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Dagmar Rivieri Garroux

Quem é ela?

Dagmar Rivieri Garroux, 57, pedagoga, casada, um filho

Organização: Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho

Ano de fundação: 1994
www.casadozezinho.org.br

*dados de 2011

Por meio de uma tecnologia social própria e efetiva, a pedagogia do Arco-Íris, a Casa do Zezinho abre portas para que crianças e jovens em situação de vulnerabilidade e risco social superem as limitações impostas pelo meio em que vivem, conquistando autonomia de pensamento e de ação. O processo de desenvolvimento se dá em sete estágios, cada um representando uma cor do arco-íris e com atividades próprias. Desde o início do trabalho, sempre com foco na zona sul (Parque Santo Antônio), mais de 10 mil zezinhos de 6 a 21 anos foram beneficiados, além de familiares.

No fim do arco-íris

Em um grande “puxadinho” amarelo, educadora promove a autonomia de pensamento e de ação

RACHEL AÑÓN
DE SÃO PAULO

“Sou contra!” Provavelmente essa será uma das frases mais ouvidas durante uma conversa com a educadora Dagmar Garroux, 57. Mas não se engane: a provocação é para trazer reflexão, argumento e, principalmente, ação.

São essas premissas que norteiam a pedagogia do Arco-Íris na Casa do Zezinho. Tia Dag, como é chamada pelos zezinhos, faz com que crianças e jovens que vivem a dura realidade da periferia da zona sul de São Paulo saiam do papel de vítimas para transformarem seus sonhos em realidade e tornaram-se protagonistas da sua história.

A educadora conta que a indignação está no seu DNA. Em casa, seus pais eram liberais e questionavam essa “coisa de classe social”, algo raro para a época. Mais tarde, cursou pedagogia na USP (Universidade de São Paulo), foi às ruas lutar contra a ditadura militar, sumiu para a Bahia e voltou.  Não se encaixou na escola tradicional e optou por trabalhar em casa, dando aula aos filhos de exilados políticos.

As crianças da favela desceram do morro e bateram na porta. Ela acolheu. Alguns anos depois, juntou algumas amigas “da pá virada” e o marido, Saulo Garroux, 63, para começarem a revolucionar o mundo em um pequeno imóvel recém-comprado próximo ao Parque Santo Antonio. Os meninos se multiplicaram rapidamente.

Mas foi em 1994 que Tia Dag escutou de um empresário, que a viu tomando lanche no McDonald’s com um monte de crianças, a pergunta que faz todos os dias: “Qual é o sonho?”. A resposta foi na lata: “Quero ter mil zezinhos!” Ele comprou um terreno próximo e, pouco depois, estava fundada oficialmente a Casa do Zezinho.

Sempre rodeada de pessoas, Tia Dag trabalha em uma mesa redonda coberta por sapos, tartarugas e livros, quase todos presentes de amigos. O prêmio que mais gostou de receber está ali, pela “luta antimanicomial e direitos humanos”. “Eu sou louca mesmo, agora diplomada”, ri. Os zezinhos entram e saem da sala, sem cerimônia.

Um deles se aproxima, e ela percebe que está com frio. Com uma canetada, manda-o pegar uma meia no bazar.  Ele volta e dá um sinal positivo com o dedão. Pouco depois, aparece um “zezinho veterano” de 28 anos e, com a mesma displicência, solta: “Tenho uma bolsa aqui para um curso na Universidade dos Estados Unidos. Tá a fim?”. Sem pestanejar, responde: “Claro que eu quero!”

É da mesma forma que Dag recebe empresários, celebridades, artistas e rappers. “Comigo é pá-pum. Aprendi com as crianças”, avisa. Eles gostam e, mais do que doação, quase todos se tornam parceiros ou voluntários. Mas confessa que, ao receber Fagner, não resistiu e “tietou” o cantor.

A mulher forte, que afirma não sentir medo, passou por momentos de dúvidas sobre o que estava fazendo, principalmente quando perdeu a filha recém-nascida, no primeiro casamento, e depois o pai, durante um assalto no sítio onde vivia.  A primeira dor a jogou em uma jornada de busca pela verdade e autoconhecimento. 

