Senhor da paz
Ao enfrentar uma turbulência fortíssima num voo entre Suriname e Brasil, o indígena Almir Narayamoga Suruí, 38, apelou para a proteção de Siwagoti, espírito dos ventos fortes do seu povo. Solidário, lembrou-se ainda de pedir ajuda para um amigo que o acompanhava na viagem.
De volta à aldeia, contou a história ao pai, Marimop. Todo orgulhoso, relatou que na hora do desespero não se esqueceu do companheiro. Em tupi-mondé, língua dos suruís, o pai de Almir perguntou: “E por que você não pediu ajuda para o avião inteiro?”.
O episódio ilustra bem o ensinamento que há tempos guia a luta de Almir na preservação da floresta – e de sua gente. “Meu pai me ensinou que não basta lutar só por mim, por minha família, tem que ser pelo povo todo”, conta, emocionado.
Eleito chefe-maior do povo suruí, o indígena está à frente da Metareilá (significa “lugar de organizar”), associação que defende os direitos de um povo que vive em conflitos constantes com madeireiros da região. Por combater a venda ilegal de madeira, o líder suruí sofre constantemente ameaça de morte.
Os suruís vivem em 25 aldeias espalhadas pela Terra Sete de Setembro, demarcada numa área de 248 mil hectares. Depois de quase ter sido dizimada por uma epidemia de gripe após o contato, em 1969, a população baixou de cerca de 5.000 a pouco menos de 300.
Hoje calculam 1.350 suruís. “Somos sobreviventes”, diz Almir, com os olhos mareados ao lembrar que os mortos daqueles anos não foram enterrados.
Menino ainda, Almir deixou a aldeia e foi estudar na cidade. O pai dizia que o filho estava “caçando para o povo”. “Continuo caçando”, emenda o guerreiro com voz suave, sem levantar o tom de voz.
Aos 17 anos, ele já despontava como uma jovem liderança indígena suruí. Não tardou a entrar na militância ambiental. Entre ambientalistas, encarou forte preconceito: os suruís eram chamados de “índios madeireiros”.
A relação entre madeireiros e suruís tem origem nos anos 1980, década em que conquistaram a demarcação de seu território. “Na época, os suruís foram em busca de uma política de sustentabilidade, e a Funai falou que a gente tinha terra muito rica, podia tirar madeira”, conta.
Sua primeira missão era justamente romper com esse pacto do passado. Tinha que convencer os suruís envolvidos com a venda ilegal de madeira de que era preciso valorizar a floresta em pé – ou cuidar da terra, como diziam os velhos da aldeia, insatisfeitos com o desmatamento no território
Na guerra da conscientização ambiental, encontrou a etnoambientalista Ivaneide Bandeira Cardozo – Neidinha. Logo se apaixonou pela militante veterana. “Ela é minha mulher e parceira, na tranquilidade e na guerra”, diz Almir, que é também casado com outra branca, seguindo a tradição de poligamia de seu povo.
Ciência e tradição
Em 1999, o jovem líder indígena desenvolve o plano de gestão do território suruí. Nada de planejar para quatro ou cinco anos, tempo que diz só servir para o ciclo eleitoral da sociedade não indígena. Para projetar o futuro de seu povo, o planejamento suruí atinge cinco décadas.
Aliado a Kanindé, uma das ousadias do plano é unir o conhecimento científico dos pesquisadores com a sabedoria tradicional dos suruís, criando uma nova metodologia. Surge o primeiro plano de gestão de um território indígena, que tem hoje o projeto do Carbono Suruí.
Nem as armas high-tech foram dispensadas na luta do líder indígena. Em 2007, em viagem pela Califórnia (EUA), conseguiu uma reunião com a empresa Google Earth. Mas tinha só 30 minutos para falar (e ser traduzido). Parecia uma batalha vencida.
