Governo americano alerta sobre mau uso do sling
Eles são populares e estão na moda, com o aval das celebridades hollywoodianas. Mas, dependendo da forma como são usados, os slings, feitos para carregar o bebê "amarrado" ao corpo da mãe, podem ser perigosos e até matar a criança.
O aviso foi divulgado no último dia 12 por uma comissão do governo americano (Consumer Product Safety Commission) e causou polêmica na internet, entre mães e médicos favoráveis ao contato próximo com o bebê e órgãos contrários à comercialização do produto.
Segundo o alerta americano, os pais e responsáveis devem tomar especial cuidado ao carregar bebês com menos de quatro meses nos slings, que podem causar sufocamento.
Rodrigo Capote/Folha Imagem |
Tatiana Tardioli, 33, usa o sling desde a 1ª semana de vida da filha, Nina Ferri, 2, e dá aulas de dança para mães que usam o acessório |
A comissão diz ter identificado 14 mortes, nas últimas duas décadas, associadas ao produto -três delas aconteceram em 2009 e 12 envolveram menores de quatro meses. No Brasil, não há registro de ocorrências desse tipo, segundo o Ministério da Saúde.
"Nos primeiros meses, os bebês não controlam a cabeça pela fraqueza dos músculos do pescoço. O tecido pode apertar o nariz ou a boca do bebê, bloqueando sua respiração e sufocando-o em um minuto ou dois. O sling mantém a criança em uma posição curva, dobrando o queixo em direção ao peito, e as vias aéreas podem ficar comprometidas. O bebê não conseguirá chorar por socorro", diz o alerta americano.
Brasil
Não há regulamentação para o acessório no Brasil, de acordo com o Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normatização e Qualidade Industrial).
Para Renata Waksman, presidente do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria, além do risco de asfixia e sufocação, há risco de fraturas e quedas quando o sling é mal utilizado. "Mas, bem utilizado, é bom, pois permite mais aconchego e libera a mãe para algumas tarefas", diz ela.
Segundo Waksman, devem ser observados alguns cuidados: escolher um produto com tecido macio e confortável, porém resistente, com largura suficiente para acomodar o bebê e laterais elevadas. Bebês com menos de um mês não devem ser transportados no sling, e os pais devem perceber se a criança está grande ou ativa demais para usar o produto.
A agência americana pediu cuidado extra aos pais de crianças prematuras, com peso baixo ou problemas respiratórios e recomendou que a cabeça do bebê fique sempre visível.
O governo canadense endossou as preocupações dos EUA e divulgou comunicado em que recomenda ainda cuidado para que o bebê não vá ao chão pelos buracos do sling ou quando quem o carrega tropeça ou cai.
A associação americana de fabricantes de produtos juvenis foi mais uma a apoiar as preocupações do governo, em comunicado da semana passada.
A associação (JPMA) não reconhece slings e certifica apenas os "soft infant carriers", espécie de mochila em que o bebê fica sentado e ligado à mãe por duas alças. O órgão não vetou o uso do produto, mas repetiu as recomendações do governo.
Para o médico Mike Gittleman, membro da Injury Free Coalition, programa de prevenção ligado à Universidade Columbia, os slings "são ótimos, permitem ao bebê se sentir mais perto da mãe, ouvir o seu coração". "No mundo da prevenção, não dá para dizer "livre-se de tudo, isso é ruim". Em geral, o sling é bom", diz.
Para ele, o importante é que a família se certifique de que a criança não faz parte do grupo de risco -bebês prematuros, com peso baixo ou problemas respiratórios.
Benefícios
A bailarina Tatiana Tardioli, 33, usa o sling desde a primeira semana de vida da filha, Nina Ferri, de dois anos, e dá aulas de dança para mães com bebês carregados por slings.
Para ela, o acessório é um aliado. "O risco está em marcas não confiáveis, feitas com qualquer tipo de costura e de argola. Já ouvi falar de gente que fez sling com argola de cortina, um absurdo. Deveria haver no Brasil uma espécie de controle, um selo que garanta a qualidade do produto", defende.
A designer de acessórios Maria Carolina Rodrigues, 32, concorda. É adepta do produto há dois meses, para carregar a filha, Maria Toledo Rodrigues, de seis.
"Ganhei um sling quando ela tinha duas semanas, mas achei difícil de usar. Não conhecia ninguém que usava e não tinha nenhuma orientação. No quarto mês, comecei a experimentar mais e percebi que, se a mãe se adapta, o bebê se adapta", conta.
Para ela, o mais importante é manter o bebê confortável e usar o bom senso, para não cansá-lo. "Não uso por mais de duas horas. Como mãe, não vejo problema se você é atenta e cuidadosa. Há coisas mais perigosas, como a cômoda [com trocador]: qualquer pediatra conhece casos de nenês que rolaram e caíram."
Com JULLIANE SILVEIRA, da Folha de S.Paulo
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