Na segunda, a tristeza a fez afastar-se do trabalho da Casa, então com dois anos de existência.  No entanto, o telefonema de um zezinho, avisando que encontrou o criminoso e podia vingar a morte dele, deu o choque que precisava para  reassumir sua luta. “Ele morreu de pé defendendo seu lugar. Aprendi a lição e segui.”

E quem é o zezinho original? Ele existe? A inspiração, segundo ela, é do poema de Carlos Drummond de Andrade, “E agora José?” Por um breve momento, ela deixa alguma coisa no ar. Um sorriso maroto brota do fundo da alma e encerra o mistério: “O Zezinho sou eu!”

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Conheça mais sobre a Casa do Zezinho

A principal inovação da Casa do Zezinho foi ter criado e aprimorado empiricamente ao longo de 17 anos um projeto educacional que promove com sucesso o desenvolvimento de crianças e jovens considerados por professores e profissionais da escola pública como pessoas difíceis de lidar, motivar e ensinar ou mesmo limitadas para a aprendizagem. Sua abordagem contraria os paradigmas escolares e reflete o profundo conhecimento da realidade dos alunos –e o interesse explícito por eles, com respeito e sem preconceitos. Além de educação geral e cultura, tem desde o início forte componente de aprendizado prático, com vistas à inserção no mundo do trabalho ou o empreendedorismo, essenciais para romper com o ciclo de pobreza, miséria e violência em que a maioria deles está inserida.

Esse método educacional foi chamado de pedagogia do Arco-Íris e se baseia na conquista da autonomia por meio da mobilidade –ou seja, no olhar freireano de que educar é o processo de mobilizar e desenvolver o ser que cada um tem em si. Segundo a ONG, as cores do arco-íris representam as possibilidades de sonhos e as pinceladas de diversidade que existem na vida. Assim, as etapas que a criança percorre são simbolicamente divididas pelas cores que compõem o arco-íris.

O passaporte de uma cor para outra –de um espaço de aprendizagem para outro– é a mobilização. A cada cor é associado um dos elementos da natureza e, a cada elemento, associam-se núcleos de atividades de criação pedagógica, os chamados espaços de aprendizagem: Violetas, Jeans, Mares e Rios, Matas, Solar, Oriente e Coração –nomes escolhidos pelos próprios alunos.

Todos os temas e atividades trabalhados nos espaços de aprendizagem (arte, tecnologias da informação, linguagens, cultura, movimento, música, ambiente, conhecimentos gerais e competências para ingressar no mundo do trabalho) levam em conta os níveis de referência pelos quais a criança ou o jovem estabelece suas relações consigo e com o mundo que o cerca.

O orçamento de R$ 4,1 milhões em 2010 apresentou diversificadas fontes de financiamento, entre convênios privados (39%) e públicos (15%), doações de pessoa jurídica (15%) e física (8%), projetos incentivados (12%), contribuições de associados (4%) e outras origens, como eventos e venda do grupo de mães (7%). Para 2011, projetam-se R$ 4,2 milhões. São 331 associados –dos quais 112 ativos.

A Casa do Zezinho conta com um fundo de reserva de R$ 1 milhão, proveniente de doação feita por um grande empresário. Também investiu em um sistema informatizado de fluxo de caixa e administração financeira e apresenta auditoria financeira independente da Audisa.

Principais parceiros: AGR Rosembaum, AlmapBBDO, Brassinter, Cieds, Decathlon, Editora Globo (Prêmio Generosidade), Fumcad (Fundo Municipal da Criança e do Adolescente), Fundação Crespi Prado, Fundação Prada, Goldman Sachs, Instituto Hedging Griffo, Instituto HSBC, Instituto Rukha, Instituto Société Générale, Integration School, Itaú/Fies, Ministério da Ciência e Tecnologia, Mission Franciskannerinenn, Multigrain, Murr Elektronik, Nestlé, Prefeitura Municipal de São Paulo (SMADS – Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social), Promon, Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, Wal-Mart, Yuny Incorporadora, Zukunft durch Bildung e.V.