O indígena não desprezou o tempo diminuto, desatou a contar sobre a história de seu povo e o plano de gestão do território suruí. O encontro, então agendado para durar meia hora, rendeu quatro horas de conversa. No dia seguinte, o jornal New York Times publicava reportagem sobre a parceria da empresa com o povo suru
Com a repercussão, a saga dos suruís ganhou o mundo. Almir visitou 33 países, encontrou outras lideranças internacionais, como o príncipe Charles e Bill Clinton. Por onde passa, perguntam sobre a parceria com o Google. “Mas, antes de falar disso, falo sobre a história e a luta de meu povo.”
Chamado de segundo Chico Mendes pela revista Smithsonian, Almir rebate o rótulo rapidamente, sem perder a calma: “Não quero ser Chico Mendes, não, ainda mais morto”, diz enquanto é observado ao longe por guardas da Força Nacional, que o escoltaram durante os dias de visita da reportagem, período em que as ameaças contra os suruís ficaram acirradas.
Com voz suave e sorriso fácil, Almir conta que não deixa de dizer o que pensa. Certa vez, num encontro que reunia indígenas e a sociedade envolvente, um branco disse: “Esses aqui são os meus índios”. Almir não deixou por menos e sem alterar a voz retrucou: “Vou então apresentar meus brancos, estão todos patenteados”.
Uma das palavras que o guardião da floresta mais usa ao narrar sua trajetória é luta (guerra ou batalha). Mas, assim como define sua parceira, Neidinha, é o “senhor da paz”, que tem como principal estratégia o diálogo. Ou, como coloca o próprio Almir, a sua guerra é de consciência.
Senhora da guerra
Filha de seringueiros acreanos, a etnoambientalista Ivaneide Bandeira Cardozo, 53, cresceu na floresta amazônica com os vestígios dos índios uru-eu-wau-wau, até então isolados. Ouvia seus assobios, via suas pegadas.
Até hoje Neidinha, como é conhecida entre ambientalistas, segue os passos dessa e de outras etnias em Rondônia, onde coordena a Kanindé – Associação de Defesa Etnoambiental, que atua com plano de gestão ambiental em terras indígenas.
Na infância na mata, onde cutia, macaco e paca eram seus amigos e brinquedos, aprendeu a ler em revistas como “Manchete” e em livros de bangue-bangue, que chegavam por lá vez ou outra, desembarcando num avião.
Nessas leituras, ficava intrigada com histórias em que “os índios, os donos da terra, só se davam mal”. “Pensava: Um dia vou mudar essa história, não é possível ser assim. Sabia que os índios não faziam nada pra gente”, conta Neidinha, que, na universidade, graduou-se em história
Quando os pais decidiram rumar para Porto Velho para que as filhas pudessem estudar, Neidinha sentiu como é que índio isolado se sente quando chega na cidade. Só conhecia barco e avião. Quando viu um carro pela primeira vez, saiu correndo assustada. “Ao sair da mata, acabou minha liberdade”, lembra.
Na escola, logo se juntou ao grupo de teatro. Ao encenar uma peça que falava da migração em Rondônia, não teve dúvida qual personagem queria ser: o índio. “Mas não queria ser o índio que morria no final, não.”
A juventude foi marcada pela arte e pela militância. Aos 18 anos, sobrevoou a capital de Rondônia numa avião providenciado por amigos ricos para jogar versos na cabeça dos moradores. Ainda hoje sua geração se recorda desse dia.
Também ia para a praça só, com placas em protesto contra o desmatamento na Amazônia. “Era a maluca sozinha na praça”, conta, sempre bem-humorada, lembrando de seu estilo “hiponga”.
Nesse período, em 1981, os uru-eu-wau-wau foram contatados pela Funai. Lá estavam de novo os índios que rondaram sua infância bem pertinho de sua casa, localizada em frente à sede da instituição.
“Quando olho para os uru-eu ali na cidade, me sinto como um deles”, conta. “Hoje eu já estou toda misturada, já não sei mais o que sou, perdi a identidade”, completa, refletindo sobre sua trajetória marcada pelo trabalho com diversas etnias, como parintintin, gavião, arara e, principalmente, suruí.
Mochileira e militante
Depois de vivenciar episódios de confronto e denúncia, numa mineradora, na própria Funai e numa ONG em que atua, decide que o caminho é reunir sua turma numa organização independente.
