Cuidador da infncia
Persistncia marca a trajetria do mdico que mudou a vida de milhares de crianas carentes com cncer
"Uma coisa a criana morrer porque no h mais nada que se possa fazer. Outra morrer por falta de recursos, porque o remdio muito caro e o SUS [Sistema nico de Sade] ou o hospital no querem pagar."
Partindo desse pensamento, o mdico Antonio Sergio Petrilli decidiu agir.
"' o prmio da educao pblica brasileira', diz vencedora do Empreendedor Social 2012"
"'Queremos uma mudana social', diz vencedor do Empreendedor do Futuro"
E no mediu esforos para que crianas "ricas ou pobres" fossem curadas com qualidade de vida.
Seu olhar diferente, contudo, era inovador demais para a dcada de 1970, quando comeou a trabalhar no Hospital A.C. Camargo. Com pfios 20% de chance de cura, no se investia nas terapias de cncer infantil.
"Alm disso, o tratamento em si era cruel", lembra. "Elas eram colocadas junto aos adultos, a quimioterapia era ministrada em seus bracinhos com as mesmas agulhas grossas e, pior, suas mes no podiam estar com elas. Imagine uma criana de quatro anos enfrentar tudo isso sozinha?"
Inconformado com a dura realidade e vido por novos conhecimentos, Petrilli partiu com sua famlia para Nova York, onde estagiou por um ano no Memorial Sloan-Kettering, referncia na rea.
Aps ter visto o que se podia fazer em termos de tratamento infantil, unindo tecnologia e assistncia, voltou ao Brasil obstinado por um sonho: vislumbrava um lugar onde as crianas no perdessem sua humanidade com um tratamento to invasivo.
Queria que elas ainda brincassem mesmo perdendo seus cabelos; que no parassem de estudar; que no esmorecessem; e, principalmente, que tivessem acesso ao melhor tratamento possvel para seu tipo de cncer, sem que sua condio socioeconmica e social fosse determinante.
Persistente e incansvel, Petrilli contagiou uma legio de pessoas. Eram mdicos, enfermeiros, voluntrios e empresrios que, unidos, fizeram nascer o Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cncer), que, em um sobrado ao lado da Unifesp (Universidade Federal de So Paulo), oferecia assistncia e tratamento ambulatorial a crianas internadas no Hospital So Paulo.
Para ampliar o atendimento, o mdico percebeu que era preciso saber lidar com a poltica dos hospitais e, sobretudo, responder pergunta: quem vai pagar a conta?Visando excelncia, convidou os empresrios-parceiros a participar da gesto do Graacc e fez um curso no Saint Jude Hospital, em Memphis, nos EUA, onde aprendeu a importncia da captao de recursos e do gerenciamento profissional.
EMPURROZINHO
Hoje, Petrilli, 66, diz se orgulhar de ver a instituio, centro de referncia no tratamento do cncer infantil, ocupar um prdio de oito andares -que est em expanso- e atender mais de 300 casos novos por ano.
"Os avanos da medicina proporcionam 70% de chances de cura nos casos tratados adequadamente. E aqui temos todos os mdicos e os equipamentos necessrios para oferec-los."
Entre um sorriso e um respiro profundo de resignao, Petrilli admite que o Graacc no foi s fruto de vontade, conhecimento e mobilizao. "Ns contamos com um empurrozinho sagrado, que vem do cu, das crianas que no conseguimos salvar."
Religioso sem falar em Deus, inquieto, teimoso e lder nato, Petrilli, corintiano roxo, aprendeu desde cedo a desempenhar vrios papis, o que lhe permitiu se comunicar com diversos pblicos.
De pequeno, ajudava o pai, descendente de italianos, no ofcio de colocar pedras ornamentais, e a me, de sangue hngaro, na criao de seus cinco irmos mais novos.
Na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde cursou medicina, era capito do time de futebol, atuava na atltica e organizava passeatas pela democracia.
"Sempre fui brigo e conciliador."