A quantidade de beneficiários varia conforme o documento apresentado pela organização. Em 2010, foram atendidos de 967 zezinhos (741 crianças e 226 jovens) a 1.409 (648 criancas, 629 jovens e 132 pais e mães). Desde o início do trabalho, esse total varia de 10 mil a 16 mil pessoas, segundo a entidade, o que denota ausência de registro acurado do impacto social quantitativo.

Trata-se de crianças e jovens de ambos os sexos, com idades entre 6 e 29 anos, moradores de bairros próximos e matriculados em 67 escolas públicas da região que frequentaram as atividades. Os pais participantes têm entre 25 e 45 anos, sendo a maior parte mães entre 30 e 35 anos.

No relatório anual de 2010, aponta-se a distribuição de 265.252 lanches e 29.357 refeições ao custo de R$ 0,35 por lanche e R$ 5 por refeição. O custo por criança frequentando a casa cinco dias por semana foi de R$ 357; no caso de jovens, foi de R$ 1.049. Em 2009, haviam sido de R$ 276 e R$ 826, respectivamente. O aumento se deve ao maior número de oficinas e serviços oferecidos.

Não existe avaliação quantitativa nem qualitativa do impacto causado aos zezinhos. A instituição pretende desenvolver metodologia para isso até 2012. Por ora mantém um processo informal denominado Casos de Sucesso, em que zezinhos egressos são entrevistados para acompanhamento do desenvolvimento pessoal e profissional.

Entrevistas conduzidas pela equipe do prêmio com ex-beneficiários apontam impacto transformador na vida de muitos deles, que deixam o mundo do tráfico, da miséria, dos assassinatos, dos conflitos entre facções e com a polícia para obter diploma universitário e conquistar um bom emprego, abrir seu próprio negócio ou mesmo projeto social. De uma juventude desacreditada, sem sonhos nem perspectivas, tornam-se protagonistas de suas histórias com o impulso da Casa do Zezinho.

A atuação da Casa do Zezinho está concentrada em sua sede, no bairro do Capão Redondo, desde o início na zona sul de São Paulo. Não existe na organização uma política de expansão ativa de seus trabalhos para além do bairro em que atua.

Quando procurada por outras ONGs, no entanto, presta serviço de consultoria para replicar sua tecnologia social, sem acompanhamento direto posterior. Atualmente quatro ambientes similares ao em que atua, com atendimento a populações em situação de alta vulnerabilidade social, trabalham com o método da Casa:

  • Cabo Frio (RJ) –Fundação Santo Agostinho
  • Jataí (GO) –ONG Amor e Arte (da ONG norte-americana Love and Arte, de São Francisco);
  • Rio de Janeiro (RJ) –Miratus
  • São Paulo, no bairro Jardim Comercial, periferia da zona sul –Associação Interferência, do escritor Ferréz, fundada em 2009 juntamente com a empreendedora social.

A entidade também já fez palestras e formação de voluntários em organizações da Alemanha, dos Estados Unidos e da França.

A profissionalização da organização teve início em 2007, com a estruturação da Casa associada ao planejamento estratégico 2007-2009. Um dos principais desafios atuais é concluir o processo de sistematização em curso: o Manual de Normas e Procedimentos e Política Institucional deverá ficar pronto até o fim de 2011.

Por ora, a replicação se dá quando surge demanda externa, por meio de consultoria.

A Casa do Zezinho trabalha em convênio com a Prefeitura Municipal de São Paulo, em parcerias com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social, que concede recursos para 180 crianças, adolescentes e jovens, e com a Secretaria Municipal de Participação e Parceria, com verba do Fumcad, para três projetos que somam 800 vagas.

Durante a visita do prêmio, a organização participou de encontros ligados à Faculdade de Educação da USP, com coordenação do Centro Paula Souza, para apoiar uma política de desenvolvimento de educadores no intuito de ser adotada pela rede estadual de ensino. O processo ainda não foi concretizado.

A Casa do Zezinho promove o reconhecimento de potencialidades por meio do incentivo à curiosidade, ao prazer pela descoberta e ao aprendizado constante, tendo como meta o desenvolvimento humano a partir da criação e da reflexão crítica.