É quando cria em 1992 a Kanindé, cujo nome significa arara-vermelha para o povo uru-eu-wau-wau, que também tinha um importante guerreiro batizado com esse nome.
No início dos anos 90, o escritório da Kanindé cabia na mochila da empreendedora. A moça magricela, de cabelos compridos e pouca roupa andava dias pela mata com um mochilão nas costas. Vivia cheirando a fumaça.
Às vezes, saia em expedição floresta adentro vestida com uniforme de polícia (herança dos tempos em que atuou na corporação e foi expulsa depois de denunciar colegas por corrupção). Era para apreender os madeireiros que ameaçam o território do povo uru-eu-wau-wau. “Prendia os caras e chamava a polícia”, conta rindo. Foi na militância ambiental que conheceu Almir Suruí, liderança indígena com quem diz ter se casado não uma, mas três vezes em cerimônias tradicionais como o Mapimaí (comemoração que celebra a criação do mundo).
O encontro da dupla foi marcado por brigas e divergências no jeito de encarar a “luta” na defesa da floresta. “Eu vinha do front, do enfrentamento; o Almir, do diálogo. Uma vez, numa palestra, eu disse: ‘Aqui estão o Senhor da Paz e a Senhora da Guerra’.”
Na guerra contra o desmatamento, ela já foi alvo de tiros –escapou. Não desiste. “Filho de seringueiro luta desde que nasce”, explica.
Confessa, no entanto, temer pela proteção do Almir quando o cerco aperta, como ocorre nos últimos meses. “Tenho medo, mas também tenho certeza de que vamos vencer. A crença é maior que o medo”, dispara.
Foi com o Senhor da Paz que Neidinha descobriu a maternidade, um sonho que parecia impossível, já que médicos consultados em casamentos anteriores diziam para ela desistir da ideia de engravidar.
Para os suruís, mulher que não tem filhos não tem valor. Weitag Suruí, mãe de Almir, tratou a nora na tradição de seu povo. Nove meses depois, nascia a primeira filha do casal e, depois, a caçula.
Transgressora assumida, Neidinha fala abertamente de seu casamento bem incomum para a sociedade branca. Seguindo a tradição de poligamia de seu povo, Almir é casado com duas mulheres não índias.
“Nessa história toda, a heroína é a Adelaine [a outra mulher de Almir]. Eu e Almir não somos fáceis, a gente acorda e dorme com as questões ambientais e indígenas. É ela quem segura as pontas e tem o pé no chão”, diz, sobre a parceria a três.
A fala diz muito da etnoambientalista, que desde menina sonha em mudar a história, valorizando os verdadeiros heróis.
Assista
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Dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) em 2012 na Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Ensino) apontam que havia em 2011 53,8 milhes de estudantes de quatro anos ou mais de idade, 61% dos quais no nvel fundamental de ensino. Desses 32 milhes de alunos cursando da primeira nona srie, a maioria --27,9 milhes-- frequenta escolas pblicas.
Outro aspecto fundamental para a educao, em especial o desenvolvimento da leitura, o acesso a equipamentos culturais. A regio Norte a menos equipada, e o Estado de Mato Grosso no fica muito atrs.
O estudo Retratos da Leitura, realizado pelo Instituto Pr-Livro e publicado em 2011, aponta a regio Norte como aquela onde menos se l no pas. Segundo o Inaf 2011 (Indicador de Analfabetismo Funcional), h uma presena maior de analfabetos funcionais, aqueles que conseguem minimamente decodificar pequenos textos escritos, mas no desenvolveu a habilidade de interpret-los, na rea rural (44%) do que na rea urbana (24%), sendo que o ndice para as regies Norte e Centro-Oeste (32%) fica acima da mdia nacional (27%).
Diante desse cenrio, atuando na regio Norte, no Estado de Mato Grosso e So Paulo, a Vaga Lume desponta como mobilizadora do acesso leitura e ao conhecimento tanto por meio de sua tecnologia social, fortalecendo laos comunitrios em torno de bibliotecas bem equipadas e mediadores capacitados, quanto pelo seu modelo de educao para a sustentabilidade, enfrentando, assim, todos os desafios aqui descritos.