Assista
Conhea mais sobre a Graacc (Grupo de Apoio ao Adolescente e Criana com Cncer)
Segundo o estudo "Estimativa 2012 - Incidncia de Cncer no Brasil", do Inca (Instituto Nacional do Cncer), a incidncia dos tumores peditricos no mundo varia de 1% a 3% do total de casos de cncer, sendo que no Brasil encontra-se prxima de 3%. uma doena considerada rara quando comparada s neoplasias que afetam os adultos. Estimam-se que, em 2012, ocorrero cerca de 11.530 casos novos de cncer em crianas e adolescentes at os 19 anos no pas do total geral previsto de 384.340 casos novos de cncer. Esse nmero relativamente estvel ano a ano.
Em alguns pases em desenvolvimento, onde a populao de crianas chega a 50%, a proporo do cncer infantil representa de 3% a 10% do total de neoplasias. J nos pases desenvolvidos, essa proporo diminui, chegando a cerca de 1%. A mortalidade tambm possui padres diferentes. Enquanto, nos pases desenvolvidos, o bito por neoplasia considerado a segunda causa de morte na infncia, correspondendo a cerca de 4% a 5% (crianas de 1 a 14 anos), em pases em desenvolvimento essa proporo bem menor, cerca de 1%, uma vez que nesses pases as mortes por doenas infecciosas apresentam-se como as principais causas de bito.
As ltimas informaes disponveis indicam que, em 2009, os bitos por neoplasias (proliferao celular anormal) para a faixa etria de 1 a 19 anos estavam entre as dez primeiras causas de morte no Brasil. A partir dos 5 anos, a morte por cncer corresponde primeira causa de morte por doena em meninos e meninas, afirma o Inca. Em geral, a incidncia total de tumores malignos na infncia maior no sexo masculino.
As neoplasias mais frequentes na infncia so as leucemias (glbulos brancos), os tumores do sistema nervoso central e os linfomas (sistema linftico). Tambm acometem crianas o neuroblastoma (tumor de clulas do sistema nervoso perifrico, frequentemente de localizao abdominal), o tumor de Wilms (renal), a retinoblastoma (retina do olho), o tumor germinativo (clulas que vo dar origem s gnadas), o osteossarcoma (sseo) e os sarcomas (partes moles).
Por apresentar caractersticas muito especficas, o cncer que acomete crianas e adolescentes deve ser estudado separadamente daqueles que acometem os adultos. Principalmente no que diz respeito ao comportamento clnico. Esse grupo de neoplasias apresenta, em sua maioria, curtos perodos de latncia, mais agressivo, cresce rapidamente, porm responde melhor ao tratamento e considerado de bom prognstico. Desse modo, as classificaes utilizadas para os tumores peditricos so diferentes das utilizadas para os tumores nos adultos.
Graas aos avanos nos ltimos 40 anos, em torno de 70% das crianas acometidas de cncer podem ser curadas se diagnosticadas precocemente e tratadas em centros especializados. A maioria ter boa qualidade de vida aps o tratamento adequado.
Para o alcance de melhores resultados, conclui o Inca, as aes especficas do setor da sade, como organizao da rede de ateno e desenvolvimento das estratgias de diagnstico e tratamento oportunos, so "fundamentais". No Brasil, um grande nmero de crianas no tem acesso a esse tipo de ateno por ser um tratamento caro e complexo. Muitas crianas no so diagnosticadas precocemente e existem poucos centros especializados em oncologia peditrica no pas.
O Graacc nasce em 1991 "para garantir a crianas e adolescentes com cncer de todo o pas todas as chances de cura, com qualidade de vida, independentemente de sua condio social ou regio de origem".
O candidato, por meio da criao do Graacc em 1991, no pode ser considerado pioneiro em tratamento de referncia de cncer infantil em termos gerais. Sua iniciativa foi inspirada no modelo norte-americano, sobretudo no hospital St. Jude Children"s Research, criado h 50 anos e ainda considerado a principal referncia mundial no tema. No Brasil, destaca-se como iniciativa pioneira o Centro Infantil Boldrini, de Campinas (SP), com mais de 30 anos de existncia.