Os planejamentos pedagógicos centram-se no trabalho com valores humanos, resgate da autoestima, estímulo das ações em equipe, desenvolvimento do interesse pela leitura e escrita, entendimento e manipulação das operações administrativas, desenvolvimento dos trabalhos de pesquisa sobre profissões do mercado de trabalho, articulação das ideias e a autoria do início de seu projeto de vida.

A pedagogia do Arco-Íris leva em conta sete espaços de aprendizagem (evita-se o uso de “sala de aula”), um caminho que a criança percorre através das cores dos 6 aos 21 anos de idade, representando a sequência de seu desenvolvimento:

Espaço Violetas (6 a 8 anos) –Eu e minha casa;
Espaço Jeans (8 a 9 anos) –Eu e minha rua;
Espaço Mares (9 a 10 anos) –Eu e minha escola;
Espaço Rios (9 a 10 anos) –Eu e minha escola;
Espaço Matas (10 a 12 anos) –Eu e meu bairro;
Espaço Solar (12 a 14 anos) –Eu e minha cidade;
Espaço Oriente (14 a 16 anos) –Eu e meu país;
Espaço Coração (16 a 21 anos) –Eu e o nosso mundo.

O planejamento dos espaços de aprendizagem e oficinas baseia-se em um programa anual, pautado em dez eixos temáticos:

  1. percepção e sentidos;
  2. prevenção integral;
  3. cidadania;
  4. alfabetização e letramento;
  5. números e tecnologia;
  6. artes;
  7. movimento;
  8. brincar;
  9. integração ambiental;
  10. cultura popular.

Todos os eixos têm como meta a busca do desenvolvimento da autonomia e das competências e habilidades a partir do cuidado e do acolhimento, exercitando o “olhar miúdo” dos educadores e outros profissionais para cada individuo que chega.

A passagem de uma cor para outra denota que a criança adquiriu as ferramentas para conquistar a autonomia de lidar com o espaço de aprendizagem subsequente. A meta é chegar ao último estágio, Coração, e obter a inserção profissional. Não há prazos para essa jornada e um zezinho pode permanecer na instituição por anos –até indefinidamente, nos casos dos vários que passam a trabalhar ali.  

Se uma criança ou jovem surge com uma questão emergente, o planejamento é alterado para atendê-lo –daí a pedagogia ser conhecida também como “Pedagodia”.

Por meio dela, crianças e educadores, na rede das relações estabelecidas, descobrem seu lugar de importância na vida uns do outros. A convivência é o canal para desenvolver a empatia, o olhar humano e o compartilhar contínuo de saberes. Com o fortalecimento do grupo, criam-se condições para serem autores da sua história, dos seus ideais. Promove-se a fluência na comunicação em diferentes âmbitos: familiar, escolar, da moradia, da comunidade, da saúde, das leis e da cidadania. É a contribuição ao desenvolvimento de todos e de cada um.

O aprendizado se pauta no princípio da gestão participativa, com a criação de comissões de educadores e de zezinhos. Nas comissões de sala, os temas são de acordo com o interesse de cada grupo, podendo variar desde regras de convivência e valores humanos até avaliação dos educadores e suas atividades nas oficinas e ateliês. Nesse encontro, o educador do espaço faz a mediação do diálogo, acompanhando-o com o intuito de esclarecer e identificar as expectativas que as crianças e/ou os jovens nutrem em relação às atividades.

A sistemática de avaliação da Casa do Zezinho é processual, ou seja, é realizada durante o desenvolvimento das atividades e leva em conta a convivência. Cada criança passa por um processo de avaliação, com autoavaliação, avaliação do grupo a que pertence e avaliação do grupo em que pretende ingressar.

Por fim, o envolvimento das famílias, tanto de forma indireta, acompanhando o processo educativo das crianças e jovens, quanto direta, em atividades de qualificação profissional para as mães, é outro fator relevante adotado pela organização para minimizar os impactos da exclusão.

Para aplicar a pedagogia do Arco-Íris, a Casa do Zezinho conta com atividades desenvolvidas pelos educadores dos espaços de aprendizagem, oficinas e cursos organizados em mais de 30 projetos, entre os quais se destacam:

Aprender Brincando: a proposta do projeto Aprender Brincando, desenvolvida com as crianças dos espaços Violetas, Jeans, Mares e Matas, visa resgatar fatores importantes que ficaram bloqueados no inconsciente e/ou no emocional das crianças, colocando-as de volta ao caminho natural que perderam em alguma etapa do processo educacional.

