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11/02/2013 - 04h38

"Precisei ficar 'presa' no hospital para parar de comer", conta dona de casa internada

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CLÁUDIA COLLUCCI
DE SÃO PAULO

Em 15 anos, Tânia Brito Caetano, 1,55 m, ganhou 120 kg. Ela pesava 63 kg aos 14 anos, quando engravidou da primeira filha. Ao final da gestação, atingiu os 100 kg e não parou mais.

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Em novembro, aos 29 anos e 183 kg, foi internada em Suzano para se preparar para a cirurgia bariátrica. Ela já perdeu 20 kg. A seguir, trechos do seu depoimento.

*

"Já era gordinha desde criança, mas, depois que a Thainá [primeira filha] nasceu, fui parar em 100 kg.

Karime Xavier/Folhapress
Tânia Brito Caetano, 29, internada em Suzano; em três meses, ela perdeu 20 dos 183 kg que pesava no início
Tânia Brito Caetano, 29, internada em Suzano; em três meses, ela perdeu vinte dos 183 quilos que pesava

Aos 16 anos, tive minha segunda filha, a Taís, e fui para uns 130 kg. Com 22 anos, tive a Maria Eduarda e fui para 163 kg. Os médicos tiveram que prender a gordura para fazer a cesárea. Depois da gestação, ganhei mais 20 kg.

Uma funcionária da Secretaria da Saúde de Cotia me encaminhou para o HC. Comecei a frequentar as reuniões dos obesos, mas não seguia a dieta, só cortei o guaraná. Também não tomava o remédio. Estava largada.

Lavava as roupas e as louças sentada, tomava banho sentada, tinha uma cadeira que me acompanhava pelos cômodos da casa.

Colocava tudo perto de mim para não ter que andar. A pia perto do fogão, a TV perto do sofá. Em vez de eu mudar, passei a mudar a casa para mim.

Moro num sobrado e, para subir para os quartos, tinha que ir sentando nos degraus da escada. Quando chegava lá em cima, estava sem ar.

Não participava das reuniões da escola das minhas filhas. Tinha vergonha porque não conseguia sentar nas carteiras. Os coleguinhas delas faziam piada: 'Sua mãe é tão gorda que dá para jogar os peitos atrás das costas'.

Não saía. Não passo na catraca do ônibus desde a segunda gravidez. Já fiquei entalada. Ônibus cheio, todo mundo olhando.

Tinha muita vergonha de mim. Do jeito que eu acordava, eu ficava. Não me arrumava. Só tomava banho à noite, quando todos já estavam dormindo. Meus pés estavam inchados e rachados. Tinha assadura por todo o corpo.

Meus filhos [além das três filhas, ela cuida de dois meninos, de quatro e sete anos, que considera filhos] tinham medo de que eu morresse e eu estava morrendo aos poucos [começa a chorar].

Eu só sabia cozinhar para eles. Era meu jeito de agradar. Há uns 15 dias, eles vieram me visitar e pude brincar de bola. Nunca tinha jogado bola com eles. Eles adoraram, me abraçaram.

As coisas começaram a mudar só com a internação. O primeiro café da manhã aqui me deu medo. Era mamão, uma 'metadinha' de pão com margarina e café com leite sem açúcar. Em casa, comia quatro pães com ovo ou linguiça, além da manteiga, e uma garrafa de café.

No almoço, veio salada de alface, frango grelhado e um tiquinho de arroz que cabia numa forminha de empada. Em casa, comia quatro conchas de arroz, pernil, torresmo. Não comia frutas nem verdura, não bebia suco.

Com a dieta, em três dias perdi 2 kg. Sempre reclamo que é pouca comida, mas fui ficando feliz a cada quilo perdido. Em três meses, perdi 20 kg, mas tenho que perder mais uns 20 kg para fazer a cirurgia. Já consigo tomar banho em pé. Você não faz ideia de como é bom.

Estava me matando. Precisei ficar 'presa' no hospital para parar de comer. Um dia vou sair daqui e comer uma coxinha. Mas vai ser uma e não quatro ou cinco.

Meu primeiro sonho depois da cirurgia é colocar um tênis. Há mais de dez anos não uso tênis, só chinelo. Outro sonho é cruzar as pernas. Quando sair daqui, vou ser uma nova mulher, uma nova mãe, uma nova esposa.

Tinha pavor de me olhar no espelho. Agora, arrumo o cabelo, me maquio. Fiz até um 'Face' [perfil no Facebook]."

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