Entretanto, o empreendedor social apresenta, por intermdio do Graacc, extensa lista de inovaes na forma de tratar o cncer infantil, contribuindo ativamente com mudanas nos protocolos de tratamento, visando diminuir o impacto na vida dos pacientes:
- Em 2008, o Graacc foi pioneiro no mundo ao anunciar um novo procedimento para tratamento de craniofaringioma (cncer cerebral). Com uma bombinha, os mdicos aplicam no tumor um medicamento que mata as clulas cancergenas, reduzindo seu volume em at 97%. A descoberta rendeu ao hospital prmio da International Society for Pediatric Neurosurgery, e o tratamento comeou a ser adotado na Itlia, na Inglaterra e no Canad;
- A unidade de transplante do Graacc se destaca no pas pela capacidade de realizar transplantes em crianas pequenas, inclusive em bebs, apontam os entrevistados; O hospital realiza uma tcnica diferenciada de lavagem das clulas em transplantes de medula ssea com clulas congeladas, reduzindo o potencial txico do procedimento, aumentando a segurana do paciente e as chances de sucesso;
- O Graacc desenvolveu, em parceria com a Unifesp, um novo mtodo no combate ao retinoblastoma (tumor na retina), que consiste na implantao de um cateter na artria ocular para levar os medicamentos quimioterpicos diretamente ao tumor. A tcnica reduz os efeitos colaterais e aumenta as chances de preservar os olhos;
- A organizao se coloca como lder no Brasil em pesquisas e descobertas do tratamento do osteossarcoma (cncer sseo), sobre o qual desenvolve pesquisas, mantm um grupo de estudos com a Unifesp e outros hospitais e participa do Projeto Genoma do Cncer, da Fapesp;
- o nico centro mdico que faz todos os tipos de transplante de medula ssea em crianas;
Outra inovao se d na rea de tratamento ambulatorial das infeces das crianas imunodeprimidas, com possibilidades de oferecer a desospitalizao, com mais qualidade de vida e sucesso do tratamento.
Ainda que inspirada no modelo do hospital St. Jude (EUA) e com congneres no Brasil, como o Centro Infantil Boldrini, a gesto do Graacc pode ser considerada inovadora por primar pela excelncia, tendo desenvolvido um modelo prprio e eficiente de atuao, atestado pelos avaliadores do prmio.
Como bem resume o candidato: "A base dos bons resultados conquistados est na unio equilibrada de trs elementos: conhecimento acadmico, representado pela Universidade Federal de So Paulo; administrao focada em resultados, assegurada pela participao de empresrios; e integrao da sociedade, por meio do apoio financeiro e do trabalho voluntrio".
No h indcios de pontos fracos ou ameaas que coloquem em risco a continuidade do trabalho do Graacc na rea de oncologia peditrica.
A organizao apresenta um histrico de crescimento contnuo ao longo de seus 21 anos de existncia, tendo comeado em uma pequena casa que antecedeu a construo do atual hospital, de 11 andares, e hoje conta com um audacioso projeto de expanso at 2016.
O relacionamento com colaboradores, parceiros, patrocinadores, beneficirios e comunidade aberto e transparente, com atendimentos e/ou prestao de contas por meio de canais como site, e-mail, telefone, newsletters, departamentos de telemarketing, imprensa, recursos humanos e documentos institucionais, como um Relatrio Anual de Atividades de alto nvel.
A organizao apresenta CRM (gesto de relacionamento com clientes e parceiros) de alto nvel e credita parte de seu sucesso a esse diferencial.
O candidato e sua equipe participam ativamente de redes de pesquisa nacionais e internacionais na rea de oncologia peditrica, sobretudo em transplante de medula ssea, neuroblastoma e osteossarcoma.
Contudo, no apresenta insero relevante em redes estruturadas de empreendedores sociais e organizaes do Terceiro Setor.
Atualmente, contam-se no site 121 parceiros, entre empresas de todos os portes, rgos pblicos, instituies de ensino e organizaes do Terceiro Setor. A diversificao e a boa gesto permitem bom nvel de solidez/ fidelidade nas parcerias e diminuem a volatilidade dos apoios. Um exemplo a parceria com o McDonald"s, iniciada em 1993 e presente at hoje.
Oramento anual (2012): R$ 71.589.356
Patrocinadores (por ordem de investimento):
McDonald"s; Editora Mol; Droga Raia; Taveri Participaes; American Express do Brasil; Shopping Eldorado; C&C Casa e Construo; Fundao Orsa; Comexport Com. e Exportao; BioLab; Unio Qumica; Eurofarma; Instituto Ayrton Senna; Metroprom Feiras e Emp.; Sindepark; Novartis; Fumcad (Fundo Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente); Prefeitura de So Paulo (doao do terreno do hospital); Governo do Estado de SP (doao do terreno da Casa de Apoio); Governo Federal (emendas parlamentares); Banco Safra; Banco Bradesco; JHSF; Outros.