São criados cantos específicos (Canto das Letras, dos Números, das Experiências, das Histórias e do Corpo), em que de 20 a 30 crianças se alternam em sistema de rodízio. Por exemplo, enquanto o Espaço das Violetas está no Canto das Letras, o Espaço Jeans fica no Canto dos Números. Depois trocam de lugar e o educador de cada grupo vai acompanhado as crianças.

Ateliês de Arte: a arte é uma linguagem disseminada por todos os espaços da Casa do Zezinho, permeando todo o processo de atendimento. A educação por intermédio da arte é um meio de comunicação-interação com a criança e o adolescente que está presente na arquitetura, nas cores, nos sentimentos que movimentam os espaços de aprendizagem de toda a Casa: os corredores, as salas, os jardins, a quadra, a cozinha, a piscina, o espaço administrativo.

Toca, Zezinho!: oferece aulas de violino, violoncelo, trompete, clarineta, flauta, percussão, violão e cavaquinho e canto coral para a formação de orquestra e coral.

Makaya: visa desenvolver a sensibilização aos problemas ambientais pela reflexão e busca constante de soluções, melhorar a condição de vida com a implantação de práticas de coleta seletiva de lixo e uso consciente de recursos naturais escassos, como a água. Além disso, há um projeto-piloto de construção sustentável de moradia na favela.

Oficina de jornalismo –Z’Zine: forma 80 jovens capazes de desenvolver um produto de comunicação impresso –o  Z’zine, uma revista trimestral, com tiragem de 5.000 exemplares, destinada ao público jovem de periferias e aos parceiros da Casa do Zezinho.

Educação de Jovens para o Século 21: trabalho com os jovens de 15 a 21 anos, com o objetivo de promover a educação básica para que tenham uma vida com autonomia e possam se preparar para entrar no mercado de trabalho formal. O foco é o ensino aprofundado de competências (comunicação e língua portuguesa, inglês, matemática, informática e empregabilidade) e conteúdos básicos para que os jovens possam aprender a aprender. As aulas são práticas e interativas. Assim, estudam matemática e física em demonstração de robótica, por exemplo.

Informática: desenvolvido com todos os zezinhos, tem como princípio possibilitar uma interação simples e direta aprendiz/máquina. O curso básico oferecido é chamado Potencial Ilimitado, com certificação da Microsoft ao final, e inclui fundamentos da computação (Windows e Word), de planilha eletrônica (Excel), de apresentação (Power Point), de Banco de Dados (Access) e de WebDesign. 

Empregabilidade para o Século 21: as oficinas de design gráfico e Web 2.0 servem de laboratório onde são concebidas e experimentadas estratégias e metodologias que utilizam as tecnologias da comunicação para promover ações de educação e de mobilização social.

Gastronomia: visa profissionalizar jovens para produção e fornecimento de produtos alimentícios para bufês e cafés, bem como atuar como cozinheiros. Outro objetivo é fortalecê-los para atuar como um grupo de produção interna na Casa do Zezinho. O curso tem duração de 12 meses, em três módulos. Os jovens são formados em técnicas de culinária e temas como comercialização, logística de compras e decoração.

Multimídia: oficina de capacitação profissional que engloba as oficinas de estúdio de som e foto e vídeo, com objetivo de desenvolver metodologias que utilizam as tecnologias da comunicação para promover ações de educação e de mobilização social.

Gmacz (Grupo de Mães Amigas da Casa do Zezinho): oficinas de artesanato, costura, customização e reutilização de matérias-primas aplicando conceitos de design utilitário visando o empreendedorismo. Tem como objetivos gerar renda e estimular a aproximação entre mãe e filho. Atualmente conta com dez sócias que trabalham sob encomenda de empresas.