O perfil de inovao da Vaga Lume sutil e moderado, menos explcito que em muitas organizaes de impacto social, e est ligado forma como atua no nvel microssocial, com vistas a gerar uma transformao local e regional.
A estabilidade de seus dois nicos programas --o Expedio, de criao e gesto de bibliotecas, que deu origem organizao, e o Rede, de intercmbio cultural juvenil-- demonstra a escolha clara da candidata por aprimorar continuamente sua tecnologia social, tornando-a cada vez mais eficiente e efetiva, em vez de se lanar a novas frentes de projetos, produtos e servios.
Essa cultura em si pode ser considerada um vetor de inovao, em um contexto em que inovao tornou-se o carro-chefe de marketing social, em resposta s demandas do mercado. So, portanto, inovaes incrementais e em boa parte das vezes endgenas --a partir das iniciativas e do olhar de seu pblico-alvo, leitores e voluntrios da regio amaznica.
O pioneirismo da candidata se d em sentido estrito, ao desbravar locais de atuao em que ningum mais atua ou quer atuar, com grandes barreiras logsticas e longe dos principais centros de deciso do pas.
No h indcios de pontos fracos ou ameaas que coloquem em risco a continuidade do trabalho da Vaga Lume. A empreendedora social j passou por momentos bastante crticos, como a sada em 2006 das duas outras cofundadoras da organizao, que eram responsveis pela gesto e articulao de parcerias, reas que no dominava --e que at hoje esmera-se para cobrir. Em 2010, o encerramento abrupto de uma parceria com uma empresa varejista teve impacto profundo nas contas, com sucessivos dficits que quase zeraram as reservas, amortecido e estabilizado apenas neste ano. Transformou ambas as ocasies em "aprendizado", sem jamais cogitar o encerramento das atividades.
A Vaga Lume tem buscado sua sustentabilidade pela diversificao de suas fontes de recursos. Os esforos esto concentrados na estruturao de um modelo de captao de recursos que tenha como um de seus pilares a ampliao do nmero de contribuintes pessoas fsicas e pequenas/mdias empresas, garantindo assim a existncia de recursos suficientes para as reas administrativas da organizao.
Alm disso, a Vaga Lume vem nos ltimos anos desenvolvendo projetos personalizados para empresas e organizaes governamentais e ONGs na sua rea de expertise. Fez em 2012 uma curadoria de acervo de livros para organizaes apoiadas pela Fundao Andr Maggi; desenvolveu metodologia para formao de comunidades em uso racional de energia eltrica em reas rurais da Amaznia para a Guascor e foi responsvel pela seleo de acervo e referencial terico da campanha Ita Criana 2011.
Em 2013, os principais patrocinadores financeiros da Vaga Lume so: Dresser-Rand Guascor, sua mantenedora snior desde 2006 e parceira desde 2004; Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados, parceiro desde 2012 que atualmente tem a chancela de patrocinador regional; Banco Paulista, que iniciou sua parceria em 2013, tambm com a chancela de patrocinador regional.
O oramento para 2013 de R$ 1.600.000 (estimado).
Alta, se considerada as comunidades em que atua na Amaznia. Trata-se de um trabalho que vem sendo realizado de maneira consistente, contnua e aprofundada ao longo de mais de uma dcada de existncia.
O impacto claro. Houve aumento do Ideb [ndice de Desenvolvimento da Educao Bsica, um indicador criado pelo governo federal para medir a qualidade do ensino nas escolas pblicas] em relao ao perodo anterior [ sua chegada] e tambm em comparao com as comunidades que no tm biblioteca. [A Vaga Lume] causa um despertar para a leitura, mais livre, espontneo, com mais prazer em ler. H melhoria na linguagem e no interesse por ler, atesta a chefe da unidade de Educao Infantil da Secretaria Estadual do Amap, Vnia Mary Viegas Souto, 49.