O candidato uma das principais referncias no pas no combate ao cncer infantil e lidera uma equipe que participa ativamente em prol do aumento dos ndices de cura de diversos tumores.
Cerca de 90% dos pacientes so encaminhados pelo SUS, 9% so atendidos por convnios, e 1% tem atendimento particular.
Perfil socioeconmico pesquisado pela instituio aponta que (2001 e 2010):
- 60% dos pacientes so do sexo masculino;
- 47% tm de 0 a 5 anos; 38%, de 11 a 20 anos;
- 30% residem na Grande So Paulo;
- 43% dos pais estavam empregados;
- 60% das mes realizavam trabalho domstico;
- 78% das famlias tinham renda familiar de at trs salrios mnimos, sendo que 18% recebem um salrio mnimo;
- 54% dos pacientes estavam matriculados na escola;
- 33% das famlias tinham renda per capita de at R$ 127, e 30%, de R$ 128 a R$ 228.
Segundo registros, em 2011 o Graacc atendeu 2.780 crianas e adolescentes e recebeu 358 casos novos. o maior nmero de novos casos na histria da instituio. Vale ressaltar que o tratamento em geral dura vrios anos, o que explica o nmero acumulativo de atendimentos.
Podem ser considerados dois grupos de beneficirios indiretos da instituio:
- Os familiares da criana atendida;
- Os alunos da Unifesp.
O Graacc opera em regime de hospital-escola da Unifesp, por meio de parceria tcnico-cientfica. Com isso, beneficia pacientes com os resultados das atividades nas reas de ensino, pesquisa e extenso, enquanto forma mestres e doutores e dissemina tratamento de qualidade e conhecimento avanado em oncologia peditrica para outras regies do pas.
A sede do Graacc se localiza na Vila Mariana, bairro da zona sul de So Paulo, onde se concentra todo o atendimento realizado.
Em 2011, recebeu pacientes das cinco regies do pas, de 19 Estados: Acre, Alagoas, Amazonas, Bahia, Cear, Esprito Santo, Gois, Maranho, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paran, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondnia, Roraima, Santa Catarina e So Paulo. Crianas de pases vizinhos na Amrica do Sul estavam em fase de tratamento durante a visita de avaliao, em julho de 2012.
A localizao foi escolhida por convenincia (local de moradia e vivncia profissional do empreendedor social), onde est o campus da Unifesp.
De 2000 a 2010, alm de So Paulo, o Graacc registra atendimento a pacientes dos mesmos 18 Estados acima listados e dos seguintes pases: Bolvia, Paraguai, Repblica Dominicana, Uruguai e Venezuela.
Pela natureza do trabalho, um hospital de alta complexidade, a replicao do trabalho de forma integral no acontece em escala.
A disseminao do diagnstico precoce da doena ocorre com palestras para a sociedade e divulgao em aes e meios de comunicao.
O efeito multiplicador se d tambm com o ensino na disciplina de pediatria da Unifesp. O hospital forma novos profissionais especializados em oncologia peditrica constantemente. A maioria deles de fora de So Paulo e, segundo o candidato, muitos voltam s suas localidades de origem, onde disseminam os conhecimentos e tcnicas aprendidos no Graacc.
Como um hospital-escola, o Graacc participa ativamente de redes de pesquisa cientfica ligadas oncologia peditrica, com as quais compartilha as descobertas realizadas, sobretudo por meio de artigos e publicaes acadmicas. Interage com frequncia com instituies congneres, como o Inca (Instituto Nacional do Cncer) e o Instituto Boldrini. Tem parceria com a Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein, de So Paulo, que se inspirou no Graacc para a criao de sua quimioteca.
A organizao mantm manuais operacionais com as normas e os procedimentos tcnicos. Sistematiza o conhecimento cientfico por meio de publicaes acadmicas.
Trs projetos desenvolvidos pelo Graacc influenciaram diretamente polticas pblicas ou outros hospitais peditricos no pas, segundo o finalista.
Inspirada na brinquedoteca, a lei 11.104/2005, da ento deputada federal Luiza Erundina, tornou obrigatria a instalao de brinquedotecas em hospitais pblicos e privados com unidades peditricas no Brasil.
