas e números do impacto social apresentam discrepâncias. Há também necessidade de uma avaliação qualitativa mais aprofundada do impacto individual e coletivo após os eventos e no longo prazo.
A concepção final e a construção do centro médico avançado se deram durante sete meses em 2008, na cidade de São Paulo, e desde então foram realizados atendimentos em Alumínio, Campos do Jordão, Guarujá, Guarulhos, Itu, Lorena, Mairinque, Pindamonhangaba, Sorocaba e Taubaté, no Estado de São Paulo; em Maringá (PR); e em Itapema (SC).
A organização recebeu procura espontânea de mais de 50 cidades para construção de novas unidades. Acre, Goiás, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Rio de Janeiro, Rondônia e Tocantins e Distrito Federal são alguns dos interessados em receber ou replicar o projeto, além do município de Campinas e de outros do Vale do Paraíba (SP). No Maranhão, foi entregue em abril de 2009 uma unidade da carreta construída sob inspiração do Projeto Cies. Fora do país, há negociações em graus variados de avanço com Angola, Colômbia, Itália, Níger, Panamá e Venezuela.
O Projeto Cies foi concebido com vistas à replicação para todo o país. O candidato tem como premissa a atuação em grande escala, sobretudo nas regiões mais pobres do país, com precário atendimento médico, nos Estados do Nordeste e do Norte, bem como na África.
Nota-se, nesse sentido, esforço claro de pesquisa e desenvolvimento de novos modelos móveis de saúde como contêineres e vans, de forma a aumentar sua flexibilidade, impacto e eficiência operacional.
Em relação à parte técnica, os procedimentos estão sistematizados em documentos como manuais de montagem e operação, que detalham passo a passo os processos que devem ser efetuados antes, durante e após os eventos, dentro dos padrões exigidos por órgãos fiscalizadores, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que facilita a replicabilidade do modelo assistida pelo projeto. A organização trabalha com processos de segurança e qualidade baseados nos princípios de acreditação canadense e da ONG brasileira ONA (Organização Nacional de Acreditação).
Estrategicamente, contudo, o candidato reconhece que a chave para o sucesso do trabalho é a gestão de sustentabilidade via tabela SUS, cuja metodologia desenvolvida não é aberta para evitar o uso eleitoreiro, oportunista e mal-intencionado da carreta nos rincões mais pobres do país.
O trabalho do empreendedor social apresenta em essência forte ligação com políticas públicas de saúde e tem como base o trabalho em parceria com o governo, sobretudo local. O projeto visa complementar o atendimento das unidades básicas de saúde, dos ambulatórios de especialidades, dos programas de saúde da família e dos programas de internação domiciliar. Outra premissa é contribuir para a diminuição das filas de espera de exames diagnósticos e de pequenos e médios procedimentos dos hospitais, deixando-os com maior capacidade de tratar as doenças já diagnosticadas de forma efetiva.
Em todos os municípios visitados, a organização elabora uma análise crítica do sistema de saúde pública local por meio de um levantamento das demandas construído juntamente com a população atendida. O objetivo é ressaltar os pontos de atenção que o município deve ter e identificar focos de ociosidade e de investimento inoperante. Um exemplo é a cidade de Lorena, que, após a consultoria do projeto, passou a economizar R$ 10 mil mensais, segundo sua secretaria de Saúde.
Os municípios também se beneficiam com os treinamentos dados por médicos altamente especializados a profissionais da saúde locais foram mais de 500 capacitações até hoje. Por fim, há casos em que, após a passagem da carreta, são criadas células fixas que dão continuidade ao trabalho do projeto, como ocorreu em Lorena, com a abertura de um centro de diagnósticos, e em Itu, cujo hospital municipal recebeu há três meses, por intermédio do Cies, um centro de oftalmologia com o Stellaris, atualmente o equipamento mais moderno de cirurgia da catarata, "não encontrado nem em hospitais de ponta, como o Albert Einstein, em São Paulo".
A organização tem como objetivo levar a qualquer comunidade o atendimento médico-preventivo especializado, humanizado e de alta tecnologia, com participação efetiva de órgãos governamentais locais, de empresários locais e da própria população. A atuação é fundamentada na tríade tratar, educar e prevenir. O empreendedor social ressalta que essa sequência é fundamental, pois "não se pode educar sem tratar da dor, sofrimento ou fome e, se não houver educar, não há consequentemente o conceito de prevenir".
Dentro desse conceito, o candidato projetou e construiu um centro médico móvel avançado, também conhecida como carreta da saúde, um caminhão "jamanta" comum de 15 m x 2,5 m x 4,3 m (55 m2 quando fechado), porém dotado de um sistema flexível, no qual as duas paredes laterais se abrem em ângulo de 90°. O veículo se transforma em uma estrutura ampla de três módulos interligados perfazendo mais de 100 m2 de área útil quando aberto. É composto de uma sala de ecocardiografia ou ultrassonografia, uma sala de mamografia digital, um minicentro cirúrgico com sala de procedimentos cirúrgicos e endoscópicos de pequeno porte conectados a vestiário, sala de limpeza, sala de desinfecção e esterilização e sala de repouso, uma recepção, um consultório médico, um expurgo, uma copa, três sanitários, rampa com escada e um elevador elétrico para entrada e saída de deficientes físicos, além de reservatórios de água servida e potável de até 400 litros e de esgoto químico tratado para deságue em rede pública normal.