Diretamente, de acordo com a empreendedora social, o programa Rede beneficiou 37 mil alunos de comunidades rurais da Amaznia e da cidade de So Paulo envolvidos; j o Expedio, por meio de suas bibliotecas em 23 municpios da Amaznia, beneficiou um total de 194 mil pessoas, afora os 2.396 voluntrios formados como mediadores de leitura e os 347 voluntrios formados para replicar a metodologia Vaga Lume.
Programa Expedio
Est em 163 comunidades rurais de 23 municpios dos nove Estados das regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste que compem a Amaznia legal brasileira. Os municpios so Cruzeiro do Sul (AC), Barcelos (AM), Carauari (AM), So Gabriel da Cachoeira (AM), Tef (AM), Uarini (AM), Macap (AP), Barreirinhas (MA), Guimares (MA), Mirinzal (MA), Campinpolis (MT), Chapada dos Guimares (MT), Belm (PA), Breves (PA), Castanhal (PA), Oriximin (PA), Portel (PA), Santarm (PA), Soure (PA), Ouro Preto do Oeste (RO), Caracara (RR), Pacaraima (RR) e Ponte Alta do Tocantins (TO).
Programa Rede
O intercmbio cultural se d entre educadores, adolescentes, escolas e ONGs da cidade de So Paulo e da Amaznia, em dez municpios. So eles: Castanhal (PA), Ponte Alta do Tocantins (TO), Pacaraima (RR), Barreirinhas (MA), Tef (AM), Uarini (AM), Carauari (AM), Chapada dos Guimares (MT), Santarm (PA) e Ouro Preto do Oeste (RO).
A escalabilidade do impacto desejo da candidata para o mdio prazo
A organizao j foi procurada para compartilhar seus mtodos, por exemplo, em uma ONG em Fortaleza. Segundo a candidata, o maior obstculo que a metodologia, para ter um impacto real relevante, tem de ser trabalhada a longo prazo, o que esbarra na capacidade operacional da equipe. No replicamos nosso trabalho se no tivermos certeza de que ele ser continuado com qualidade e seriedade aps nossa sada, destaca Sylvia.
Esse indicador pode aumentar por meio da parceria com outras organizaes que atuem diretamente em seus eixos temticos e o trabalho com polticas pblicas em escala nacional, em programas do Ministrio da Educao.
Um retrato do empoderamento dos voluntrios da Vaga Lume seu envolvimento com as questes polticas de seus municpios em temticas relacionadas ao trabalho desenvolvido com a organizao. Nas eleies municipais de 2012, sete voluntrios da Vaga Lume foram candidatos a vereador, defendendo a promoo da leitura e da cultura local, o engajamento da populao como voluntrios e a melhoria da qualidade da educao. Dois deles foram eleitos.
Ressalte-se que a Vaga Lume no possui ligao com partidos polticos. Os voluntrios candidataram-se representando partidos com os quais tinham mais afinidade poltica, sem interferncia da organizao.
A estratgia adotada pela Vaga Lume, nas palavras da candidata, o investimento em formao educacional e na valorizao da cultura local na regio amaznica utilizando o livro, a leitura e a oralidade como ferramentas de intercmbio cultural. A formao parte da ideia de que, para as crianas serem cuidadas e atendidas em suas necessidades, preciso cuidar e atender os adultos que as educam.
J o intercmbio cria vnculos (adultos/crianas, escolas/comunidades e adolescentes de diversas regies), oferecendo um espao difuso de colaborao e aprendizado que empodera pessoas para que cuidem do planeta. O ideal embutido nisso que as pessoas possam, a partir de propostas educacionais afetivas, elevar sua autoestima, resultando em autodesenvolvimento.
Esse intercmbio possibilita a ampliao dos horizontes de cada um dos voluntrios que trabalham na ponta ao conhecerem o novo, passam a conhecer melhor a si mesmos e aprendem sobre outras culturas, enquanto ensinam sobre as suas prprias.