Tanto a brinquedoteca quanto a quimioteca foram adotadas por outros hospitais pblicos, entre os quais o HSE (Hospital dos Servidores do Estado/RJ) e o Instituto Boldrini (SP).
J o Escola Mvel, cuja metodologia ganhou corpo dentro do Graacc, foi reconhecido pelo Ministrio da Educao, porm ainda no se tornou poltica pblica, a despeito do alto potencial que apresenta.
O candidato at o momento no foi responsvel direto pela criao de leis, tampouco foi responsvel direto pela criao de programas de governo em quaisquer esferas pblicas.
A instituio mantm parcerias pblicas de diversas maneiras, seja por convnios com municpios e Estados para a realizao e prestao de atendimentos/procedimentos mdicos, seja por aportes financeiros destinados pelo SUS, por doaes (como o terreno cedido pela Prefeitura de So Paulo) ou por emendas parlamentares.
O candidato eleva o nvel dos servios prestados pelo poder pblico por meio do atendimento via SUS das crianas e dos adolescentes com cncer. Diversos hospitais pblicos -entre eles o prprio Inca (Instituto Nacional do Cncer), do Rio- encaminham casos de alta complexidade para o Graacc.
1) Tratamento integral e humano
O Graacc trabalha com um sistema de "catraca livre", em que todos os pacientes que chegam ao hospital so atendidos.
Na viso do candidato, o tratamento do cncer infantil envolve a totalidade e a singularidade de cada criana. O atendimento segue o conceito de "resgate da cidadania", em que se criam condies para o paciente ser tratado como merece, com uma ao personalizada e humanizada. Os aspectos materiais, sociais e espirituais do paciente e de sua famlia como condio vital para a cura so considerados em todo o processo.
A participao de equipes multidisciplinares amplia o tratamento, envolvendo simultaneamente atividades de pesquisa, ensino, extenso, terapias de apoio, de reabilitao e de servio social. O Graacc destaca nesse processo o papel da enfermagem, de forma a permitir que o paciente passe pelo tratamento com o menor nvel de estresse e sequelas possvel.
2) Pesquisa
O Graacc desenvolveu mtodo prprio de atendimento baseado nas caractersticas de um hospital-dia, com tratamento ambulatorial que visa mostrar que "o cncer vai alm do tumor". Uma de suas filosofias atuar "no limite do conhecimento cientfico", oferecendo a seus pacientes reais chances de cura. Essa preocupao com a pesquisa, aponta o empreendedor social, a razo das taxas de sobrevida de cerca de 70%, iguais s de grandes centros de referncia dos EUA, da Europa e do Japo.
3) Modelo tripartite
a) com a Unifesp
Desde 1998, o Instituto de Oncologia Peditrica (IOP/Graacc/Unifesp) corresponde ao setor de Oncologia Peditrica da Unifesp, vinculado ao Departamento de Pediatria.
A parceria assegura ao Graacc suporte tcnico e cientfico. Tambm impulsiona a criao de conhecimento e a qualidade da assistncia integrada multidisciplinar e das pesquisas genticas, clnicas, cirrgicas e biolgicas sobre o cncer infantil. Colabora, assim, para criar novos protocolos teraputicos e elevar os ndices de cura.
Para os alunos da Unifesp, o trabalho conjunto proporciona a experincia prtica no hospital, aperfeioando a qualificao dos novos profissionais, que ajudaro a difundir tanto as tcnicas de preveno e tratamento do cncer infantil em todo o pas como as noes do diagnstico precoce. A universidade em si ganha com a agilidade nos processos operacionais.
b) Gesto empresarial
A participao da iniciativa privada, por meio dos executivos voluntrios que atuam na administrao, confere ao Graacc um carter empreendedor e assegura a aplicao de boas prticas de gesto. Definio de metas e estratgias de atuao, monitoramento dos avanos e controle de oramento fazem parte do dia a dia da instituio. Profissionais de sade e do Terceiro Setor tambm participam da tomada de decises, colaborando para enriquecer, com diferentes vises, a atuao da instituio.
c) Sociedade civil
O engajamento da sociedade na gesto refora o foco na humanizao do tratamento, por meio do trabalho e do envolvimento dos voluntrios, que tornam o tratamento acessvel a qualquer criana, independentemente de sua condio econmica e social.
