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04/03/2013 - 13h21

Cientistas pedem cautela com bebê supostamente curado por HIV

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DE SÃO PAULO

Apesar de ter recebido com entusiasmo a notícia de que médicos americanos teriam conseguido curar um bebê infectado pelo HIV, cientistas de todo o mundo estão pedindo cautela antes de comemorar os resultados.

O trabalho ainda não foi publicado em nenhuma revista especializada e não passou pela chamada revisão por pares, quando os dados de um estudos são esmiuçados por cientistas independentes.

No Brasil, os cientistas também pedem detalhes mais aprofundados sobre o caso.

"Se esse resultado for confirmado, vai ser realmente uma coisa incrível. Mas ainda é cedo para tirar qualquer conclusão. Só o tempo é que vai dizer, com essa criança vai reagir, se ela vai ficar indefinidamente sem manifestação laboratorial e clínica do HIV", avalia o infectologista Caio Rosenthal, do Hospital Emílio Ribas.

"O problema é que a gente não tem um segmento a longo prazo do caso", completa o médico.

A CURA
Médicos americanos disseram, neste domingo, que conseguiram pela primeira vez curar um bebê com HIV.

O trabalho será apresentado nesta segunda-feira em um congresso especializado em Atlanta, nos EUA, mas os detalhes foram antecipados ao "New York Times".

A criança, que nasceu em uma zona rural do Mississippi, foi tratada com remédios antirretrovirais 30 horas de seu nascimento, um procedimento que não é o normalmente adotado nesses casos.

Reuters
A médica Deborah Persaud, virologista do Centro Infantil Johns Hopkins, que diz ter curado bebê com HIV
A médica Deborah Persaud, virologista do Centro Infantil Johns Hopkins, que diz ter curado bebê com HIV

A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda o tratamento com o AZT, uma droga antirretroviral de uso consagrado no coquetel de combate ao vírus.

A criança, que tem agora com dois anos e meio, está cerca de há um ano sem tomar medicamentos e não apresenta sinais do vírus.

Se estudos futuros comprovarem o resultado e indicarem que o método funciona com outros bebês, o tratamento de recém-nascidos infectados em todo o mundo deve mudar, dizem especialistas.

De acordo com a Organização das Nações Unidas, há mais de 3 milhões de crianças vivendo com vírus da Aids.

MÃE DESCONHECIA DOENÇA

Quando chegou a um hospital na zona rural, em 2010, a mãe da criança já estava em trabalho de parto. Ela deu à luz prematuramente.

Como a mãe não havia feito nenhum exame pré-natal, ela não sabia que era portadora do HIV. Quando um exame mostrou que ela estava infectada, o hospital transferiu a criança para o Centro Médico da Universidade do Mississippi, onde chegou com cerca de 30 horas de vida.

A médica responsável pelo caso, em entrevista ao "New York Times", disse que solicitou duas amostras de sangue com uma hora de intervalo para testar a presença o HIV no RNA e no DNA do bebê.

Os exames identificaram 20 mil cópias do vírus por milímetro de sangue, índice baixo para bebês.

Sem esperar os exames que confirmariam a infecção, a médica deu à criança três drogas usadas para tratamento, e não para a profilaxia. Com esse tratamento, os níveis do vírus diminuíram rapidamente, e ficaram indetectáveis quando o bebê completou um mês de vida.

Foi assim foi até que a criança completasse 18 meses, quando a mãe parou de levá-la ao hospital.

Quando elas retornaram, os testes deram negativo. Suspeitando de erro nos exames, ela pediu mais testes.

"Foi uma surpresa", disse a pediatra Hanna Gay.

Uma quantidade praticamente desprezível de material genético viral foi encontrado, mas sem vírus que pudesse se replicar. Por isso, segundo o grupo, foi uma cura funcional da infecção.

Após do início do tratamento, os níveis do vírus no sangue do bebê foram reduzidos em um padrão de pacientes infectados.

Mais testes ainda são necessários para verificar se o tratamento teria o mesmo efeito em outras crianças, mas os responsáveis pelo caso já comemoram.

Em todo caso, os pesquisadores não acreditam que o tratamento poderia ser usado em adultos.

AMERICANO JÁ SE CUROU

O americano Timothy Brown, que acabou ficando conhecido como "o paciente de Berlim", é considerado o primeiro caso de cura do HIV.

O método usado, no entanto, foi completamente diferente, o que ficou conhecido como cura por esterilização.

Soropositivo, ele tomava o coquetel contra o HIV quando foi diagnosticado com leucemia.

Ele passou por uma agressiva quimioterapia que "matou" sua medula antiga. No lugar, ele recebeu um um transplante com células-tronco de um doador com uma mutação genética que o tornava naturalmente resistente à contaminação pelo HIV.

Depois da cirurgia, realizada na capital alemã, o vírus não voltou a se replicar.

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