A organizao se v como mediadora do processo de mudana que vem sendo implementado na Amaznia Legal brasileira. Mediar, para a Vaga Lume, aprender e educar, construir pontes para o dilogo e dar oportunidade para o protagonismo de pessoas. Ao colocar essas comunidades rurais no centro das transformaes espera, um dia, tornar-se desnecessria.
A candidata desenvolveu mtodo prprio de interveno a partir de trs pilares: teoria, apoio tcnico e empirismo.
Programa Expedio
Est em 163 comunidades rurais de 23 municpios dos nove Estados das regies Norte, Nordeste e Centro-Oeste que compem a Amaznia legal brasileira. Os municpios so Cruzeiro do Sul (AC), Barcelos (AM), Carauari (AM), So Gabriel da Cachoeira (AM), Tef (AM), Uarini (AM), Macap (AP), Barreirinhas (MA), Guimares (MA), Mirinzal (MA), Campinpolis (MT), Chapada dos Guimares (MT), Belm (PA), Breves (PA), Castanhal (PA), Oriximin (PA), Portel (PA), Santarm (PA), Soure (PA), Ouro Preto do Oeste (RO), Caracara (RR), Pacaraima (RR) e Ponte Alta do Tocantins (TO).
Programa Rede
Com forte influncia do pedagogo polons Janusz Korczak, uma rede de educadores, adolescentes, escolas e ONGs da cidade de So Paulo e de escolas de comunidades da Amaznia legal brasileira mediada pela Vaga Lume.
Trata-se de uma iniciativa de Educao para o Desenvolvimento Sustentvel realizada por meio de um intercmbio cultural a partir do tema Ns e nosso meio ambiente, que tem como objetivo geral contribuir para a ampliao do olhar de adolescentes da cidade de So Paulo e de comunidades da Amaznia Legal para a complexidade da realidade brasileira, suas diversas culturas e relaes com o ambiente.
O programa contribui com projetos pedaggicos das instituies participantes ao formar os educadores para que medeiem as oficinas com os adolescentes.
O pblico composto por jovens de 11 a 13 anos, por monitores de 14 a 16 anos de turmas que j participaram do programa e pelos prprios educadores de So Paulo e da Amaznia.
As oficinas so encontros semanais, extracurriculares, organizados pelos educadores nas escolas e instituies parceiras.
Em So Paulo, participam tanto colgios de elite, como o Vera Cruz e o Oswald de Andrade, como ONGs da periferia, como Gotas de Flor com Amor e o Anchieta.
DEPOIMENTOS
MRCIO ROBERTO SOUSA PEREIRA
professor da escola da comunidade Tracajatuba, em Macap (AP), e mediador da Vaga Lume
Quando o projeto veio para a comunidade, por volta de 2009, nosso dficit de leitura era grande. E a quantidade de livros na escola era pequeno. O acervo que veio da Vaga Lume, na primeira vez, j chamava a ateno, as crianas gostaram demais e vieram para a biblioteca. No comeo, a biblioteca funcionava na escola, depois foi para a casa de uma moradora, da Jucirana, mas era aberto, no tinha telhado, e, na poca da chuva, no dava para fazer as mediaes de leitura. Trocamos de novo de lugar, fomos para a sede comunitria, que tambm era usada para reunies e no era um lugar adequado tambm.
Em 2011, conseguimos um recurso de R$ 500 para fazer uma biblioteca na comunidade. S que o dinheiro no era suficiente para construir o espao. Ento convidamos todo mundo para construir a biblioteca. Vrias pessoas colaboraram: tinha gente que doava a pedra para fazer a fundao, outros areia e tinta, teve at gente que doou duas telhas. Quando a gente estava construindo, as pessoas passavam e perguntavam: O que isso? Quem est pagando?. Eu explicava que a biblioteca da comunidade e que todo mundo estava contribuindo, podia ser at com uma pedrinha.
Teve quem pregou duas ou trs tbuas dessa a.
No primeiro ms que abrimos, tivemos mil emprstimos de livros. tarde, por volta das quatro, fica uma sombra imensa aqui na porta. A gente estica as esteiras, espalha os livros e as crianas vm ler.