As contribuies financeiras de pessoas doadoras asseguram recursos essenciais ao funcionamento do hospital, permitindo a manuteno da qualidade e a ampliao dos atendimentos. A maioria dos hospitais que atende crianas do SUS no consegue faz-lo de forma adequada pelo dficit financeiro. O Graacc utiliza o benefcio de ser uma entidade filantrpica bem administrada para buscar recursos nos diferentes setores da sociedade e, assim, manter a sustentabilidade da organizao, mesmo atendendo 90% de dficit do SUS.
1) Escola Mvel
Projeto reconhecido pelo Ministrio da Educao, em que alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Mdio frequentam, no prprio Graacc, aulas ministradas por professores das diferentes licenciaturas. A abordagem segue as indicaes curriculares das escolas de origem dos pacientes, em uma releitura para o momento escolar que o aluno vive. A Escola Mvel ministra cerca de 8.000 aulas por ano, para aproximadamente 500 crianas e adolescentes, incluindo preparao para vestibulares e concursos pblicos.
Os professores participam de um processo de especializao em atendimento escolar hospitalar, recebendo 30 horas semanais de atividades (20 horas em atendimento escolar hospitalar e 10 horas em formao nas reas de educao e sade). O curso de dois anos e forma professores para atuarem em outros hospitais peditricos.
2) Espaos humanizados: Quimioteca e Brinquedoteca
A Quimioteca um ambulatrio onde desde 2004 crianas e adolescentes recebem a quimioterapia, que corresponde etapa mais difcil do tratamento do cncer infanto-juvenil. So atividades ldicas, a fim de conseguir um comportamento mais receptivo ao tratamento e contribuir com a melhora da qualidade de vida nessa etapa. As atividades da Quimioteca so planejadas e orientadas por uma ludotecria, auxiliada por voluntrios. So atendidas, em mdia, cerca de 70 crianas por dia, somando-se as que fazem quimioterapia, outros tratamentos complementares e transfuses.
Construda em 1998 com recursos do Instituto Ayrton Senna, a Brinquedoteca um ambiente decorado de forma ldica, onde as crianas participam de atividades multidisciplinares e tm disposio centenas de brinquedos. Familiares e acompanhantes contam com oficinas e orientao pedaggica. Em mdia, 124 pacientes utilizam o local diariamente, enquanto aguardam consultas ou procedimentos mdicos.
3) Oficina das Mes
Tem como objetivo proporcionar novas oportunidades de desenvolvimento pessoal e insero social atravs do trabalho manual. Oferece noes bsicas de costura, bordado e outras formas de artesanato. So atividades que ampliam o repertrio, reforando os valores e o saber da cultura de origem. sobretudo um momento de socializao, troca de experincias e vivncias.
4) Casa Ronald McDonald
A instituio mantm a Casa Ronald McDonald So Paulo, inaugurada em 2007 em parceria com o Instituto Ronald McDonald, para hospedar pacientes de fora de So Paulo e oferecer s crianas a oportunidade de concluir o tratamento com mais conforto e segurana.
Em um terreno de 1.500 m doado pelo Governo do Estado de So Paulo, a casa tem 30 sutes para as crianas e seus responsveis. As instalaes atendem cerca de 60 pessoas diariamente e contam com brinquedoteca, sala com televiso e videogames, computador com internet, biblioteca, adoleteca, cozinha e lavanderia. A renda obtida com o McDia Feliz contribuiu, em 2011, com 50% dos custos de manuteno da casa.
DEPOIMENTOS
"Fiz residncia no AC Camargo e o dr. Petrilli era um dos meus chefes. Naquela poca, ele j se distinguia dos outros porque "perdia seu tempo" em nos ensinar tudo. Ento, na hora do almoo, ele dava aulas de pediatria, de procedimentos de oncologia, de atendimento criana, tudo o que voc poderia imaginar. Mas, ao mesmo tempo, ele tambm nos fazia chorar de tanta cobrana. Nunca aceitava "no" como resposta. Se, por exemplo, no havia plaquetas para fazer uma transfuso, ele simplesmente no aceitava. Dizia: "voc j ligou para o Departamento de Estado, para a Presidncia da Repblica? Voc vai conseguir essas plaquetas".NAJLA SABA, 58, mdica e companheira de equipe
"As negociaes com o Petrilli no so fceis. Alm de ele ter uma viso tcnica muito boa e saber convencer todo mundo da necessidade de investimento para a compra de um remdio muito caro ou um equipamento, por exemplo, ele um timo gestor. Por isso, temos que dar o nosso melhor como empresrios para mostrar que a nossa viso tambm tem seus fundamentos. Afinal, os objetivos aparentemente distintos -o nosso o crescimento do Graacc enquanto instituio e o dele o tratamento com tecnologia de ponta- so os mesmos, que a cura da criana com cncer e a melhoria de sua qualidade de vida."