A Gente Transforma Parque Santo Antonio: projeto realizado em parceria com o designer Marcelo Rosenbaum, a Suvinil e o Instituto Actos que habilitou jovens moradores do Parque Santo Antonio para exercer o ofício da pintura. Com foco no Campo do Astro, principal área de lazer da comunidade, pintaram-se os imóveis a seu redor e instalou-se uma biblioteca com acervo de mil livros, acesso à internet e atividades culturais e educativas.

“Estava com 12 anos e tomava conta de carro com uns moleques. Um dia eles sumiram. Duas semanas depois, eu os encontrei num campinho jogando bola uniformizados.

“Nossa, mano! De quem vocês ganharam isso?”, perguntei.

“Ganhamos de uma mulher que dá comida na associação”, responderam. Eles não quiseram me levar. Disseram que eu tinha que estudar pra chegar lá, mas insisti e um deles acabou me levando.

Na frente da casa, tia Dag perguntou meu nome e eu respondi “Nenê”. Ela disse que queria saber meu nome de verdade, o “de batismo”. Eu disse mais duas vezes meu apelido até lembrar que me chamava Marcos. 

Ela começou a fazer perguntas que nunca ninguém fez pra mim do tipo: se eu morava com minha mãe, se eu dormia na cama, o que eu comia lá em casa. Fiquei com o pé atrás. Mas quando ela me perguntou qual era o meu sonho aí, sim, a coisa desandou.

Pensei “Qual é a dessa mulher?” Meu, eu nunca tive tempo pra isso [sonhar]! Que sonhos?

Percebi que ela era uma pessoa de outro mundo, tinha um cheiro diferente e era carinhosa. Bateu o medo: “Ela quer me vender!” Mas ela me deu um pirulito e ficou tudo bem.

Aos 14 anos, minha vida tomou outro rumo. Meus pais estavam separados e tornei-me folgado. Na escola, porém, ninguém nunca perguntou qual era o meu problema. Só me viam como capeta. Um dia, levei um revólver de brinquedo pra escola, roubei a cantina e voltei pra sala de aula. A casa caiu e fui expulso. Sem boletim pra mostrar, larguei a Casa do Zezinho.

Acabei me envolvendo com um estelionatário. Bebia uísque, fumava maconha e conheci a cocaína. Fugi para uma favela do Rio de Janeiro com ele onde fui apresentado ao tráfico, aprendi a manusear armas e drogas. Fiz tatuagem. Voltei seis meses depois e virei bandido.

Aos 17 anos gerenciava um ponto de tráfico no Parque Santo Antonio. Não tinha noção do perigo, vivia chapado, mas escrevia uns bagulhos e mostrava pra Ana Paula, minha melhor amiga. Ela dizia que eu deveria sair dessa vida, que eu não havia nascido pra isso.

No dia 28 de abril de 2000, uma amiga nossa morreu. Antes de ir ao velório, Ana Paula me pediu que, caso morresse, que não querida ser enterrada no cemitério São Luiz. Voltei para casa, deu sono e dormi. Ela foi com uns amigos e, na volta, uns caras que tinham treta conosco fecharam o carro e mataram todo mundo.

Fiquei desesperado. Na minha cabeça só vinha que tinha que cumprir minha palavra. Estava sem dinheiro e bati no Zezinho. “E quem vai me dar o dinheiro para pagar o seu enterro?”, me disse tia Dag na lata, após me dar a grana. Aquilo me chocou, pois nunca pensei em morrer, me achava herói. Ela me convidou pra voltar e pedi uma semana pra pensar.

Tia Dag foi a única pessoa que acreditou nos meus sonhos quando eu já nem sonhava mais. Eu nem lembrava mais que queria ser escritor e ela lembrou naquele dia. Me abraçou quando as pessoas estavam fugindo da mim.

Fiquei na biblioteca e de lá fui para a universidade. Fiz letras e montei um projeto de erradicação do tráfico de drogas na escola em que fui expulso. Há três anos sou educador social e publiquei meu livro: “Zona de Guerra”.’’

Marcos Lopes, 28, “Nenê”, escritor
 
Patrocínio: Coca-Cola Brasil e Portal da Indústria; Transportadora Oficial: LATAM; Parceria Estratégica: UOL, ESPM, Insper e Fundação Dom Cabral
 

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