E a gente leva tambm os livros para outras comunidades, faz mediaes de leitura. A maior parte dos idosos analfabeta, e as crianas leem para eles. A gente pega as caixinhas e umas bolsas e anda por a. Escolhe uma casa para fazer a mediao de leitura.
O mais bonito ver as pessoas chorando. A gente chora junto. Eles mandam todo dia o filho para a escola. Mas, quando o filho chega em casa e est lendo um livro assim, difcil segurar, muito emocionante.
Os livros so uma janela para o mundo. Aqui eles enxergam o mundo.
Frases sobre a empreendedora social e seu trabalho
Aqui uma comunidade que surge pela luta pela terra. Quando a Vaga Lume chega para somar, para valorizar a cultura e a identidade. Na poca, a escola era num
barraco da fazenda. Havia muitas crianas analfabetas. A leitura como transformao social comea a, as crianas comeam a ter acesso aos livros. Hoje, no temos nenhuma criana analfabeta. Elas emprestam o livro e gostam de ler. A Sylvia uma profissional que traz um cunho muito humano, tem um diferencial dia
nte de muitos esquisadores que vm aqui conhecer a comunidade: ela vive a nossa vida e, mesmo longe, est com a gente
SILVIA EMANUELLI SANTOS ALMEIDA, 35,
multiplicadora da Vaga Lume no Assentamento Joo Batista 2, em Castanhal (PA)
Ser mediadora saber se doar para as crianas e os adultos, para a comunidade, na
hora da leitura. Gostando de ler, consigo passar esse gosto para as outras pessoas.
um orgulho grande inaugurar hoje essa biblioteca
ALICE PALMERIM DO VALE, 39,
mediadora da Vaga Lume, atua na comunidade Campina de So Benedito, de Macap
(AP)
Quando conheci essa comunidade [Campina de So Benedito], ela tinha seis casas.
incrvel ver hoje a inaugurao dessa biblioteca. O que a Vaga Lume faz dar um
empurro
ADENOR DE SOUZA, 58,
educador, agricultor e multiplicador e mediador da Vaga Lume na comunidade
Campina de So Benedito, de Macap (AP)
Quando chegou a Vaga Lume aqui, eu tinha uns 11 anos. Eu e as outras crianas
tnhamos pouco acesso a livros de histrias, foi muito bom e comecei a gostar de ler.
Adoro ler as lendas. Virei mediador de leitura em 2009. Hoje, queremos fazer livros
aqui para contar a histria da comunidade e da biblioteca
MARINHO FERREIRA, 20,
estudante de pedagogia e multiplicador e responsvel pela biblioteca da Vaga Lume
na comunidade Campina de So Benedito, de Macap (AP)
A gente j fez muito trabalho com os alunos da Escola Alecrim, de So Paulo.
Mandamos um vdeo mostrando nossa escola e dizendo que aqui tem muitas rvores
e igaraps. Eles tambm mandaram trabalho pra gente mostrando como So Paulo,
eu nunca estive l
MARIA VITRIA AZEVEDO DE LIMA, 11,
a comunidade de Cupiba, de Castanhal (PA), que participa do Programa Rede.
Somos amigas do [colgio] Santa Cruz, onde fizemos o ensino mdio. Foi a Sylvia
quem me levou para setor social, atuei no projeto Anchieta com ela. A gente sempre
compartilhou valores, como um forte senso de justia. Ela foi estudar histria, e eu, direito, acabei atuando na rea de direitos humanos. Ela sempre foi uma lder nata, tima contadora de histria, uma inteligncia e cultura acima da mdia, de puro brilhantismo. muito criativa, d n em pingo dgua. E tambm uma menina muito sensvel e intuitiva, sempre tem insights interessantes sobre as pessoas e o mundo.
Ela extremamente exigente. Tem um o perfil do empreendedor social, assim como
meu pai [Hlio Mattar], que parece querer carregar o mundo nas costas
LAURA DAVIS MATTAR, 35,
coordenadora de desenvolvimento institucional da Associao Vaga Lume