A carreta atende até dez especialidades como: gastroenterologia, otorrinolaringologia, urologia, oftalmologia, imaginologia, mastologia, cardiologia, dermatologia, pequenas cirurgias e coleta de exames laboratoriais. Essa flexibilidade permite configurar vários tipos de agendamento, adequando-se às diferentes demandas das comunidades.
O custo de cada procedimento pode variar de R$ 32 a R$ 56, dependendo da forma e do período de contratação da carreta cada uma tem capacidade de atender cerca de 3.000 pessoas e realizar 9.000 exames e procedimentos por mês com base na tabela SUS. Têm prioridade no atendimento pessoas que não possuem plano de saúde suplementar e cujo pedido de exame/consulta médica constar da lista de demanda reprimida da Secretaria Municipal de Saúde. Quando o plano de saúde não cobre os exames da carreta, o acesso não é restringido.
Cada evento envolve a seguinte sequência resumida de ações:
- Apresentação do projeto às cidades interessadas (prefeituras, empresários locais, associações, sindicatos, escolas, igrejas e conselho popular);
- Solicitação e estudo de demanda de exames/procedimentos existentes;
- Configuração de agenda de especialidades adaptada a demanda, procurando otimizar ao máximo a ocupação das salas;
- Levantamento de custos para confecção do orçamento do evento e apresentação do orçamento à cidade interessada;
- Negociação (aprovação, contratos e termos de parceria);
- Auxílio de captação de recursos para diminuir os custos (com empresas locais pela lei das Oscips de renúncia fiscal de 2% do lucro líquido operacional);
- Treinamento dos agentes comunitários locais para atendimento no padrão Cies;
- Limpeza no galpão, deslocamento e montagem da carreta;
- Reunião dos médicos e paramédicos e atendimento propriamente dito.
Custeio e sustentabilidade
Inventor apaixonado por tecnologia e criativo, o empreendedor social é sócio-fundador de uma empresa de desenvolvimento de instrumentos endoscópicos ex-incubada no Cietec-USP, a Fleximedical. Responsável pela manutenção da carreta e dos equipamentos, bem como pelo desenvolvimento de outros projetos, como a van da saúde e o transbox, a Fleximedical destina 10% de sua receita para cobrir custos fixos do Cies (atualmente, negocia a produção de desfibriladores a serem expostos em todos os supermercados Pão de Açúcar).
Outra estratégia de redução de custos e que faz parte do DNA do projeto é a integração social, por meio do estabelecimento de parceria público-privada. As empresas locais responsabilizam-se pelo deslocamento da carreta, medicamentos, estada e alimentação para equipe do Cies; a prefeitura cuida da infraestrutura local (área de estacionamento da carreta, água, luz, esgoto, guarda municipal e pagamentos de procedimentos pela tabela SUS por empenho); e a comunidade (entidades filantrópicas) participa com recursos humanos na recepção, profissionais de segurança e limpeza. Com essa estrutura, o rateio dos custos cai até 50% por evento.
Por fim, a replicação do modelo com a construção de novas carretas custeadas por órgãos públicos consolida a parceria com os patrocinadores (Olympus, Philips e Bausch&Lomb), que têm no projeto um canal de escoamento de equipamentos médicos de alto custo por eles produzidos.
Outro projeto executado pelo empreendedor social é o Hospice, que dá assistência a pacientes terminais e suas famílias. Um médico habilitado atende e acompanha o paciente e familiares como um todo: corpo, alma e espírito. Informa-os acerca da doença, para que possam enfrentá-la de forma positiva com objetivo de diminuir a dor do sofrimento físico e emocional. Atendeu 30 pacientes e seus familiares desde 1994, antes mesmo da criação da associação.
"Estava com um problema havia mais de dois anos. Eu não sentia dor nenhuma, mas sempre que ia ao banheiro tinha sangramento. Ia ao médico do posto de saúde de Lorena e estava tratando de hemorroida.
Ainda não tinha feito exame nenhum, eu tomava remédio para hemorroida que fora receitado com base em meu relato. Esse médico me mandou para uma especialista de Taubaté. Lá a médica disse que eu tinha de fazer um exame de colonoscopia.
Peguei um ônibus e voltei para Lorena voando, pois meu marido já tinha feito o mesmo exame na carreta. Cheguei e não tinha mais vaga. No dia seguinte, me ligaram e avisaram que eu tinha conseguido um encaixe no domingo, dia 15 de agosto, dois dias depois de ir à médica em Taubaté.
Quando cheguei, o doutor me examinou e disse que eu tinha dois nódulos no intestino e que iria me operar na carreta mesmo. Ele disse que meu caso não era grave, mas que poderia se tornar.
Eu não sei como essa carreta veio parar aqui, foi a mão de Deus. Abençoada carreta. São todos muito atenciosos, o atendimento é maravilhoso. A vida toda vou pedir para Deus cuidar do dr. Roberto.
Só tenho o que agradecer, meu problema foi resolvido na hora. Só a boa vontade de fazer a operação ali na carreta já bastou. Percebi que ele é um médico que faz as coisas por amor.
No outro dia ele passou medicação e me orientou a procurar um especialista. Paguei por uma consulta em Guará, levei a biópsia feita na carreta. Estou muito bem, o médico de lá só pediu para que eu repita os exames de cinco em cinco anos.
Os médicos do posto de Lorena só passavam receita. Eu sei que a saúde está difícil no Brasil inteiro, mas em Lorena estamos abandonados.
A colonoscopia pelo SUS teria uma previsão de seis a oito meses. E em Lorena não é feita, o local mais próximo seria Caraguatatuba."
Luciane de Oliveira Pereira Carvalho, 35, acompanhante de idosos em Lorena (SP)