SRGIO AMOROSO, 58, presidente do Conselho de Administrao e da Diretoria do Graacc e presidente do Presidente do Grupo Orsa
"Eu tinha muito interesse em saber o que que meu pai fazia. Na poca da casinha eram menos casos e o envolvimento pessoal acabava sendo maior, algumas crianas faziam mesmo parte da nossa famlia, iam a churrascos em casa. Com a gente, ele sempre foi bastante rgido e exigia que dssemos o nosso melhor. Eu me lembro de uma vez, quando era adolescente e estava no 1 colegial, em que disse para ele que eu ia repetir de ano j que estava adiantada. E ele disse que no toleraria preguia, mas que no tinha problema nenhum em ter uma filha burra. A, eu fiquei bem brava e passei de ano com notas muito altas."
RENATA PETRILLI, 37, chefe do departamento de psicologia do Graacc e filha de Petrilli
"Precisamos do doador para viabilizar o direito da criana de ter acesso a todos os recursos que existem para ter o tratamento mais eficaz e eficiente. Porque a gente sabe que no suficiente curar o cncer. preciso curar o cncer e devolver sociedade um paciente ntegro, que seja ativo. No posso devolver um paciente que ficou to traumatizado que vai ser um adulto incapacitado por questes psicolgicas, inseguro ou que no vai conseguir exercer uma atividade. E a gente via muito isso no passado, pacientes que no constituram famlia porque no conseguiram afugentar seus fantasmas. Vimos tantas famlias que se desfizeram durante o tratamento. Na poca, no tnhamos o conhecimento de entender que o cncer vai alm do tumor. Porque voc outra pessoa depois de conviver com essa experincia que avassaladora."
CARLA DIAS, 51, gerente de enfermagem do Graacc
"Ele obstinado e apaixonado pela causa. Quantas vezes, antes de viajarmos, ele passou pela casinha e ficou l conversando com cada um dos pacientes, com os mdicos, querendo saber tudo o que tinha acontecido na noite anterior. E eu ficava com as crianas no carro, dava uma volta com elas, inventava brincadeiras e tomvamos lanche porque a gente nunca sabia o quanto ele ia demorar l."
HELOISA PETRILLI, 65, mulher do empreendedor
"Sou amiga dele h uns 40 anos. Ele sempre foi o pediatra dos meus sete netos e vai nascer uma bisneta que tenho certeza que vai para o Petrilli. Ele fora de srie. Uma pessoa maravilhosa, transparente, e tem uma fora fantstica. No esmorece de jeito nenhum. A dedicao que ele tem com as crianas impressionante porque, alm de mdico, ele amigo, carinhoso, explica tudo para elas. Ele no esconde nada e passa uma confiana incrvel."
LA DELLA CASA MINGIONE, 80, uma das fundadoras do Graacc e presidente da Casa Ronald McDonald de So Paulo
80, uma das fundadoras do Graacc e presidente da Casa Ronald McDonald de So Paulo
ROSANA FIORINO PUCCINI, chefe de pediatria da Unifesp
"Eu tive um problema particular, meu filho teve cncer infantil e hoje um homem curado, e por isso conheci o dr. Petrilli. Com o tempo, ficamos amigos e ele me falou do Graacc e de tudo o que a instituio representava para as crianas com poucas condies socioeconmicas. Posso dizer que ele sabe convencer as pessoas a colaborar e a participar dessa causa, a vestir a camisa e no a tirar mais."
FERNANDO DE CASTRO MARQUES, 58, vice-presidente da Diretoria e membro do Conselho de Administrao do Graacc e presidente da Unio Qumica